Semana 04 a 10 de setembro 2023
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A economia mundial continua aos grandes
solavancos. A reestruturação da globalização é muito complexa, pois envolve os
interesses de países que procuram se estruturar em blocos opostos. Esta
oposição vem se consolidando com mais um grande passo que foi a reunião dos
BRICS na África do Sul e a decisão de ampliação com a entrada de mais seis
países: Egito, Arábia Saudita, Etiópia,
Argentina, Emirados Árabes Unidos e Irã. Eles deverão juntar-se aos 5
existentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Consolida-se, assim, a
tentativa de constituição de um outro polo de atração, que já conta com a
intenção de adesão de quase 40 países. A formação deste novo polo tem provocado
muita preocupação nos países ditos ocidentais, liderados pelos EUA, que agora buscam
desacreditar e sabotar todas as iniciativas neste sentido.
Embora sejam conhecidas as inúmeras
contradições que existem entre os vários países participantes do bloco, algumas
particularidades devem ser consideradas. Juntos, Rússia, Irã, Arábia Saudita e
Emirados Árabes Unidos controlam o mercado mundial do petróleo. Juntos, os
países possuem mais da metade da população e 40% do PIB mundial. A China, além
de possuir um complexo e moderno parque industrial, é um dos polos mais
avançados de tecnologia do globo, e a Rússia possui o maior arsenal de armas
atômicas do mundo. Se os países do novo bloco conseguirem uma razoável
integração de suas economias, o mercado mundial capitalista sofrerá um grande
choque.
Neste momento, a China já pressiona o
mercado de carros elétricos, montando grandes fábricas de baterias, em
condições de abastecer toda a demanda internacional. Isto ocorre no momento em
que a atividade econômica global está em desaceleração. O setor de serviços
encontra dificuldades diante da fraca demanda, desacelerando na França,
Alemanha e Reino Unido. A Zona do Euro corre o risco de entrar em recessão. O
Hamburg Commercial Bank (HCOB) e a S&P Global estimam que o PIB desta zona
deverá sofrer uma contração de 0,1%, no trimestre atual. Os indicadores apontam
igualmente para uma desaceleração das economias da China e da Índia. Só para a
economia japonesa é que os dados são positivos.
Os prognósticos para o crescimento da
Alemanha, locomotiva da União Europeia, são muito pessimistas. O Instituto Kiel
para a Economia Mundial cortou sua previsão, estimando uma contração de 0,3%,
no trimestre, e 0,5% no ano de 2023. No mês, a produção industrial caiu 0,8% e
9% no setor automotivo. Nos últimos três trimestres a economia estagnou ou
encolheu. As causas apontadas são os preços da energia, a elevação dos juros e
a desaceleração do comércio com a China, seu segundo maior importador. Por trás
dessas causas está a guerra da Ucrânia, que os incompetentes governantes,
subservientes aos interesses americanos estão engolindo.
O quadro internacional continua então muito
sombrio. Do exterior, não podemos ter grandes esperanças. Internamente a
situação é também muito preocupante. Continuamos a juntar os cacos que nos
deixou o desgoverno passado. As investigações sobre os desmandos e conspirações
para o golpe continuam e os primeiros resultados dos julgamentos já começam a
aparecer. Infelizmente, apesar de necessárias, estas ações desviam a atenção
dos reais problemas da economia e nos obrigam a ouvir impropérios vindos de
bocas sacramentadas por togas sagradas.
Apesar de tudo a economia começa a reagir. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu no segundo trimestre e estima-se que, no ano, ficará acima dos 3%, o que será uma grande vitória, diante dos prognósticos anteriores. Apesar de uma difícil gestão, acossada por todos os lados, com um Congresso hostil, dirigido por dois honoráveis bandidos, algum resultado vai sendo conseguido. O emprego vai aumentando, embora lentamente, a distribuição de renda vai tendo resultados e alguns programas vão apoiando o aumento do consumo. Não há como negar o papel do agro e das exportações de commodities. Mas, nada nos dá garantias de uma arrancada da economia. Vamos continuar torcendo para que a troca de ministros aplaque a ira do centrão e dê maioria, para que o governo consiga aprovar seus projetos.
[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do
Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira;
nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Gustavo Figueiredo, Helen
Tomaz e Raquel Lima.
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