quinta-feira, 6 de maio de 2021

A conta precisa ser cobrada...

Semana de 26 de abril a 02 de maio de 2021

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Começou a CPI da Covid-19. As primeiras notícias mostram que o Presidente Jair Bolsonaro, de fato, foi apresentado a um relatório que dimensionava o tamanho da pandemia. O cenário previsto, contudo, era bem menos trágico do que o vivido hoje no Brasil. Talvez porque o então Ministro da Saúde, Henrique Mandetta, botasse fé na adoção de alguma medida decente pelo governo. Agora vemos que isso não aconteceu.

Semana passada atingimos a inacreditável marca de 400 mil mortos (número inestimável mesmo para os mais pessimistas no início da pandemia). Enquanto isso, patinamos na vacinação. Segundo reportagem do Valor Econômico, estão comprometidas 200 milhões de doses de vacina pelos mais diversos motivos: desde a desconfiança na qualidade do imunizante (caso da Sputnik V) à incapacidade do alto escalão do Governo de manter a língua dentro da boca e de parar de implicar com a China (caso da Coronavac). Mesmo os números de vacinados por dia parecendo altos, ele está aquém do que o nosso SUS é capaz de fazer. Isto, obviamente, é resultado da péssima gestão da crise. Para além de não aproveitar as ofertas de vacinas no ano passado, o governo brasileiro se opôs à quebra de patentes das vacinas contra Covid-19. A disputa está na OMC e se dá entre países avançados e países atrasados. Mas, essa posição do governo Bolsonaro se repete internamente.

O Senado aprovou um projeto que permitirá a quebra momentânea das patentes de alguns medicamentos, vacinas e exames ligados à Covid-19. No texto está previsto o estabelecimento de acordos com as empresas proprietárias da patente, de forma que elas sejam remuneradas de alguma forma. Mesmo no caso onde não haja acordo e a quebra seja compulsória (unilateral pelo Brasil), mesmo assim a empresa seria ressarcida. Pois bem, a liderança do governo no Senado foi contra. O projeto foi aprovado com 55 votos a favor e 19 contrários. Agora ele segue para a Câmara dos Deputados.

Essa atitude do Governo Federal perante o novo coronavírus, claro, piora uma situação que já é crítica. Segundo uma pesquisa da consultoria IDados, a pandemia elevou para cerca de 30% o total de jovens entre 15 e 29 anos que nem estudam e nem trabalham os chamados “nem-nem”, em 2020. No fim do ano, pelos dados da PNAD Contínua, o percentual fechou em 25,5%. Em 2014 esse número era de 20,8%. Para piorar, apesar das mortes continuarem sendo maiores na faixa etária acima de 60 anos, cresceu 224% o número de mortes de jovens entre 20 e 39 anos, no período entre fevereiro e março.

Outra coisa que não colabora é a pífia ajuda emergencial que entrou em vigor em 2021. No ano passado foram dados R$ 600 por alguns meses para 67 milhões de pessoas. Agora, em 2021, será pago um auxílio entre R$ 150 e R$ 375 para 45,6 milhões de brasileiros. Por isso mesmo, o valor está longe de contribuir de forma contundente para o combate à desigualdade de renda no país. Segundo estudo realizado na USP, o total de brasileiros na pobreza deve subir 42%, em 2021. São mais 18 milhões de pessoas que se juntam aos 43 milhões do ano passado. Dessa soma que totaliza 61 milhões, a estimativa é de que 19,3 milhões estejam na extrema pobreza.

Enquanto isso, as perspectivas para os Bancos são as mil maravilhas. Os que já divulgaram seus resultados confirmam: os grandes bancos tiveram um forte aumento em seus lucros no primeiro trimestre de 2021. Há quem diga que, somados, os lucros dos bancos chegarão ao patamar pré-crise, de R$ 120 bilhões. Isso apesar de 16,3 milhões de brasileiros não terem conta bancária e outros 17,7 milhões terem conta, mas movimentá-las pouco.

Temos insistido nas nossas análises que os fatos têm revelado a incompetente gestão da pandemia. Contudo, o discurso também mostra que isso não é apenas incompetência, mas um tipo de política. Do tipo que a morte da população é bem-vinda. Afinal, as pessoas querem viver demais, né Paulo Guedes!? Com certeza o filho de qualquer porteiro teria mais dignidade do que você, imbecil!


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.

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