Semana de 26 de abril a 02 de maio de 2021
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Começou
a CPI da Covid-19. As primeiras notícias mostram que o Presidente Jair
Bolsonaro, de fato, foi apresentado a um relatório que dimensionava o tamanho
da pandemia. O cenário previsto, contudo, era bem menos trágico do que o vivido
hoje no Brasil. Talvez porque o então Ministro da Saúde, Henrique Mandetta,
botasse fé na adoção de alguma medida decente pelo governo. Agora vemos que
isso não aconteceu.
Semana
passada atingimos a inacreditável marca de 400 mil mortos (número inestimável
mesmo para os mais pessimistas no início da pandemia). Enquanto isso, patinamos
na vacinação. Segundo reportagem do Valor Econômico, estão comprometidas 200
milhões de doses de vacina pelos mais diversos motivos: desde a desconfiança na
qualidade do imunizante (caso da Sputnik V) à incapacidade do alto escalão do
Governo de manter a língua dentro da boca e de parar de implicar com a China
(caso da Coronavac). Mesmo os números de vacinados por dia parecendo altos, ele
está aquém do que o nosso SUS é capaz de fazer. Isto, obviamente, é resultado
da péssima gestão da crise. Para além de não aproveitar as ofertas de vacinas
no ano passado, o governo brasileiro se opôs à quebra de patentes das vacinas
contra Covid-19. A disputa está na OMC e se dá entre países avançados e países
atrasados. Mas, essa posição do governo Bolsonaro se repete internamente.
O
Senado aprovou um projeto que permitirá a quebra momentânea das patentes de
alguns medicamentos, vacinas e exames ligados à Covid-19. No texto está
previsto o estabelecimento de acordos com as empresas proprietárias da patente,
de forma que elas sejam remuneradas de alguma forma. Mesmo no caso onde não
haja acordo e a quebra seja compulsória (unilateral pelo Brasil), mesmo assim a
empresa seria ressarcida. Pois bem, a liderança do governo no Senado foi
contra. O projeto foi aprovado com 55 votos a favor e 19 contrários. Agora ele
segue para a Câmara dos Deputados.
Essa
atitude do Governo Federal perante o novo coronavírus, claro, piora uma
situação que já é crítica. Segundo uma pesquisa da consultoria IDados, a
pandemia elevou para cerca de 30% o total de jovens entre 15 e 29 anos que nem
estudam e nem trabalham os chamados “nem-nem”, em 2020. No fim do ano, pelos
dados da PNAD Contínua, o percentual fechou em 25,5%. Em 2014 esse número era
de 20,8%. Para piorar, apesar das mortes continuarem sendo maiores na faixa
etária acima de 60 anos, cresceu 224% o número de mortes de jovens entre 20 e
39 anos, no período entre fevereiro e março.
Outra
coisa que não colabora é a pífia ajuda emergencial que entrou em vigor em 2021.
No ano passado foram dados R$ 600 por alguns meses para 67 milhões de pessoas.
Agora, em 2021, será pago um auxílio entre R$ 150 e R$ 375 para 45,6 milhões de
brasileiros. Por isso mesmo, o valor está longe de contribuir de forma
contundente para o combate à desigualdade de renda no país. Segundo estudo
realizado na USP, o total de brasileiros na pobreza deve subir 42%, em 2021.
São mais 18 milhões de pessoas que se juntam aos 43 milhões do ano passado.
Dessa soma que totaliza 61 milhões, a estimativa é de que 19,3 milhões estejam
na extrema pobreza.
Enquanto
isso, as perspectivas para os Bancos são as mil maravilhas. Os que já
divulgaram seus resultados confirmam: os grandes bancos tiveram um forte
aumento em seus lucros no primeiro trimestre de 2021. Há quem diga que,
somados, os lucros dos bancos chegarão ao patamar pré-crise, de R$ 120 bilhões.
Isso apesar de 16,3 milhões de brasileiros não terem conta bancária e outros
17,7 milhões terem conta, mas movimentá-las pouco.
Temos insistido nas nossas análises que os fatos têm revelado a incompetente gestão da pandemia. Contudo, o discurso também mostra que isso não é apenas incompetência, mas um tipo de política. Do tipo que a morte da população é bem-vinda. Afinal, as pessoas querem viver demais, né Paulo Guedes!? Com certeza o filho de qualquer porteiro teria mais dignidade do que você, imbecil!
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella
Alves.
0 comentários:
Postar um comentário