Semana de 11 a 17 de julho de 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
O país continua a viver sob o impacto da
PEC das bondades ou Pec do fim do mundo, a que já nos referimos em outras
análises. Desesperado com os resultados das pesquisas o presidente, orientado
pelas raposas do Centrão, resolveu apelar para as ações eleitoreiras mais
descaradas. Não bastou o orçamento secreto, as emendas do relator e todas as
transferências irregulares feitas através das estatais entregues ao centrão. O
governo comprou o congresso e as tais legendas de aluguel e partidos que formam
o lixão que é sua base de apoio. Ainda foi pouco. Não conseguiu virar o jogo.
Surgiu então a ideia genial da PEC das bondades para distribuir diretamente
dinheiro aos eleitores pertencentes às camadas mais empobrecidas da população.
Isto foi feito no desespero, às vésperas das eleições, violando leis e a
própria constituição. Não há previsão orçamentária e o rombo no orçamento vai
aumentar. Como já referimos, a jogada surpreendeu mesmo a oposição que foi
obrigada a aprovar tudo. Quem poderia se opor a concessão de auxílio aos mais
pobres e necessitados?
Agindo para virar o jogo e reverter as más
avaliações apontadas nas pesquisas, Bolsonaro não abandonou sua antiga
estratégia. Continuou a proferir ofensas contra as instituições e pregar o
golpe. Desta vez foi mais longe. Convocou o corpo diplomático acreditado no
país para uma reunião. Violando todos os protocolos a reunião foi realizada no
palácio presidencial, com o comparecimento de alguns ministros como os generais
Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria Geral), Augusto
Heleno (GSI), além de Carlos França (Relações Exteriores) e Ciro Nogueira (Casa
Civil). Na reunião o presidente desferiu vários ataques ao processo eleitoral e
às urnas eletrônicas, repetindo mentiras que ele já proferiu em outras ocasiões
e foram rebatidas. Fez também ataques diretos a alguns ministros do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF) e aos próprios
tribunais. O escândalo foi internacional e estamos vivendo agora o resultado e
as repercussões das declarações a nível nacional e internacional que deverão
continuar nos próximos dias.
Logo depois, em um ato religioso em que
participou em Fortaleza, voltou a pregação direta do golpe e mesmo da suspensão
das eleições. O tenente insubordinado, expulso do exército por tentar colocar bombas
nos quarteis e cometer outros crimes, considerado insano, agora cobra o preço
de ter sido guindado à presidente com o apoio dos militares, dos empresários,
dos políticos e de amplas camadas reacionárias da população tocadas pelo
sentimento antipetista. E sempre acenando com o apoio das forças armadas.
O resultado da histeria estimulada pelo
Bolsonaro e sua família já começa a dar seus resultados. Além dos atentados às
reuniões e passeatas do Lula, temos os dois assassinatos no Amazonas e agora o
assassinato no Paraná. A lentidão da apuração e punição dos autores destes
atentados pode agravar muito a situação e contaminar o processo eleitoral. E
não custa relembrar que este foi o caminho para a instalação dos regimes
fascistas no mundo. Eis a ameaça que paira sobre nós.
As reações que está se esboçando no país e no exterior estão encurralando cada vez mais o presidente o que o torna ainda mais perigoso. Seu destempero está aumentando e sua ação parece querer provocar um desfecho violento para obrigar as instituições e a população a um confronto para o qual ele se vem preparando com a criação de seu exército particular bem armado. Não tem sido por acaso todas as medidas que têm sido tomadas para promover a compra de armas pelos seus partidários, além da corte que vem fazendo às forças armadas, particularmente às forças policiais. Diante da corrupção nos partidos políticos que se reflete no parlamento e da passividade das organizações operárias e populares, caminhamos perigosamente para depender do comportamento dos militares para a manutenção da democracia no país. Esperamos que mais uma vez eles não se prestem ao papel de “capitães do mato”, de jagunços na execução do trabalho sujo de reprimir o povo em defesa dos interesses de uma burguesia reacionária e atrasada.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Araújo e Nertan Alves.
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