Semana de 10 a 16 de janeiro de 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Os prognósticos sombrios para 2022
continuam sendo reforçados. E se não bastassem os fenômenos econômicos, a
natureza mais uma vez nos surpreendeu com um novo ataque do vírus mutante. A variante Ômicron, nova cepa do coronavirus,
espalha-se pelo mundo com uma velocidade surpreendente. Apesar de não se
apresentar tão letal, contribui para tumultuar a recuperação que tenta abrir
caminho em meio a grandes dificuldades. O sistema ainda não conseguiu
reorganizar as cadeias produtivas e comerciais que a globalização tão bem
integrou. O desajustamento é geral. O caos logístico continua. Portos
abarrotados, navios em fila para atracar, falta de contêineres, falhas na
distribuição terrestre por deficiência de motoristas e de caminhões,
cancelamento de voos e, como consequências, a elevação das tarifas e fretes. Os
produtos são encarecidos, formam-se gargalos para a produção pela falta de
insumos e matérias primas, a distribuição dos produtos é dificultada e a
inflação acelerada. A economia mundial arrasta-se golpeada pela nova onda do
covid-19. Pelo visto, a situação vai perdurar. A solução apontada é a
distribuição universal das vacinas e a vacinação de toda a humanidade. Só isto
pode frear as mutações do vírus que encontram terreno propício nos países mais
pobres da África e Ásia que não têm recursos para adquirir as vacinas e adotar
medidas para estimular a recuperação.
A desorganização da economia mundial fez
ressurgir um velho fenômeno que parecia ultrapassado, a inflação. Os preços
dispararam nos países da OCDE onde as taxas atingiram 5,8% e nos EUA com 6,8%,
a maior taxa dos últimos 39 anos. Esta incômoda novidade levou o Federal
Reserve (Fed), Banco Central americano, a anunciar a adoção da única receita
que a teoria oficial recomenda: aperto monetário com a retirada dos estímulos e
a elevação dos juros. Segundo o FMI, esta ação leva a incerteza aos países
emergentes. A repercussão nestes países foi imediata, particularmente no Brasil.
Explode o temor de debandada dos dólares que retornam a sua origem à procura de
segurança.
Consultorias e instituições financeiras
apressam-se a rever sus prognósticos de crescimento alertando para as duas
velocidades na recuperação e no aumento da desigualdade. A Cepal, por exemplo,
reviu sua previsão para o crescimento do PIB da América Latina de 2,9% para
2,1% para o ano de 2022.
O agravamento da situação internacional
piora os prognósticos para a economia local que já se afunda com a inflação, os
juros elevados, os gargalos na produção, as incertezas fiscais e políticas em
ano de eleição, a nova onda da Ômicron. Soma-se a isto a demência do presidente
com suas atitudes fanáticas e destemperadas. O descontrole aumentou com a
divulgação da última pesquisa feita pela Quest/Genial que apontou Lula com 45%
das intenções de voto, Bolsonaro com 23% e Moro com 9%. A avaliação negativa do
governo está em 56%. Bolsonaro retomou sua ofensiva contra as medidas de
combate ao vírus, condena a vacinação de crianças e resolveu atacar a Anvisa o
que provocou a reação do seu presidente Antonio Barra Torres desafiando-o a
provar as acusações ou se retratar, coisa que ele certamente não fará.
Além desta nova frente de atrito, o aumento
de salários concedido aos setores de segurança do governo provocou o movimento
de reinvindicação salarial de todos os funcionários que ameaçam entrar em
greve. E o desgaste do governo levou o Centrão a cobrar um preço mais elevado
pela sua participação, mais poderes para a Casa Civil com a transferência para
Ciro Nogueira de atribuições do Guedes sobre o orçamento.
As más notícias não ficam por aí. A Petrobrás afirma que manterá sua suicida política de preços de paridade internacional, o Banco Central informa que continuará a aumentar os juros (Selic). O IBGE calcula que o agronegócio não ajudará no crescimento do PIB Os empresários de portos e ferrovias pressionam pela revogação do veto do governo à desoneração dos setores e as concessionárias de infraestruturas pedem revisão dos contratos por causa da alta inflação. A economia não está colaborando com a eleição do presidente. Falta a pressão popular.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Nertan Gonçalves, e Maria Cecilia
Fernandes.
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