Semana 03 a 09 de abril de 2023
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Os desafios que se apresentam ao governo
Lula e que deverão ser enfrentados são incalculáveis. Até o próprio Estado tem
de ser reconstruído e restaurados os aparelhos que permitem manter a economia e
os serviços em funcionamento. Podem servir como exemplo as decisões de recriar
o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida e o Mais Médicos, atos criticados pela
oposição como “mais do mesmo”.
Como temos visto em Análises anteriores
parte-se do zero, ou melhor, de uma cota negativa. E tudo tem de ser feito
enfrentando a sabotagem e a hostilidade dos que foram derrotados, mas não se
conformam com o resultado das urnas. Lamentavelmente o congresso eleito é dos
piores que já tivemos. Basta citar parlamentares como Moro, Mourão, Damares,
Dallagnol e dezenas de ex-auxiliares do governo anterior e dos partidos que o
apoiaram, além de muitos militares. Isto para não falar no orçamento
inexequível e no rombo das contas públicas.
A oposição, mesmo acéfala, faz a única
coisa que sabe fazer: criar confusão, destruir e sabotar o funcionamento das
atividades dificultando de todas as maneiras a execução das ações do governo,
mesmo sem ter qualquer proposta alternativa. Apenas destruir e tentar
imobilizar a administração.
Mas isto não é o pior. Já devia ter sido
previsto. O pior, e que não foi previsto, é a situação econômica. Lula e seus
economistas continuam a raciocinar como se estivéssemos nos anos do primeiro
governo. Infelizmente, não estão levando em consideração a teoria marxiana dos
ciclos econômicos e por isto não conseguem ver o tsunami que está se armando na
economia internacional e internamente. Temos alertado para isto em Análises
anteriores. A economia mundial está entrando na fase de crise do ciclo
econômico. A pandemia do Covid e a guerra da Ucrânia deformaram a trajetória do
ciclo e criaram novas perturbações, mas a lei do ciclo voltou a determinar a
evolução econômica e o movimento foi restaurado, começando com a sua fase de
crise.
Causa preocupação quando o presidente faz
declarações otimistas sobre o crescimento da economia que virá. Mostra
ignorância das leis que regem os fenômenos econômicos e qual a influência que a
política econômica pode ter sobre elas. Com certeza as medidas que estão sendo
adotadas terão um papel anticíclico e poderão amenizar os efeitos da fase de
crise. Melhor seria se o Bob Fields Neto, do BC, tivesse um comportamento mais
inteligente e deixasse de bancar o traidor da pátria revelando aos
especuladores, no exterior, a política de manutenção de juros altos, que o BC
vai adotar nos próximos tempos, como ele fez nesta semana. Todos os economistas
sabem que juros altos prejudicam a recuperação ao criar dificuldades às vendas,
ao consumo e aos investimentos. Já falamos muito sobre isto em análises
anteriores e citamos algumas autoridades como Jeffrey Sachs, Stiglitz, Lara
Resende etc. A ação do BC, neste momento é pro-cíclica e vai contra as
intenções do governo. Aliás, nas próprias atas das reuniões o BC revela que sua
intenção é derrubar a economia para combater a inflação (eles continuam a pensar
que a inflação é causada pelo excesso de procura). O governo tem uma difícil
situação a enfrentar e não está preparado para isto. Será surpreendido.
Os dados da semana já apontam para a
recessão. O IBGE divulgou estatísticas mostrando que o emprego industrial caiu
2,7% entre dezembro e fevereiro e a ocupação total 1,5% como consequência da
desaceleração da economia. Rafael Cagnin, economista do Iedi prevê que “2023
será mais um ano de baixo crescimento... “. Levantamento feito pelo jornal
Valor Econômico mostra que, a queda dos investimentos fará o varejo voltar ao
“voo de galinha”.
A nível internacional o mundo continua a mergulhar na crise. A situação é agravada pela guerra comercial entre EUA e China, pelos reflexos da pandemia de covid-19, pela guerra da Ucrânia, a inflação e os juros elevados. Muitos analistas preveem que o ambiente externo ainda vai piorar. Com a sede de sangue dos generais da OTAN não se espera nenhuma ação para uma solução pacífica do conflito Rússia Ucrânia.
[i] Economista,
Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e
Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Maria Cecília Neres e Gustavo Figueiredo.
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