sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Por que o crescimento brasileiro esfriou?

Semana de 20 a 26 de novembro de 2023

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Prezados leitores, uma notícia “nacional” chamou a atenção na semana que passou: segundo a pesquisa “Monitor do PIB”, do Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE), nosso PIB ficou estagnado entre o segundo e o terceiro trimestre de 2023. Em outras palavras: no acumulado entre os meses de julho, agosto e setembro de 2023, o Brasil produziu a mesma quantidade de riqueza (PIB) que havia produzido entre abril, maio e junho. Na comparação mensal a situação é ainda pior, pois a pesquisa indica que o PIB de setembro foi 0,6% menor que o de agosto (e neste mês o PIB já havia sido menor que o de julho).

Ou seja, aquele forte crescimento vivido no começo do ano parece estar se esvaindo. A questão que fica é: por quê?    

Para responder a essa pergunta, é preciso olhar melhor os dados da pesquisa. Pela ótica da despesa, na comparação entre o 3º trimestre de 2023 e o 3º trimestre de 2022, tivemos melhoria em três componentes: as famílias ampliaram seu consumo em 2,5%; as exportações subiram 10,6%; e as importações caíram 7,0%. Olhando para esses dados, era de se esperar que a economia estivesse decolando. Contudo, remetendo às discussões que estamos fazendo desde o começo do ano aqui nesta coluna, é preciso que esse crescimento chegue a uma parte bem específica da nossa economia: a indústria de bens de capital, o que não tem acontecido.

Ainda segundo a pesquisa do IBRE FGV, a formação bruta de capital fixo (FBCF), ou seja, a parcela do PIB que corresponde às despesas, para ampliação da capacidade produtiva das empresas (mais a construção civil), diminuiu 5,3% na comparação entre o 3º trimestre de 2023 e o 3º trimestre de 2022. O destaque para essa queda vem da aquisição de máquinas e equipamentos, que tem apresentado redução desde o primeiro trimestre de 2023.

Esses dados da pesquisa mostram que o atual crescimento brasileiro tem se concentrado em gastos que aceleram rápido a economia, porém de forma limitada e pouco duradoura. Isto pode ser visto nos dados do nível de uso da capacidade instalada da indústria brasileira. Segundo dados da CNI, em 2019, antes da pandemia de Covid-19, a indústria brasileira usava 77,4% da sua capacidade instalada. Esse percentual caiu para 76,8% em 2020 (ano inicial da pandemia), subiu para 81% em 2021 (quando o PIB cresceu 5%), caiu para 80,5% em 2022 (PIB cresceu 2,9%) e fechou setembro de 2023 em 78,1%.

Os investimentos em ampliação da capacidade produtiva são fundamentais para puxar a atividade econômica nas fases de reanimação e auge do ciclo econômico. E aqui podemos apontar duas questões que explicam o Brasil ainda não decolar.

Primeiro, os gastos que foram possíveis de realizar pelo governo Lula têm passado longe dos investimentos (reajuste do salário mínimo, de bolsas de pesquisa e do Bolsa Família, renegociação de dívidas, etc.). Isto garante maior consumo para a população, mas não o suficiente para se iniciarem os grandes investimentos. A promessa é que isto virá com a “neoindustrialização”, que deve ter o novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) como principal instrumento.

Contudo, isto ainda não será suficiente para a economia brasileira decolar, o que nos remete ao segundo aspecto que explica a estagnação brasileira atual: ainda não superamos as fases de crise e depressão do ciclo econômico. A economia mundial iniciou uma crise entre 2018 e 2019, mas esta foi “deformada” pela pandemia. Apesar da queda em 2020, quase todas as economias nacionais (sobretudo aquelas que dominam as tecnologias “beneficiadas” pela pandemia e pelo isolamento social, como a farmacêutica, informação e comunicação, transportes, etc.), tiveram uma rápida e forte recuperação. E foi isto que “degenerou” o ciclo e impediu que a crise se completasse.

Mas, como lei do capitalismo, o que o mundo está vivendo hoje é precisamente a desaceleração econômica resultante da crise mal-acabada, que se impõe como necessidade. Diante disto, não há o que o Brasil fazer, pois nós não somos capazes de ditar o movimento cíclico do capitalismo mundial. Nessa viagem somos apenas passageiros e o máximo que pode nos acontecer é perder o bonde (como nos anos 1990), mas não podemos pilotá-lo.


[i] Professor do DRI/UFPB, PPGCPRI/UFPB e PPGRI/UEPB. Coordenador do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Valentine de Moura, Helen Tomaz, Gustavo Figueiredo.

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