Semana de 11 a 17 de setembro de 2023
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Caro
leitor, não é de hoje que falamos sobre as mudanças que estão acontecendo na
produção e na distribuição de mercadorias em escala mundial. Desde a pandemia
de Covid-19 e a Guerra da Ucrânia, temos visto se acelerar um fenômeno que deu
seus primeiros sinais após a “Crise do Subprime”, em 2008: a desglobalização
produtiva. Mas, o que seriam a globalização e a desglobalização produtivas?
Desde
o fim do século passado, a participação de alguns países na produção mundial de
mercadorias se alterou. Regiões, que na década de 1970 eram meras produtoras de
produtos primários, nos anos 1990 começaram a exportar manufaturados de média e
alta intensidade tecnológica. Atualmente, a Ásia (especialmente as regiões
Leste, Sul e Sudeste) é o continente que mais exporta produtos industriais
elaborados no planeta e, por isso mesmo, é a região que mais importa
commodities.
Isto
foi possível graças à revolução causada pelas tecnologias da informação e
comunicação e pelos transportes, que possibilitaram às grandes empresas
multinacionais o fatiamento do processo de produção de algumas mercadorias e
sua redistribuição territorial. Contribuíram também as mudanças nos modelos de
gestão da produção, que foram se tornando mais flexíveis e adaptados aos nichos
de mercado. O que norteou essas transformações, claro, foi a busca pelos
menores custos de produção, seja com mão de obra, matérias primas, tarifas ou
infraestrutura.
Os
empresários pioneiros foram os do Japão, que se aproveitaram da pobreza e do
atraso relativo dos seus vizinhos e investiram uma grande quantidade de
capitais no Leste e no Sudeste da Ásia. Essas regiões, em seguida, passaram a
exportar de volta ao Japão, que se aproveitou dos preços baixos dos insumos e
dos bens de consumo importados para conter a inflação interna e aumentar sua
competitividade externa.
Diante
da força dessa nova organização industrial, baseada em cadeias de produção
fragmentadas e internacionalizadas, as empresas ocidentais logo se adaptaram à
novidade. Foi quando, nos anos 1990, a Ásia passou a receber os maiores volumes
de investimentos estrangeiros. Várias empresas multinacionais passaram a abrir
filiais ou subcontratar pequenas e médias empresas, as quais se tornaram suas
grandes fornecedoras. Surgiu, assim, uma nova divisão internacional do
trabalho, que passou a se organizar com base nas cadeias globais de valor.
Uma
das principais consequências desse movimento foi a redução no consumo de
produtos nacionais, os quais foram sendo trocados por importados. Isto
aconteceu em diversos países e em todas as regiões do planeta, mas, sobretudo,
nos mais ricos. Resultado: parte da velha estrutura produtiva dos países já
industrializados foi perdendo espaço e se tornando obsoleta ou pouco
competitiva. Por isso, na hora de fazer novos investimentos, as empresas
optavam por investir fora do seu território originário.
Essa é
uma (breve) história da globalização produtiva. A desglobalização, contudo, não
é o retorno ao passado, quando a produção local era o núcleo central da
industrialização. O que estamos vendo, agora, é uma redistribuição geográfica
da produção de acordo com novos determinantes, para além do custo de produção:
fatores estratégicos e geopolíticos. Ou seja, a produção industrial ainda terá
o “internacional” como núcleo, mesmo havendo o retorno de algumas atividades às
matrizes.
Isto
pode ser visto na Alemanha de hoje. Segundo levantamento do Governo alemão, 33%
das empresas de lá pretendem se expandir investindo no exterior. Por sua vez,
empresas de todos os setores têm fechado plantas em solo alemão para abrir
novas em países do Leste Europeu, ou mesmo na Inglaterra e na China. Dentre os
motivos, estão o custo com energia, as barreiras ao comércio e a burocracia.
Além disso, o trabalhador alemão é o que tem menor média de horas trabalhadas
dentre os países da OCDE.
Esta situação é apenas um exemplo daquilo que afeta o movimento das empresas. Apoiadas em novas tecnologias, é assim que elas operam: “abandonam” seus territórios pátrios e vão em busca de menores custos em locais, agora, também estratégicos. Mais do que nunca, Estados e Blocos Econômicos serão fundamentais na formação dessa nova globalização que está por vir. Torcemos para que o Brasil garanta seu lugar ao sol.
[i] Professor
do DRI/UFPB, PPGCPRI/UFPB e PPGRI/UEPB. Coordenador do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Valentine de Moura, Helen
Tomaz, Letícia Rocha e Raquel Lima.
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