Semana de 18 a 24 de julho de 2022
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
De uma
forma geral, chamamos de janela de oportunidades o período em que há uma real
possibilidade de ocorrer transformações em cenários já estabelecidos. Isto
significa que é possível (e mais provável do que o normal) haver mudanças no
“estado das coisas”. No âmbito econômico, a economia mundial está a abrir uma
dessas janelas.
Não é
novidade que a pandemia de Covid-19 e, mais recentemente, a Guerra da Ucrânia
têm mostrado as limitações das cadeias produtivas globais (CGV). Nesta atual
forma de organização da divisão internacional do trabalho, o processo produtivo
da maioria dos produtos industrializados está fragmentado e distribuído em
diversas partes do planeta. E este é o cerne do problema: as perturbações em
determinadas regiões atingem intensamente quase todo o mundo.
O
contexto por trás disto é o fato de que, ao longo do século XX, os países de
industrialização avançada passaram a exportar não só produtos (como sempre
fizeram), mas também suas empresas (filiais ou subsidiárias). Com isto,
intensificaram sua produção em territórios estrangeiros. Nas economias
centrais, isto resultou em um adensamento da estrutura produtiva já existente
(com forte presença de capitais nacionais). Nas economias periféricas, surgiram
locais de densa industrialização (liderada pelo capital estrangeiro, mas
aproveitada pelo capital nacional). Como característica comum aos dois casos,
as regiões industriais reuniam tanto as empresas principais, quanto seus
fornecedores. Ou seja, o resultado era o aglomerado de empresas líderes e
seguidoras em um mesmo espaço geográfico, construído pelas necessidades da
produção industrial.
Isto
mudou entre o fim do século passado e início do atual. Ao invés de se formarem
grandes estruturas industriais, que reuniam vários fornecedores na mesma
localidade, as multinacionais passaram a fragmentar seu processo produtivo e
instalar as partes deste processo onde lhes fosse mais vantajoso. Assim,
surgiram as chamadas cadeias produtivas globais ou, para os íntimos, as CGV.
É
nesse contexto que surgem, nas últimas décadas do século XX, os Tigres
Asiáticos (os velhos e os novos). Junto com a China e a Índia, eles passaram a
participar de maneira mais efetiva da exportação mundial de produtos
manufaturados. E não se engane, dentre esses manufaturados estão aqueles de
média e alta intensidade tecnológica: de bens de consumo (como televisores,
geladeiras e smartphones), a insumos (como condutores e semicondutores) e bens
de capital (máquinas e equipamentos). Então, a pergunta que fica é: como os
países asiáticos conseguiram dar este salto e nós, brasileiros, ficamos para
trás nas cadeias globais de valor?
Como a
realidade é complexa, há um conjunto de respostas para esta pergunta: o
interesse geopolítico dos EUA na região (que era próxima da Rússia e da China
comunistas – afinal, estamos falando da época da Guerra Fria); a precariedade
do mercado de trabalho (que tornava a mão de obra mais barata); e o papel que
os Estados exerceram sobre a economia (criando políticas industriais orientadas
para a inserção nas CGV dos setores industriais de ponta).
Como
já foi levantado anteriormente na presente coluna, economistas, políticos e,
principalmente, empresários já estão falando de um processo de
“desglobalização”, no qual as frações e partes importantes das cadeias
produtivas serão realocadas. Três seriam as possibilidades: o retorno da produção
aos países de origem (termo em inglês, reshoring); a produção onde o produto
será consumido (onshoring); ou a produção em outros países mais próximos
(nearshoring).
É nesta última opção que surge a janela de oportunidade: o Brasil poderia atrair uma parte da produção agora executada na longínqua Ásia! Mas, o que seria possível fazer, a partir do exemplo deles? Dentre os três fatores apontados anteriormente, o que o Brasil poderia melhorar, hoje, seria a atuação estatal. O problema é que nosso dirigente máximo está dedicado a imprimir os votos de outubro, se houver eleições.
[i] Professor
do DRI/UFPB e do PPGRI/UEPB e Coordenador do PROGEB. (@progebufpb,
www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os
pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan Gonçalves.