quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

As previsões são confirmadas

Semana de 24 a 30 de janeiro de 2022

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

As previsões que temos feito nas últimas Análises continuam a ser confirmadas. Comecemos hoje pela situação internacional. Conforme temos falado, a recuperação que se esboçava tem sido prejudicada pela nova cepa da covid-19, a Ômicron. A Organização Mundial da Saúde (OMS) acredita que o pior já passou e a pandemia caminha para o fim. Na União Europeia (UE), apesar do aumento do contágio, os casos graves e internações diminuíram e muitos países estão relaxando as restrições, graças à vacinação em massa. Os movimentos anti-vacina, liderados pela extrema direita, tem provocado problemas e os países têm apertado o cerco aos não vacinados. Nos EUA a Ômicron também tem causado entraves e contribuído para a desaceleração, já agravada pela inflação, pelos gargalos nas cadeias de suprimento e falta de mão de obra. Esta é uma grande novidade. Há 3,6 milhões de trabalhadores a menos em dezembro de 2021 em relação a fevereiro de 2020. Um déficit de 2,3%. O Produto Interno Bruto (PIB) que havia se retraído -3,4% em 2020, cresceu 5,7% em 2021, mas deve cair em 2022.

A inflação provocou a reação do Federal Reserve (Fed.) banco central americano, que começou a encerrar o Quantitative Easing (QE), expansão monetária, e até março pretende encerrar as compras dos papeis de hipotecas e do Tesouro, para então elevar os juros acima de 2,5%, o que espalha temor no mercado dos países emergentes. Aliás a Organização Mundial do Comércio (OMC), através de sua diretora adjunta Anabil Gonzales mostrou sua preocupação quanto à desaceleração do comércio mundial, não apenas pela Ômicron, mas pelos riscos geopolíticos, macroeconômicos e monetários.

O ambiente internacional, portanto, continua desfavorável e agravado ainda com as ameaças vindas do conflito EUA x Rússia, por causa da Ucrânia. Destaque-se que os aliados europeus não estão muito interessados no conflito que os EUA se esforçam por provocar pois eles sabem que serão os grandes perdedores. Lembremos que a Rússia é o 5º parceiro comercial da UE e o primeiro fornecedor de energia (gás). Novo gasoduto está para ser inaugurado e muitas empresas europeias têm investimentos no país. Além disso eles sabem que os EUA têm interesse em vender o seu próprio gás, mais caro, à UE.

O mercado asiático é que tem se tornado grande comprador dos produtos brasileiros. Não falando da China que responde por 32% das nossas exportações, mais que UE, EUA e Mercosul juntos, a Malásia compra mais que Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e Gales juntos, a Tailândia supera a França, a Índia ganha para a Itália e assim por diante. Além disso, há grandes bancos chineses e multinacionais que se apresentam com financiadores do comércio. Mesmo assim, o comércio exterior não será de grande ajuda.

Se o comércio exterior não ajuda nossa recuperação, a outra esperança que era o agronegócio também está mal. O clima não vai colaborar. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) estima uma queda na produção de grãos de 4,2 milhões de toneladas. Para os estoques finais espera-se uma queda de 35%. O Itaú Unibanco baixou sua estimativa de crescimento de 5% para 1%. E a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de 4% para 2,5%. A FGV Ibre também reviu sua estimativa para o PIB agro de 5% para 3,5%.  Com estas reduções as estimativas para o PIB de 2022 também foram rebaixadas. A FGV Ibre diminuiu de 0,7% para 0,6%. O Boletim Macro, para janeiro, calculou o Índice de Confiança Empresarial (ICE) em 91,6 pontos e o Índice de Confiança do Consumidor (ECI) em 72,6 pontos (abaixo de 100 significa pessimismo). A Selic foi estimada em 12,25%.

O setor imobiliário, outro setor que tem forte poder de arrasto, também não tem boas perspectivas. A associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança estima que o crédito para o setor crescerá apenas 2% e o PIB da Construção Civil não ultrapassará este mesmo valor: 2%. Como vemos de nenhum lado chegam boas notícias. Os dados só confirmam o que temos afirmado. 2022 será um ano difícil. A economia não vai ajudar a reeleição do Presidente.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Alves, Eduardo Oliveira e Ana Isadora Meneguetti.

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