Semana de 17 a 23 de maio de 2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
É mesmo de causar desânimo. Quando
retomamos o assunto, na análise seguinte, quase dá para copiar a anterior
carregando nas tintas. A demência do governo é crescente. Bolsonaro continua em
plena campanha eleitoral, promovendo passeios, desfiles e concentrações, com o
dinheiro da nação provocando aglomerações de pessoas sem máscara e
desmoralizando as determinações de seu próprio Ministério da Saúde. Leva sempre
nas suas aventuras alguns ministros, principalmente os da segurança ou
militares. Sente a necessidade de mostrar que tem apoio armado para suas
pretensões golpistas. O passado fim de semana foi um deprimente espetáculo.
Cercado por uma matilha de seguidores motoqueiros ele desfilou pelas praias do
Rio de Janeiro terminando com um comício. Excitado pelos seguidores ele vomitou
mais uma de suas bravatas golpistas e ataques às instituições e à democracia.
Ele não governa. Passeia em campanha, cercado por um batalhão de seguranças
sempre provocando aglomerações. No palanque, desta vez estava o general Pazuello,
ex-ministro da Saúde, que, com isto, afrontou e desafiou as normas do Exército.
Até parece uma provocação proposital.
Durante a semana continuaram a decorrer as
seções da CPI da covid criando situações cada vez mais constrangedoras para o
governo. Ninguém quer assumir a culpa pela falta de vacinas, pela recomendação
do tratamento precoce com cloroquina e pelo colapso de Manaus. O esforço é
muito grande para blindar o presidente.
Enquanto a CPI trabalha a destruição do
país continua. Desta vez mais uma pequena surpresa: a ação da Polícia Federal
contra o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. Por decisão do ministro do STF,
Alexandre de Moraes, a PF bateu à porta do Salles e seu bando afastando 9
funcionários do comando do Ibama incluindo seu presidente Eduardo Bim, sob a
acusação de envolvimento no contrabando de madeira para os EUA. Mais um caso de
corrupção. O escândalo disputou os holofotes com a CPI.
Com toda esta agitação sobrou pouco espaço
para a economia
Embora lentamente, a União Europeia se
recupera. Flexibiliza-se o isolamento social e a reabertura para o turismo
começou. A Unctad prevê o crescimento do comércio mundial em 16%. A nova ameaça
vem da Ásia com a propagação do coronavirus que se espalha por vários países
como Indonésia, Filipinas, Malásia, Coreia do Sul, Tailândia e Vietnã. A
situação do Japão também é delicada. No primeiro trimestre a economia caiu
1,3%, uma taxa anualizada de -5,1%. A vacinação tem sido muto lenta e o número
de infetados elevou-se provocando medidas emergenciais de isolamento social.
Temeroso, o Federal Reserve (Fed.), Banco Central dos EUA, mantem as taxas de
juros e os estímulos à economia. O mesmo ocorre com o Banco Central Europeu
(BCE) e com o Banco da Inglaterra. Há recuperação, mas lenta e os países estão
cautelosos.
Por cá, as coisas estão ainda mais
duvidosas. Vivemos na ameaça iminente de uma terceira onda com o número de mortes
ultrapassando os 450 mil. Há estimativas de 1 milhão até o final do ano se a
vacinação continuar no ritmo atual. O desemprego persiste. O emprego formal
decresceu -0,45%, o rendimento dos trabalhadores caiu -2,4% e o trabalho
informal se arrasta pelo medo das pessoas e pelas restrições impostas à
circulação e as atividades, principalmente no setor de serviços. Quem relaxa
paga um alto preço em mortes, fato provado pelas estatísticas nos municípios
que tiveram alta votação em Bolsonaro e que seguem suas orientações.
Os bancos continuam a obter altos lucros e
os militares se locupletam desmoralizando as forças armadas. Só na Saúde o
número de militares cresceu 94,55% entre 2016 e 2020. Segundo o TCU há 6.157
fardados em cargos civis, 108% a mais que em 2016. A demonstração da
competência da farda na gestão da coisa pública não tem sido das melhores.
Pazuello na saúde = 450.000 mortos; general Heleno no GSI = cocaína no avião da
comitiva presidencial; aumento das queimadas na Amazônia = general Hamilton Mourão
no comando. Isso para não falar no próprio presidente, um desastre.
Para concluir, enquanto aguardamos o golpe do Bolsonaro, a estagflação continua firme, tratada com cloroquina pelo BC, e as estimativas para o PIB continuam a girar entre 3% e 4,5%.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.