Semana de 07 a 13 de fevereiro 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
O movimento da economia continua dentro do
previsto. A recuperação mundial arraste-se travada pela nova onda da variante
Ômicron e agora agravada pela crise provocada pelos EUA e seu novo presidente
Biden que busca arranjar um pretexto para reverter seu desprestígio interno. A
crise da Ucrânia não interessa à Europa. Uma guerra seria em território europeu
e não nos EUA que assistiriam à distância. Os russos estão furiosos com as
provocações americanas que pretendem colocar a OTAN nas suas portas. Afinal eles
já pagaram o preço de duas guerras mundiais em seu território além da invasão
napoleônica em 1812 e outras aventuras japonesas, britânicas e francesas em
vários momentos. Por isso a reação russa era esperada. Parece que as tensões
começam a esfriar e sobrou para o Brasil a ameaça de ficar sem o potássio de
Belarus que sofre sanções, o que prejudica nossa agricultura. Mas, certamente,
estamos salvos com a gloriosa missão diplomática do Bolsonaro à Rússia que
trará a paz, evitando a terceira guerra mundial.
Além do caso Ucrânia há outras preocupações
no panorama internacional. A China continua a desacelerar o que afeta a todos
diante de sua importância. Ela é responsável por 15% do comércio mundial e 25%
do crescimento global. A economia americana enfrenta a pior inflação desde 1982
com escassez de produtos e de mão de obra. O preço do petróleo continua a subir
no mercado mundial impulsionando a inflação. Na Zona do Euro, esta chegou a
5,1% preocupando os Bacos Centrais. O Banco da Inglaterra já elevou os juros
para 0,5% e o Banco Central Europeu (BCE), seguindo o Federal Reserve (Fed), o
BC americano, programa também uma elevação. A consequência é a possível
debandada dos capitais dos países emergentes, em busca de segurança, e
particularmente do Brasil onde o governo prima pelo comportamento estúpido.
Agora mesmo, na Organização Internacional do Trabalho (OIT) o país ficou
isolado na companhia da Colômbia, opondo-se e não participando da comissão
internacional que prepara uma proposta de reforma dos princípios da organização
para uma “retomada centrada no humano” e criação de “condições de trabalho
seguras e saudáveis”.
Mas, enquanto nosso presidente desempenha
sua importante missão em defesa da paz mundial, por cá as coisas andam mal. Os
indicadores observados são preocupantes. Além da ação nefasta da Ômicron que
continua a matar e encher os hospitais o país tem de suportar a campanha dos
bolso asnos contra a vacinação infantil e os protestos de grupos militares que
recusam a vacinação. A degradação do parque industrial agravou-se. Entre 2011 e
2021 a participação da indústria de transformação nas exportações alterou-se. A
percentagem dos produtos manufaturados no total exportado que era de 56,5% caiu
para 27,4%. Os semimanufaturados caíram de 14,1% para 13,2% enquanto os
produtos básicos subiram de 26,3% para 59,4%. A queda no varejo foi apontada
pelo Índice Getnet (Igetnet) calculado pela empresa Getnet e o banco Santander.
Em janeiro o varejo ampliado caiu 5,7% sendo a oitava contração seguida. As
vendas de móveis e eletrodomésticos caíram 42,6% e materiais de construção
23,6%. As vendas do setor de automóveis caíram 27,4% em relação a 2021. São as
menores desde 2005.
Pelo lado do consumo a Pesquisa Nacional de
Endividamento e Inadimplência de Consumidores (Peic) feita pela Confederação
Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apontou que 76,1% das
famílias estão endividadas e a inadimplência é recorde. Por outro lado, a
criação de empregos informais e de baixa remuneração fez a massa salarial no
trimestre encerrado em novembro cair 1% seguindo tendência anterior. Apesar
deste quadro adverso o Banco Central (BC), continuando com sua insensata e
fanática política, subiu a taxa Selic de 9,25% para 10,75% apesar de manter,
para o ano, a meta de 3,25% com teto de 5%, mas já estimou o estouro de
inflação em 5,4%.
Se a economia não ajuda, o ambiente político continua a deteriorar-se com a certeza da derrota do Bolsonaro se espalhando no Congresso. As ratazanas já ensaiam o abandono do barco. No governo os ministros e auxiliares cavam sua própria eleição. Se não havia comando antes, agora o caos aumentou. Instala-se o salve-se quem puder.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares, Roberto Lucas e Alan
Henriques Gomes.
0 comentários:
Postar um comentário