Semana de 04 a 10 de abril de 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Há dois fenômenos que continuam a comandar
a evolução da economia dentro e fora do país. E não são fenômenos econômicos.
Lá fora a guerra Rússia-Ucrânia continua com mortes, migrações e destruição. As
tropas russas continuam na ofensiva ocupando a região leste da Ucrânia enquanto
o comediante alçado a presidente discursa para os políticos da OTAN e em lugar
de paz ele pede mais armas, armas e armas. O povo vai pagando em vidas a fatura
do belicismo europeu manipulado pelos EUA e gerenciado pelo fantoche. É
espantoso como os europeus, a serviço dos americanos, se envolvem em uma guerra
que não interessa nem aos seus países nem aos seus capitalistas,
O efeito bumerangue das sanções continua a
ampliar-se. Aumenta a possibilidade de crise na União Europeia (EU) e nos EUA.
As sanções aplicadas à Rússia voltam-se contra seus criadores. Como retaliação
os russos decidiram vender gás, petróleo e carvão em rublos, obrigando todos a
comprarem a moeda cuja cotação subiu no mercado. O rublo valorizou-se voltando
ao valor anterior à guerra de 85 rublos por um dólar. Além disso Rússia e China
começaram a criar um mercado independente do dólar atraindo o Japão, outros
países asiáticos e árabes. O dólar começa a ter seu reinado mundial contestado.
O sistema financeiro internacional está posto em xeque. O tiro ocidental está
saído pela culatra e os EUA poderão pagar caro.
O comércio mundial vai se desarticulando
junto com as cadeias de produção. Os países tendem para a reindustrialização e autossuficiência.
Redefine-se a ordem econômica mundial. A globalização que já vinha sofrendo
desgaste com a pandemia recebe mais um rude golpe e fica ainda mais
enfraquecida. Há mesmo quem fale na desglobalização em marcha. A Organização
Mundial do Comércio (OMC) reduziu as suas estimativas de crescimento do mercado
mundial de 4,7% para 2,5% neste ano, prevendo uma disrupção imediata do
comércio. A UE decidiu proibir a importação do carvão da Rússia, mas manteve o
petróleo e o gás que representam 10% e 33% do consumo total do país,
respectivamente. Ocorre que o carvão representa apenas 4 bilhões de euros
enquanto as duas outras commodities representam 100 bilhões. Muito espertos!
Como era previsto a crise vem provocando a
elevação dos preços das commodities e particularmente dos produtos
alimentícios. A inflação corrói o poder aquisitivo dos salários provocando
reações e protestos. O secretário geral da ONU António Guterres fala em
“furação de fome” no mundo. Os governos têm recorrido a subsídios e transferência
de renda comprometendo os orçamentos e aumentando a dívida pública.
Todos estes fenômenos adversos abalam a
débil recuperação da nossa economia. As notícias não são boas. Segundo a
Confederação Nacional da Indústria (CNI) o faturamento da indústria caiu 0,1%
em janeiro e 0,2% em fevereiro. A utilização da capacidade instalada ficou em
81% e o rendimento médio caiu 0,1%. A
taxa de desemprego, que atingiu 13,2% em 2021, cairá para 11,9% em 2022,
segundo estimativas do Boletim Macro, mas a taxa composta de subutilização da
força de trabalho (que inclui os desalentados e indisponíveis) atingirá 23,5%.
A inflação continua a ultrapassar os dois dígitos, as taxas de juros tendem a
aumentar e o crescimento do PIB deverá ser muito pequeno.
Sem resultados econômicos o governo continua a sua campanha para a reeleição. Vários ministros afastam-se para concorrer a cargos eleitorais destacando-se o ministro da defesa, considerado o mais importante pelo presidente “com a tropa em suas mãos”. Em mais um discurso na cerimônia de promoção dos oficiais generais Bolsonaro voltou a falar nas forças armadas como “âncora do Brasil”, “na luta do bem contra o mal”, “em um país conturbado por questões ideológicas, mas lá atrás foi mais difícil e vencemos e agora venceremos novamente.” Em outra cerimônia, na filiação de dois ministros ao PL, ele já havia falado em “batalha espiritual”, “batalha do bem contra o mal” e que “embrulha o estômago cumprir a constituição”. A chantagem de golpe continua. Chegou a hora de dar um basta nesta pregação golpista antes que seja tarde.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares, Roberto Lucas e Alan
Henriques Gomes.
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