Semana de 20 a 26 de novembro de 2023
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Prezados
leitores, uma notícia “nacional” chamou a atenção na semana que passou: segundo
a pesquisa “Monitor do PIB”, do Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE),
nosso PIB ficou estagnado entre o segundo e o terceiro trimestre de 2023. Em
outras palavras: no acumulado entre os meses de julho, agosto e setembro de
2023, o Brasil produziu a mesma quantidade de riqueza (PIB) que havia produzido
entre abril, maio e junho. Na comparação mensal a situação é ainda pior, pois a
pesquisa indica que o PIB de setembro foi 0,6% menor que o de agosto (e neste
mês o PIB já havia sido menor que o de julho).
Ou
seja, aquele forte crescimento vivido no começo do ano parece estar se
esvaindo. A questão que fica é: por quê?
Para
responder a essa pergunta, é preciso olhar melhor os dados da pesquisa. Pela
ótica da despesa, na comparação entre o 3º trimestre de 2023 e o 3º trimestre
de 2022, tivemos melhoria em três componentes: as famílias ampliaram seu
consumo em 2,5%; as exportações subiram 10,6%; e as importações caíram 7,0%.
Olhando para esses dados, era de se esperar que a economia estivesse decolando.
Contudo, remetendo às discussões que estamos fazendo desde o começo do ano aqui
nesta coluna, é preciso que esse crescimento chegue a uma parte bem específica
da nossa economia: a indústria de bens de capital, o que não tem acontecido.
Ainda
segundo a pesquisa do IBRE FGV, a formação bruta de capital fixo (FBCF), ou
seja, a parcela do PIB que corresponde às despesas, para ampliação da
capacidade produtiva das empresas (mais a construção civil), diminuiu 5,3% na
comparação entre o 3º trimestre de 2023 e o 3º trimestre de 2022. O destaque
para essa queda vem da aquisição de máquinas e equipamentos, que tem
apresentado redução desde o primeiro trimestre de 2023.
Esses
dados da pesquisa mostram que o atual crescimento brasileiro tem se concentrado
em gastos que aceleram rápido a economia, porém de forma limitada e pouco
duradoura. Isto pode ser visto nos dados do nível de uso da capacidade
instalada da indústria brasileira. Segundo dados da CNI, em 2019, antes da
pandemia de Covid-19, a indústria brasileira usava 77,4% da sua capacidade
instalada. Esse percentual caiu para 76,8% em 2020 (ano inicial da pandemia),
subiu para 81% em 2021 (quando o PIB cresceu 5%), caiu para 80,5% em 2022 (PIB
cresceu 2,9%) e fechou setembro de 2023 em 78,1%.
Os
investimentos em ampliação da capacidade produtiva são fundamentais para puxar
a atividade econômica nas fases de reanimação e auge do ciclo econômico. E aqui
podemos apontar duas questões que explicam o Brasil ainda não decolar.
Primeiro,
os gastos que foram possíveis de realizar pelo governo Lula têm passado longe
dos investimentos (reajuste do salário mínimo, de bolsas de pesquisa e do Bolsa
Família, renegociação de dívidas, etc.). Isto garante maior consumo para a
população, mas não o suficiente para se iniciarem os grandes investimentos. A
promessa é que isto virá com a “neoindustrialização”, que deve ter o novo PAC
(Programa de Aceleração do Crescimento) como principal instrumento.
Contudo,
isto ainda não será suficiente para a economia brasileira decolar, o que nos
remete ao segundo aspecto que explica a estagnação brasileira atual: ainda não
superamos as fases de crise e depressão do ciclo econômico. A economia mundial
iniciou uma crise entre 2018 e 2019, mas esta foi “deformada” pela pandemia.
Apesar da queda em 2020, quase todas as economias nacionais (sobretudo aquelas
que dominam as tecnologias “beneficiadas” pela pandemia e pelo isolamento
social, como a farmacêutica, informação e comunicação, transportes, etc.),
tiveram uma rápida e forte recuperação. E foi isto que “degenerou” o ciclo e
impediu que a crise se completasse.
Mas, como lei do capitalismo, o que o mundo está vivendo hoje é precisamente a desaceleração econômica resultante da crise mal-acabada, que se impõe como necessidade. Diante disto, não há o que o Brasil fazer, pois nós não somos capazes de ditar o movimento cíclico do capitalismo mundial. Nessa viagem somos apenas passageiros e o máximo que pode nos acontecer é perder o bonde (como nos anos 1990), mas não podemos pilotá-lo.
[i] Professor
do DRI/UFPB, PPGCPRI/UFPB e PPGRI/UEPB. Coordenador do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula,
Valentine de Moura, Helen Tomaz, Gustavo Figueiredo.
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