Semana de 8 a 14 de
abril de 2024
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Como destacamos em nossas últimas análises,
o processo de recuperação da economia continua em marcha. Agora mesmo, o Banco
Mundial acaba de revisar de 1,3% para 1,7% sua projeção para o crescimento do
PIB no Brasil, enquanto o “mercado” e o Boletim Focus do Banco Central estimam
em 1,9%, e o Ministério da Fazenda em 2,2%. Corremos, porém, o risco de estar
diante de um “voo de galinha”, e a recuperação ser abortada. Como afirmado
anteriormente, temos um grande problema com o setor produtor de “meios de produção”,
o setor de máquinas e equipamentos, que nas nossas estatísticas é medido pelos
números da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), tem andado muito mal. Isto é
agravado pelo envelhecimento de nosso parque industrial. A própria Confederação
Nacional da Indústria (CNI) afirma que a idade média dos equipamentos da
indústria é alta e mais de um terço está obsoleto. Segundo a pesquisa, ela
encontra-se em torno dos 14 anos, e 38% está nos limites da idade, sinalizada
como ciclo de vida ideal. Com isto a
produtividade é baixa, o que compromete a competitividade. Este é um problema,
que só pode ser resolvido com uma política industrial ousada, que busque uma
nova inserção no atual processo de globalização.
A situação é mais grave porque essa
neoindustrialização deve ser feita em um ambiente externo adverso e em grandes
mudanças. A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina
Georgieva, afirmou em um discurso no Atlantic Council, centro de estudos de
temas internacionais com sede em Washington, que “a atividade global está fraca
em comparação com padrões históricos e as perspectivas de crescimento têm
desacelerado desde a crise financeira global.” Os banqueiros dos Bancos
Centrais do mundo, reunidos no simpósio de Jakson Hole, constataram algumas
dessas mudanças. A primeira delas é a permanência da inflação, que não foi
controlada e que continua a exigir taxas de juros elevadas. Tanto Jerome Powell
(Fed dos EUA), como Christine Lagarde (Banco Central Europeu) confirmaram que é
cedo para contar vantagem no controle da inflação. Nos EUA, a inflação continua
a manter-se acima da meta, o que está obrigando o Fed preservar os juros altos
e a levantar a hipótese de um aumento. Isso foi suficiente para uma subida do
dólar e uma desvalorização das moedas dos emergentes, inclusive o real.
Corremos o risco de importar a inflação mundial, o que poderá prejudicar a
trajetória de redução da Selic e criar ainda mais problemas para os
investimentos.
Outro assunto destacado foi a instabilidade
nas condições de oferta, diante dos Lockdowns, das pandemias, da ruptura das
cadeias de suprimento, dos conflitos de energia etc. Falou-se ainda no aumento
dos déficits fiscais, que abalam os orçamentos dos Estados, e nas mudanças da
importância dos diferentes países como a China e Índia, no processo de
globalização. Foram destacados os conflitos que contribuem para o aumento da
instabilidade mundial.
Se não fossem suficientes estas dificuldades econômicas, o desafio de reconstrução do país é tumultuado pela ação irresponsável da horda bolsomínia instalada dentro do Congresso e, agora, estimulada pelas convocações para as manifestações de rua. Surgiu ainda mais um reforço vindo do exterior, o que demonstra que a direita tem uma articulação internacional, que decidiu apoiar a desestabilização do Brasil, respondendo ao apelo de grupos de parlamentares, que tem feito incursões no exterior, conclamando ações contra o país. A mais recente manifestação veio do bilionário Elon Musk, que ameaçou não obedecer às decisões do STF para a retirada de contas nas plataformas de sua propriedade. O STF teve de tomar sérias medidas que o fizeram desdizer o que havia dito. No entanto, suas empresas continuam tentando ações contra o judiciário e incitando seus apoiadores através das redes sociais, e de parlamentares a seu serviço. Estas articulações acendem o alerta para a continuidade da conspiração para a realização do golpe, ou seja, o bolsonarismo ainda não se deu por vencido. Toda atenção torna-se necessária para que esta nova tentativa seja abortada.
[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do
Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira;
nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
Colaboraram os pesquisadores: Paola Arruda, Dulce Emile, Brenda Tiburtino,
Maria Vitória Freitas e Lara Souza.
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