quinta-feira, 13 de maio de 2021

“Trata-se de uma grave doença mental”

Semana de 03 a 09 de maio de 2021

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

A situação do país continua grave. Não tanto pela economia, que continua a arrastar-se. Temos agora bons ventos soprando do Norte. A recuperação da economia mundial é puxada pelos países desenvolvidos (EUA, China, União Europeia etc.). Nestes países, com a vacinação, começou o controle da pandemia e, como era de se esperar, a atividade econômica foi sendo retomada. Claro que esta retomada se dá aos solavancos pois as cadeias globais de valor estão desarticuladas, o comércio internacional desorganizado e os países mais atrasados sofrem com novos focos da covid-19. Chegou a vez da Índia e outros países do oriente e da África que não conseguem comprar a vacina em quantidade suficiente para imunizar suas populações. Estamos assistindo, e vamos assistir, a um número crescente de mortes. O Brasil continua ainda a disputar um dos primeiros lugares no assassinato. Contamos com a forte colaboração do presidente Bolsonaro que permanece fazendo seus discursos genocidas e combatendo as medidas de contenção do vírus recomendadas internacionalmente e pelo seu próprio ministro da Saúde. E não é por acaso. Na CPI da covid surge cada vez mais evidente que esta é uma política de governo. O presidente parece pretender mesmo matar um grande número de pessoas enfrentando o vírus de frente. Afinal não somos um “bando de maricas” com medo “de uma gripezinha” qualquer. Depois do sinistro da Economia Paulo Guedes acusar a China de produzir o vírus, o presidente reforçou a ideia fazendo novamente a mesma acusação. Só dizendo como o deputado Fausto Pinato: “... deve tratar-se de uma grave doença mental”.

Efetivamente, as declarações de Bolsonaro surpreendem a cada dia. Nunca se pode imaginar o que ele é capaz de dizer diante da claque contratada que o aplaude histérica em frente ao Planalto. Sua demência é de tal ordem que, ele contrata o gado, paga e depois parece acreditar que está diante do povo, sendo aclamado. Entra em êxtase e sobe o tom: as ameaças de golpe. Esta é a parte mais perniciosa pois tenta envolver, na sua insanidade, as forças armadas que, na melhor das hipóteses, calam-se por omissão. De vez em quando algum general de pijama (daqueles formados na ditadura), mais histérico, faz coro. Desta vez foi o general Walter Braga Neto, ministro da Defesa que, em uma grande demonstração de ignorância e reacionarismo, reafirmou que não houve ditadura em 64, mandou os deputados estudarem história e defendeu a política genocida do governo na gestão do combate à pandemia, comprometendo-se pessoalmente com ela.

Enquanto isso, a CPI da covid-19 avança tomando novos depoimentos e obrigando outro general, o Pazuello, ex-ministro da Saúde, a tentar fugir da convocação para depor alegando contaminação com o vírus. Temendo ter que prestar contas de sua desastrosa gestão no ministério o general acovardou-se. Tem apelado até para o comando do exército para livrá-lo da incômoda situação. Como explicar sua afirmação de que “um manda e o outro obedece”? Quem mandou?

O governo está em desespero e Bolsonaro, quando encurralado, é capaz de jogar pedra na lua.

Já dissemos em outras análises que a economia se movimenta em ciclos de crescimento e desaceleração. O problema é que, quando o bonde passa subindo a ladeira, você pode pegá-lo ou não (papel da política econômica) mas quando passa ladeira abaixo arrasta todos querendo ou não.

Como já afirmamos anteriormente, a economia mundial, com o controle da covid, está entrando em recuperação. O Brasil pode ser arrastado ou não. O lamentável é que com este governo de incompetentes e fanáticos as perspectivas não são muito favoráveis.

A vacinação para e vai aos solavancos, enquanto surge o perigo de uma terceira onda. O desemprego cresce, a inflação aumenta, sobe a taxa de juros Selic para 3,5% ao ano. Estamos novamente diante da estagflação, inexplicável para a quadrilha do Guedes. Só os bancos nadam em grandes lucros, como era previsto. Se as coisas continuarem nesta direção, perderemos mais uma década e o Bolsonaro, ou dá o seu golpe, ou será julgado por um tribunal internacional por crime contra a humanidade, deposto ou não.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.

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Um comentário:

  1. Brilhante. Espero que no rescaldo da pandemia os negacionistas como Trump, Bolsonaro, naranda e outros sejam julgados por genocídio.

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