Semana de 15 a 21 de
abril de 2024
Rosângela Palhano Ramalho [i]
O leitor atento deve ter percebido que os
noticiários sobre a economia brasileira estão repletos de críticas às mudanças
no arcabouço fiscal. A redefinição da meta fiscal de 2025 pelo governo federal
de 0,5% do PIB para 0%, gerou o prenúncio de um novo caos. O secretário do
Tesouro Nacional, Rogério Ceron, informou que a manutenção de um superávit
primário de 0,5% ano que vem, exigiria a criação ou o aumento de tributos,
medidas que poderiam interromper a trajetória de crescimento da economia. Ou
seja, o governo avaliou e uma decisão foi tomada.
O mercado ficou nervoso. Os vocábulos do
caos vieram à tona: incerteza, risco, cautela, custo, ajuste, juros...
Pronunciados pelos “analistas econômicos” da XP, Banco Fibra, SVN Gestão, BTG
Pactual, BNP Paribas, Citi, XP Asset Management, LCA Consultores, Ryo Asset, os
termos apenas refletem a preocupação com os interesses que representam.
Juntando-se ao time, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, com
sua peculiar soberba, “esclareceu” que os bancos centrais “têm de se abster de
fazer comentários sobre políticas fiscais”. Entretanto, não se fez de rogado e
tagarelou em várias entrevistas, que agora a autoridade monetária não poderá
garantir o compromisso de cortar a Selic em 0,5%, já que “o custo de fazer
política monetária” ficou mais alto. O gestor mostrou-se bastante ansioso em
aplicar o remédio amargo dos juros altos aos colegas indisciplinados
responsáveis pela área fiscal.
Por outro lado, a extensão da guerra
Israel-Palestina para o Irã também gerou alvoroço. E agora? Será que, com o
possível aumento do preço do barril de petróleo derivado deste conflito, a
Petrobras reduzirá a defasagem interna dos preços dos combustíveis? Por
defasagem, leia-se aumento de preços! E esta defesa é feita pelos mesmos
paladinos que se mostram preocupados com os efeitos inflacionários! Vejam só
que absurdo, o acionista majoritário da Petrobras impedindo que a população
seja punida e prejudicando os ganhos dos acionistas!
Ao mesmo tempo em que estas “grandes
preocupações” pautam as análises da economia, os indicadores de crescimento
continuam a ser divulgados. E, obviamente, com um pouco menos de destaque nas
manchetes jornalísticas. Consumo e renda apresentaram, em janeiro,
significativa melhora, o que provocou uma revisão das projeções de crescimento
do PIB para o primeiro trimestre de 2024 e para o resultado anual. Dentre as
instituições financeiras levantadas, o crescimento trimestral tem média de
0,75% e a estimativa de crescimento anual cresceu de uma média de 1,7% para 2%.
O monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas cresceu 0,8% em fevereiro. Quando
comparado ao mesmo mês do ano passado, o indicador aumentou 3,5%, e, quando
apurados os últimos 12 meses, a alta é de 3%. Os investimentos, segundo apurou
a FGV, estão se recuperando e o setor de serviços apresenta crescimento em
todas as modalidades.
Já o Índice de Atividade Econômica do Banco
Central (IBC-Br), um dos principais termômetros do PIB, subiu 0,4% em
fevereiro, quando comparado a janeiro. Os resultados são mais modestos que os
da FGV. Mas vale salientar que o IBC-Br já registra quatro altas mensais
consecutivas e em 12 meses o avanço foi de 2,34%. Por setores, o varejo
ampliado, que inclui veículos, material de construção e atacarejo, foi o que
apresentou melhor resultado: alta de 1,2% nas vendas.
Enquanto os anunciadores do novo caos se deleitam elegendo um apocalipse para chamar de seu, o governo Lula trabalha para fortalecer a reanimação econômica. Para isso, equilibra-se tentando superar as dificuldades de negociação com o Congresso Nacional. E o pior, segue enfrentando as mais ardilosas artimanhas golpistas, com personagens que ainda não saíram de cena e continuam a esgueirar-se nas trevas, ousando sair das suas catacumbas para assombrar a democracia brasileira, desta vez com o apoio da extrema-direita internacional. Continuemos atentos!
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e
pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br,
rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Brenda Tiburtino,
Valentine de Moura, Lara Souza e Maria Vitória.