Semana de 03 a 09 de maio de 2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A situação do país continua grave. Não
tanto pela economia, que continua a arrastar-se. Temos agora bons ventos
soprando do Norte. A recuperação da economia mundial é puxada pelos países
desenvolvidos (EUA, China, União Europeia etc.). Nestes países, com a
vacinação, começou o controle da pandemia e, como era de se esperar, a
atividade econômica foi sendo retomada. Claro que esta retomada se dá aos
solavancos pois as cadeias globais de valor estão desarticuladas, o comércio
internacional desorganizado e os países mais atrasados sofrem com novos focos
da covid-19. Chegou a vez da Índia e outros países do oriente e da África que
não conseguem comprar a vacina em quantidade suficiente para imunizar suas
populações. Estamos assistindo, e vamos assistir, a um número crescente de
mortes. O Brasil continua ainda a disputar um dos primeiros lugares no
assassinato. Contamos com a forte colaboração do presidente Bolsonaro que
permanece fazendo seus discursos genocidas e combatendo as medidas de contenção
do vírus recomendadas internacionalmente e pelo seu próprio ministro da Saúde.
E não é por acaso. Na CPI da covid surge cada vez mais evidente que esta é uma
política de governo. O presidente parece pretender mesmo matar um grande número
de pessoas enfrentando o vírus de frente. Afinal não somos um “bando de
maricas” com medo “de uma gripezinha” qualquer. Depois do sinistro da Economia
Paulo Guedes acusar a China de produzir o vírus, o presidente reforçou a ideia
fazendo novamente a mesma acusação. Só dizendo como o deputado Fausto Pinato:
“... deve tratar-se de uma grave doença mental”.
Efetivamente, as declarações de Bolsonaro
surpreendem a cada dia. Nunca se pode imaginar o que ele é capaz de dizer
diante da claque contratada que o aplaude histérica em frente ao Planalto. Sua
demência é de tal ordem que, ele contrata o gado, paga e depois parece
acreditar que está diante do povo, sendo aclamado. Entra em êxtase e sobe o
tom: as ameaças de golpe. Esta é a parte mais perniciosa pois tenta envolver,
na sua insanidade, as forças armadas que, na melhor das hipóteses, calam-se por
omissão. De vez em quando algum general de pijama (daqueles formados na
ditadura), mais histérico, faz coro. Desta vez foi o general Walter Braga Neto,
ministro da Defesa que, em uma grande demonstração de ignorância e
reacionarismo, reafirmou que não houve ditadura em 64, mandou os deputados
estudarem história e defendeu a política genocida do governo na gestão do
combate à pandemia, comprometendo-se pessoalmente com ela.
Enquanto isso, a CPI da covid-19 avança
tomando novos depoimentos e obrigando outro general, o Pazuello, ex-ministro da
Saúde, a tentar fugir da convocação para depor alegando contaminação com o
vírus. Temendo ter que prestar contas de sua desastrosa gestão no ministério o
general acovardou-se. Tem apelado até para o comando do exército para livrá-lo
da incômoda situação. Como explicar sua afirmação de que “um manda e o outro
obedece”? Quem mandou?
O governo está em desespero e Bolsonaro,
quando encurralado, é capaz de jogar pedra na lua.
Já dissemos em outras análises que a
economia se movimenta em ciclos de crescimento e desaceleração. O problema é
que, quando o bonde passa subindo a ladeira, você pode pegá-lo ou não (papel da
política econômica) mas quando passa ladeira abaixo arrasta todos querendo ou
não.
Como já afirmamos anteriormente, a economia
mundial, com o controle da covid, está entrando em recuperação. O Brasil pode
ser arrastado ou não. O lamentável é que com este governo de incompetentes e
fanáticos as perspectivas não são muito favoráveis.
A vacinação para e vai aos solavancos, enquanto surge o perigo de uma terceira onda. O desemprego cresce, a inflação aumenta, sobe a taxa de juros Selic para 3,5% ao ano. Estamos novamente diante da estagflação, inexplicável para a quadrilha do Guedes. Só os bancos nadam em grandes lucros, como era previsto. Se as coisas continuarem nesta direção, perderemos mais uma década e o Bolsonaro, ou dá o seu golpe, ou será julgado por um tribunal internacional por crime contra a humanidade, deposto ou não.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.
Brilhante. Espero que no rescaldo da pandemia os negacionistas como Trump, Bolsonaro, naranda e outros sejam julgados por genocídio.
ResponderExcluir