Semana de 27 de dezembro de 2021 a 02
de janeiro de 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Não há como começar esta Análise sem
desejar a todos os leitores muitas felicidades, saúde e combatividade no ano
que se inicia. Sinceramente gostaríamos que neste novo ano a abundância, a
alegria e a felicidade se instalassem em todos os lares por este país afora.
Passando do sonho à realidade somos forçados a reconhecer que as coisas não
seguirão os nossos desejos. Pelo contrário, as perspectivas são muito,
sombrias. Comecemos com o panorama geral do final de 2021. Além dos mais de
600.000 mortos e um número não contabilizado de sequelados pela pandemia temos
um país destruído. As decisões tomadas pelo governo fascistoide do Bolsonaro,
apoiado por uma burguesia incompetente e reacionária e por forças armadas
conservadoras e antidemocráticas arruinaram a economia e o prestígio que a
duras penas o país havia conquistado entre as nações. A política econômica
praticada pelo sinistro Paulo Guedes e seus “Chicago oldies” somada às decisões
do governo sabotando o enfrentamento à covid 19 provocaram o aumento do desemprego,
da pobreza, da miséria, da fome, das falências das empresas, da inflação com a
transformação em estagflação, do risco fiscal. Levaram à desvalorização
cambial, à queda da bolsa e dos investimentos consequência da elevação dos
juros. Apenas o desemprego teve um pequeno alívio no final do ano. A taxa caiu
de 13,7% para 12,1% no trimestre, mas ainda há 13 milhões de desempregados e a
renda média é a menor da história. Além disso os novos empregos criados
elevaram o número de trabalhadores por conta própria para 25,6 milhões e os
informais para 38,211 milhões em uma população empregada total de 93,958
milhões, segundo a Pnad Contínua do IBGE.
Isso para referir apenas algumas
consequências do desastre de 2021. Diante deste quadro o que nos promete o ano
de 2022?
O jornal Valor Econômico consultou 14
economistas de várias universidades, não ligados ao governo e a opinião foi
unânime: não se pode esperar deste governo nada de bom no ano que se inicia
exceto a sua derrota nas eleições. Os prognósticos e estimativas de várias
entidades e bancos apontam este quadro recessivo. O Boletim Focus do Banco
Central (BC) apura a mediana para o crescimento do PIB de 0,5%. A consultoria
MB Associados propõe crescimento zero, o Itaú-Unibanco sugere queda de -0,5%.
Para a taxa de juros de referência Selic as estimativas vão de 10% (Boletim
Focus) até 11,75% (mediana dos economistas de 107 instituições financeiras).
A elevação da Selic arrastará as taxas de
juros prejudicando os investimentos já desestimulados pelas incertezas fiscais
e políticas. O estouro da ancora fiscal com o calote da PEC dos precatórios e o
fim do teto faz parte da campanha eleitoral do residente em busca da reeleição,
o que foi necessário para o aumento das despesas com os fundos partidários, as
emendas do relator para comprar o congresso, o subsídio dos caminhoneiros, a
Renda Brasil e o aumento dos funcionários do setor de segurança. Com isto foi
para o ar o programa de austeridade do Guedes cuja credibilidade já abalada
desmoronou. Nestas circunstâncias espera-se a continuação da inflação, a
elevação dos juros, a desvalorização da moeda, a manutenção do desemprego, os
baixos salários, o crescimento da pobreza.
Contamos ainda com um agravante
internacional. Os Bancos Centrais do mundo já anunciam a elevação dos juros o
que provocará a migração dos capitais para os países mais desenvolvidos
particularmente para os EUA. Por outro lado, a variante Ômicron do coronavírus
promete não dar trégua e a OMS alertou o mundo para a possibilidade de uma
catástrofe. A agência Moody’s Analitics já reduziu sua estimativa para o
crescimento do PIB americano de 5,2% para 2,2%.
Mas o nosso presidente, desesperado com o
resultado das pesquisas eleitorais que prenunciam sua derrota, e ameaçado por
uma onda de pedidos de aumento de salários dos funcionários públicos, continua
firme em sua cruzada antivacina mesmo de férias.
Eis o que nos espera neste 2022 se ele não se for em outubro.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Nertan Gonçalves, Mariana Tavares,
Roberto Lucas e Poliana Almeida.
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