Semana de 03 a 09 de janeiro de 2022
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
É
irresistível iniciar a primeira análise do ano sem falar sobre as perspectivas
do que irá acontecer ao longo dos 12 meses que virão. Contudo, já adianto que o
brasileiro não terá um minuto de paz também em 2022. As travas que impediram a
economia de rodar em 2021 têm tudo para se agravarem neste ano.
Não é
exclusividade do Brasil o baixo crescimento econômico. Em 2021 as economias da
América Latina estiveram entre as mais atrasadas na recuperação frente aos
problemas gerados pela Pandemia. O PIB da região deve crescer 6,6%, sendo que o
nosso não deve passar de 4,5%. Segundo pesquisa do Goldman Sachs, espera-se que
em 2022 o crescimento latino-americano seja de 2%. O destaque é o Brasil: deve
crescer apenas 0,8%. Já uma pesquisa do Valor Econômico, com 105 instituições
financeiras e consultorias, mostra que a aposta é para pior. São 26 que esperam
queda do PIB em 2022. Outras 13 apostam em estagnação. Pela mediana de todas as
organizações consultadas, o crescimento brasileiro em 2022 será 0,4%.
Claro,
as previsões de janeiro para o que vai acontecer até dezembro são bastante
arriscadas. Frequentemente erram. Mas os fatos atuais indicam que será daí para
pior. Por exemplo, para além de aumentar os índices de inflação, a alta do
preço da energia paga no país impacta e muito o crescimento do PIB. Em pesquisa
realizada pelo Instituto Clima e Sociedade, 44% das pessoas deixaram de comprar
bens de consumo duráveis para pagar a conta de luz. Por sua vez, 22% deixaram
de comprar alguns alimentos básicos. Claro, isto trava a “roda da economia”.
Para 46% dos brasileiros, a conta de energia já consome pelo menos metade da
renda. Sem falar em aluguel, que é um grande “consumidor” da renda dos
brasileiros da classe média para baixo. Falando nisso, o índice que reajusta os
aluguéis, o IGP-M, subiu 17,8% no ano passado. Isto também trava a “roda da
economia”, pois, para pagar o aluguel, as pessoas precisam abrir mão de outros
produtos.
Um
resultado direto do aumento desses gastos (junto com os de alimentação) é o
aumento do endividamento das famílias brasileiras, que bateu recordes em 2021.
No fim do ano, mais de 70% das famílias residentes nas capitais estavam devendo
alguma coisa (independente se estavam em dia ou não). O problema mesmo é que,
como já apontado semana passada, os bancos centrais mais importantes do mundo
mudaram sua posição sobre a política de juros. De “cautelosos” passaram
repentinamente para “preocupados”. Com isso, os juros internacionais devem
subir em 2022. Isto vai obrigar o nosso Banco Central do Brasil a aumentar
ainda mais os juros por aqui. Por tabela, num efeito em cascata, todos os juros
da economia deverão subir também. Assim, o que é dívida controlada hoje pode
virar descontrole geral amanhã. Isto, novamente, trava a “roda da economia”.
Outra
consequência do aumento dos juros por aqui, é que os investimentos produtivos
vão se tornando aplicações financeiras. Em outras palavras: quem tem dinheiro
de sobra, ao invés de colocar seus recursos em atividades que têm potencial de
gerar riqueza, aplica em títulos de renda fixa baseados na Selic. Isso já começou
em 2021, quando a taxa básica saiu de 2% para os atuais 9,25%. No total, foram
R$ 291,5 bilhões a mais aplicados neste produto financeiro ao longo do ano
passado. O motivo é o retorno que isto traz aos especuladores: rentabilidade
alta numa economia em baixa, liquidez elevada e segurança de um título público
numa gestão que prefere fazer superávit primário ao invés de contribuir com a
saúde, o emprego e a renda da população.
Nesse
contexto desolador, piorado por uma nova onda de Covid-19 causada pela Ômicron,
o caro leitor acha que a queda do grande responsável por isso será pacífica?
Não podemos contar com isso, pois ele já demonstrou que um rato encurralado
pode morder o gato.
Resistir e combater desde já é preciso! À luta.
[i] Professor
do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e Coordenador do PROGEB –
Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Carolina Nantua, Eduardo Oliveira, Ana Isadora
Meneguetti e Guilherme de Paula.
Triste realidade que precisamos enfrentar e lutar juntos para mudar.
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