Semana de 04 a 10 de dezembro de 2023
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Como
comentamos nas duas últimas análises, o PIB brasileiro está indo mal. Na semana
passada, o professor Nelson Rosas já trouxe os dados gerais do resultado
oficial divulgado pelo IBGE. Agora, analisaremos um componente específico: a
formação bruta de capital fixo (FBCF).
Como o
nome sugere, a FBCF é o componente do PIB que registra os gastos com aumento da
capacidade produtiva das empresas, ampliando o espaço físico e o número de bens
de capital em funcionamento. Além disso, entra no cálculo a produção realizada
pela construção civil. Ou seja, a FBCF é um indicador determinante para
sabermos a força (ou fraqueza) do crescimento da economia, pois mostra como
anda a indústria de base de um país. Explico o porquê.
Imaginemos
a produção de algo, como uma máquina de ultrassom, um aparelho celular, um
edifício ou mesmo um automóvel. Para montar esses produtos, são necessárias uma
estrutura produtiva sólida e mão de obra adequada. Por sua vez, produzir os
insumos que irão compor esses produtos requer uma estrutura produtiva ainda
mais densa, pois serão processadas matérias primas mais ou menos sofisticadas.
Por fim, produzir as máquinas que vão atuar na montagem dos componentes ou as
máquinas que vão atuar na produção dos insumos requer um outro nível de
estrutura, com densidade e complexidade em níveis máximos.
Atualmente,
em muitos países é possível produzir os insumos mais básicos, como aço, vidros,
químicos e petroquímicos. Em alguns outros, é possível montar equipamentos
óticos, eletrônicos, informáticos, automóveis, etc. Um número menor de países
detém as condições de produzir os componentes mais elaborados necessários à
tecnologia atual (chips, eletrônicos, etc.). Porém, é um grupo muito mais
seleto o dos países onde estão as máquinas (os bens de capital) que produzem as
máquinas usadas na produção de outras máquinas, na produção de insumos ou na
montagem do produto final.
Observando
de trás pra frente... Na medida em que cresce o consumo de bens finais, cresce
o consumo de insumos. Se esse crescimento se generaliza e se sustenta, as
empresas de bens finais e de insumos buscam aumentar sua capacidade produtiva,
sua FBCF. Com isso, são acionados os setores produtores de bens de capital.
Estes, por sua vez, contratam mais trabalhadores e consomem mais insumos. Isso
aumenta ainda mais a pressão sobre a produção, gerando um efeito
retroalimentador. Ocorre um aquecimento generalizado, onde o crescimento de uma
atividade econômica faz crescer, direta e indiretamente, a produção nela e nas
demais atividades.
Infelizmente,
o Brasil não faz parte do clube de países que lideram a produção global. E,
graças à nossa desindustrialização, também não tem estrutura produtiva
plenamente capaz de garantir a produção das máquinas produzidas por aqui. Isto,
por si só, limita muito o potencial de crescimento brasileiro. Para piorar, o
ciclo econômico mundial está em fase de desaceleração e o Banco Central do
Brasil (Roberto Campos Neto) mantém a taxa Selic em níveis indecentes.
Isto é
o que explica a queda acumulada de 1,1% na FBCF entre janeiro e setembro de
2023 (em relação ao mesmo período de 2022), mesmo com os crescimentos
acumulados de 3,7% no Consumo das Famílias brasileiras e de 10,3% nas
Exportações.
O
Estado até tentou empurrar nossa economia de freio de mão puxado para o caminho
do crescimento, com o aumento de 1% nas despesas entre janeiro e setembro de
2023. Mas o tipo do gasto ainda não é o correto. Aumentar o consumo final não
será suficiente para a retomada. O Estado precisa, urgentemente, estimular a
produção nos setores de bens de capital.
Mas, para isso, devido ao retrocesso da desindustrialização vivida desde os anos 1990, é preciso de um grande plano articulado de promoção das atividades ligadas aos mais modernos paradigmas tecnológicos. Certamente, a desglobalização e a disputa entre EUA e China são ótimas janelas de oportunidade. Agora, só falta combinar com os Russos, no caso: a burguesia brasileira, o Congresso Nacional, o Banco Central, o Fernando Haddad...
[i] Professor
do DRI/UFPB, PPGCPRI/UFPB e PPGRI/UEPB. Coordenador do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula,
Valentine de Moura, Helen Tomaz, Raquel Lima e Letícia Rocha.
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