Semana de 14 a 20 de fevereiro de 2022
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Caros
leitores, desde meados de 2014 o Brasil não tem uma política econômica efetiva
de promoção do crescimento econômico. Obviamente, não se pode considerar as
“reformas” aprovadas desde então como promotoras do crescimento. Pelo
contrário, a maior parte das medidas econômicas adotadas de 2015 para cá (ainda
com Dilma Rousseff) são daquelas que retraem a atividade. O resultado disto foi
que, a partir daí, entramos numa profunda crise, da qual ainda não saímos e que
foi piorada pela pandemia de Covid-19.
Por
isso, para falarmos de políticas de enfrentamento das crises econômicas, é
preciso retornar à última crise antes da atual. Não é difícil lembrar do Brasil
dos anos 2000. Apesar do início difícil, os anos dessa década foram de grande
bonança. Tanto a economia mundial, quanto as políticas econômicas e sociais
internas contribuíram para as coisas melhorarem. Isso durou até meados de 2008,
quando estourou uma nova fase de crise na economia mundial, deflagrada pela
crise do mercado hipotecário dos EUA. Esta ficou conhecida como Crise do
Subprime, que logo se espalhou pelo sistema financeiro de vários países.
No
início, em um comparativo com um tsunami, o então presidente Lula afirmou que
no Brasil esta crise chegaria apenas como uma “marolinha”. Mas não foi bem
assim. Tanto que, depois de ter crescido 6,1% em 2007 e 5,1% em 2008, o PIB
brasileiro reduziu seu tamanho em 0,1% no ano de 2009. Como forma de
enfrentamento à crise, foram adotadas inúmeras medidas de política anticíclica
(que vai no sentido oposto ao do movimento da economia, ou seja, se o momento é
de crise, política anticíclica é aquela que promove o crescimento, se o momento
é de crescimento, política anticíclica é aquela que esfria a atividade).
Vejamos
apenas um dos muitos instrumentos utilizados em 2010 para enfrentar a crise: a
expansão das operações de crédito do BNDES para financiamento de bens de
capital produzidos no Brasil (através do FINAME). Em trabalho a ser publicado,
o Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira (PROGEB) estimou que o
PIB brasileiro em 2010 seria 0,2% menor, caso o FINAME não fosse utilizado como
instrumento de política anticíclica. Por sua vez, a massa de salários pagos
pelos setores da economia brasileira seriam 0,21% menores e o número de
ocupações geradas seria 0,11% menores.
Esses
percentuais parecem pequenos, mas basta lembrar que, antes da pandemia, o
máximo que a economia brasileira cresceu foi 1,8% em 2018. Ou seja, o uso de um
único instrumento de política econômica, o fomento do crédito para aquisição de
bens de capital nacionais, poderia ter ajudado o crescimento a ser maior a cada
ano.
E como
trazer isto para o cenário brasileiro atual? Para além do fomento a setores
tradicionais da indústria nacional, como transportes, construção civil,
máquinas e equipamentos e materiais elétricos, é de suma importância fomentar
setores que estão direta e indiretamente ligados aos cuidados médicos da
população. Naturalmente, o motivador imediato é a aparentemente interminável
pandemia, que volta e meia ressurge através de outra variante do coronavírus.
Ter condições adequadas de enfrentamento desta e das demais pandemias que muito
provavelmente virão, garantiria a disponibilidade de meios internos de combate
às mazelas, como também a possibilidade de exportação de produtos e tecnologia
para outros países. Os ganhos seriam econômicos e sanitários.
Mas, sob gestões iguais às que assumiram o Estado brasileiro após o Golpe de 2016, não será possível. Menos ainda sob a gestão Bolsonaro. É preciso que haja a superação das políticas de arrocho, as quais recaem sempre sobre a maioria dos trabalhadores do país. Um projeto que saiba utilizar os instrumentos estatais para promover o crescimento é necessário. Até outubro, façamos nossa parte para garantir que isto ocorra. Participemos do debate público sobre a política nacional e local!
[i] Professor
do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e Coordenador do PROGEB –
Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Ana Isadora Meneguetti, Guilherme de Paula,
Carolina Nantua e Eduardo Oliveira.