sexta-feira, 14 de abril de 2023

As limitações teóricas da equipe econômica

Semana 03 a 09 de abril de 2023

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Os desafios que se apresentam ao governo Lula e que deverão ser enfrentados são incalculáveis. Até o próprio Estado tem de ser reconstruído e restaurados os aparelhos que permitem manter a economia e os serviços em funcionamento. Podem servir como exemplo as decisões de recriar o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida e o Mais Médicos, atos criticados pela oposição como “mais do mesmo”.

Como temos visto em Análises anteriores parte-se do zero, ou melhor, de uma cota negativa. E tudo tem de ser feito enfrentando a sabotagem e a hostilidade dos que foram derrotados, mas não se conformam com o resultado das urnas. Lamentavelmente o congresso eleito é dos piores que já tivemos. Basta citar parlamentares como Moro, Mourão, Damares, Dallagnol e dezenas de ex-auxiliares do governo anterior e dos partidos que o apoiaram, além de muitos militares. Isto para não falar no orçamento inexequível e no rombo das contas públicas.

A oposição, mesmo acéfala, faz a única coisa que sabe fazer: criar confusão, destruir e sabotar o funcionamento das atividades dificultando de todas as maneiras a execução das ações do governo, mesmo sem ter qualquer proposta alternativa. Apenas destruir e tentar imobilizar a administração.

Mas isto não é o pior. Já devia ter sido previsto. O pior, e que não foi previsto, é a situação econômica. Lula e seus economistas continuam a raciocinar como se estivéssemos nos anos do primeiro governo. Infelizmente, não estão levando em consideração a teoria marxiana dos ciclos econômicos e por isto não conseguem ver o tsunami que está se armando na economia internacional e internamente. Temos alertado para isto em Análises anteriores. A economia mundial está entrando na fase de crise do ciclo econômico. A pandemia do Covid e a guerra da Ucrânia deformaram a trajetória do ciclo e criaram novas perturbações, mas a lei do ciclo voltou a determinar a evolução econômica e o movimento foi restaurado, começando com a sua fase de crise.

Causa preocupação quando o presidente faz declarações otimistas sobre o crescimento da economia que virá. Mostra ignorância das leis que regem os fenômenos econômicos e qual a influência que a política econômica pode ter sobre elas. Com certeza as medidas que estão sendo adotadas terão um papel anticíclico e poderão amenizar os efeitos da fase de crise. Melhor seria se o Bob Fields Neto, do BC, tivesse um comportamento mais inteligente e deixasse de bancar o traidor da pátria revelando aos especuladores, no exterior, a política de manutenção de juros altos, que o BC vai adotar nos próximos tempos, como ele fez nesta semana. Todos os economistas sabem que juros altos prejudicam a recuperação ao criar dificuldades às vendas, ao consumo e aos investimentos. Já falamos muito sobre isto em análises anteriores e citamos algumas autoridades como Jeffrey Sachs, Stiglitz, Lara Resende etc. A ação do BC, neste momento é pro-cíclica e vai contra as intenções do governo. Aliás, nas próprias atas das reuniões o BC revela que sua intenção é derrubar a economia para combater a inflação (eles continuam a pensar que a inflação é causada pelo excesso de procura). O governo tem uma difícil situação a enfrentar e não está preparado para isto. Será surpreendido.

Os dados da semana já apontam para a recessão. O IBGE divulgou estatísticas mostrando que o emprego industrial caiu 2,7% entre dezembro e fevereiro e a ocupação total 1,5% como consequência da desaceleração da economia. Rafael Cagnin, economista do Iedi prevê que “2023 será mais um ano de baixo crescimento... “. Levantamento feito pelo jornal Valor Econômico mostra que, a queda dos investimentos fará o varejo voltar ao “voo de galinha”.

A nível internacional o mundo continua a mergulhar na crise. A situação é agravada pela guerra comercial entre EUA e China, pelos reflexos da pandemia de covid-19, pela guerra da Ucrânia, a inflação e os juros elevados. Muitos analistas preveem que o ambiente externo ainda vai piorar. Com a sede de sangue dos generais da OTAN não se espera nenhuma ação para uma solução pacífica do conflito Rússia Ucrânia.


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Maria Cecília Neres e Gustavo Figueiredo.

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