Semana de 11 a 17 de abril de 2022
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Como
todos devem ter visto, o Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, decretou o fim da
emergência em saúde pública causada pela covid-19. Para muitos, isto significa
que está decretado o fim da Pandemia e, com isso, o fim dos problemas a ela
associados: distanciamento social, uso de máscaras, vacina obrigatória etc.
Nada mais errado do que isso, pois a Organização Mundial da Saúde já descartou
a possibilidade de rebaixar a situação de Pandemia para Endemia, por enquanto.
Para além disso, a crise que começou a se manifestar antes mesmo dos primeiros
casos de Covid-19, mas que foi “perturbada” pela Pandemia e por isso ganhou seu
nome, parece estar de volta.
Como
já foi mencionado antes, as análises de conjuntura divulgadas pelo PROGEB em
2018 e 2019 já indicavam os sinais de que a atividade econômica mundial estava
iniciando uma fase de desaceleração do seu crescimento. Ou seja, estavam sendo
cridas as condições para a manifestação de uma crise econômica em escala
global. Porém, em 2020, veio a Pandemia e aquilo que poderia ter sido um
simples “pouso suave” se transformou numa grave crise econômica e sanitária.
Por um lado, mais de 2 milhões de mortes pelo novo coronavírus. Por outro,
queda de 3,6% no PIB mundial.
Em
2021, contudo, esses dois efeitos da Pandemia andaram em sentidos opostos. Em 2021 as mortes aceleraram e o total de
óbitos no mundo já somava quase 6 milhões (desde o início da Pandemia). Enquanto
isso, a economia mundial cresceu 5,9% em relação à 2020. Ou seja, apesar da
piora no quadro sanitário, a dinâmica econômica se aqueceu e se recuperou do
tombo do ano anterior, levando o PIB mundial a superar os valores pré-pandemia.
Um dos sinais da grande intensidade dessa expansão foram alguns desequilíbrios
setoriais, como a falta de insumos e de navios de transporte no mercado
mundial. Isso, naturalmente, impediu o crescimento de ser ainda maior.
O
problema é que a economia mundial é regida por leis econômicas e estas, cedo ou
tarde, se impõem sobre quaisquer elementos externos que venham a interferir no
seu funcionamento (os choques exógenos, como se diz no economês). Obviamente,
caso não seja um fenômeno de ordem terminal, como uma guerra nuclear, um
cataclismo planetário, o impacto de um grande asteroide ou mesmo uma revolução
social que acabe com a ordem econômica atual, todos os fatores que interferem
na acumulação capitalista serão passageiros.
Como
foi dito no início do texto, as leis econômicas que regem o ciclo econômico (a
alternância entre maior e menor intensidade do crescimento) estão se impondo
novamente. Tanto as crises quanto as fases de aquecimento da economia são
necessárias, cada uma tem sua função. A aceleração abre espaço para a bonança e
é o momento em que o capitalismo se esbalda, pois aumentam a produção, o
emprego, a renda etc. Como balde de água fria e choque de realidade, vem a
crise para excluir do mercado os menos eficientes, aqueles que não se adequam
às condições médias da concorrência. Junto com isso, chegam o desemprego, a
redução na renda, a ociosidade etc. Ocorre uma espécie de saneamento dos
capitais mais fracos, para que, em seguida, venha nova fase de aquecimento e
abertura de espaço para os sobreviventes e os novos concorrentes. Isso até que
uma nova crise chegue e o processo se repita periodicamente.
É isto
o que está se desenhando na economia mundial, capitaneada pelos EUA. Para além
de consultorias privadas, até o principal assessor econômico da Casa Branca,
Brian Deese, está pessimista com os rumos da economia dos EUA neste ano de 2022
e para 2023. Os motivos são muitos: desde a elevada inflação (maior dos últimos
40 anos) e o remédio para controlá-la (forte elevação dos juros) até a
desaceleração da China (que ainda faz lockdown para garantir a política de
Covid zero) e a guerra entre Rússia e Ucrânia (que contribui para faltar
insumos e subir ainda mais os preços das commodities). Claro, com algumas
especificidades, tudo isso também vale como gatilho para o estouro da crise em
outros países.
Esta é a realidade que condena a maior parte da população mundial a viver em um sistema que alterna entre momentos de menor (fase de crescimento) e maior (fase de crise) penúria. Enquanto o capitalismo existir, a crise sempre virá como uma de suas leis.
[i] Professor
do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e Coordenador do PROGEB –
Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares, Nertan
Gonçalves e Carolina Nantua.
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