Semana de 04 a 10 de julho de 2022
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Caro
leitor. Não poderia começar a presente coluna sem falar do ocorrido no último
final de semana, quando um bolsonarista invadiu uma festa e assassinou um
dirigente petista, o aniversariante que fizera 50 anos. Ao que tudo indica,
eles nem se conheciam. As imagens até agora divulgadas mostram o nível de
estupidez ao qual chegou uma parte não desprezível dos adeptos do presidente
Jair Messias Bolsonaro.
Na
semana que se encerrou naquele fatídico sábado, correligionários do Partido dos
Trabalhadores já haviam sido alvo de bolsominions ensandecidos (desculpe o
pleonasmo). Um artefato caseiro, feito com garrafa pet, bomba junina e fezes,
foi lançado contra um evento petista na Cinelândia, RJ. Lá, pouco tempo depois,
discursou o pré-candidato à presidência pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Em
junho, em evento em Minas Gerais, petistas já haviam sido alvo de drones, que
despejaram “líquidos malcheirosos” sobre o público de outro evento que esperava
a presença de Lula.
Por
sua vez, nem é preciso dizer o quanto as falas públicas de Bolsonaro sugerem
aos seus que coisas do tipo sejam feitas. A mais famosa foi em 2018 em Rio
Branco (AC), quando, em cima de um trio elétrico e segurando um objeto em
alusão a uma arma, gritou: “vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre”. Não é raro
ele soltar, em suas lives, algo do tipo: vocês sabem o que tem que fazer.
Desde
o início do mandato, em 2019, Bolsonaro tem atacado as instituições que ele não
pode controlar diretamente, mas que podem interferir em seu dinástico plano de
poder. Foi assim com o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. No caso
do primeiro, após perceber que não tinha força suficiente para suplantá-lo,
resolveu a ele se aliar. É nesse contexto que se explica a guinada política
(tanto de Bolsonaro quanto dos militares que o apoiam) que resultou no
Orçamento Secreto. Este nada mais é do que a forma (contraditória) que o
ocupante da cadeira do Planalto encontrou para manter-se no poder: entregar
parte do poder ao Congresso, via orçamento, e manter-se na cadeira acenando com
as bandeiras que levanta. Quais sejam: por um lado, a bandeira da moral e dos
(maus) costumes, satisfazendo a “ala pobre” do bolsonarismo; por outro, a
bandeira das reformas neoliberais, satisfazendo a “ala rica”.
Com
isso, criou-se a barreira necessária para impedir qualquer ação vinda do
judiciário que buscasse derrubar o presidente, pois o impeachment precisa ser
aprovado na Câmara e no Senado, como ocorreu recentemente com Dilma Rousseff.
No
caso do STF, a coisa foi diferente. Sem um orçamento para comprá-lo, o
presidente só conseguiu infiltrar dois dos seus lá dentro, devido a duas
aposentadorias ocorridas desde 2019. Como o Congresso se tornou seu colete
salva-vidas, então Bolsonaro foi à carga sobre o Supremo. Com isso, passou três
anos desgastando tanto a instituição, quanto alguns de seus membros.
Atualmente, não é equívoco afirmar que o STF está sem forças para recolocar o
arcabouço institucional de volta nos trilhos. Para completar, agora em conjunto
com os militares, Bolsonaro passou a atacar não só as urnas, mas o próprio
Tribunal Superior Eleitoral e as eleições de 2014 e 2018. Assim, novamente,
desgasta a instituição responsável por gerir sua provável derrota nas eleições
de outubro e, tal qual fez com o Congresso e está fazendo com o STF, busca dar
um xeque-mate na instituição para se manter no poder.
Por
fim, ilustrando como as principais instituições são depredadas em meio à
fascistização em que vivemos, Bolsonaro insinuou que o estuprador anestesista
preso em flagrante no fim de semana tenha sido produto de uma “ideologia”
imposta no ambiente universitário em que se formou.
É um crime em cima do outro. Porém, as instituições nada fazem. E quando elas nada fazem, quem faz é a população. O problema é que quem está se mobilizando está armado, seja civil ou militar, e tem um norte claro: a eliminação do outro, do diferente, do inimigo. Assim surgiu o fascismo na Europa. Será o caso do Brasil?
[i] Professor
do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e Coordenador do PROGEB –
Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan
Gonçalves.
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