Semana de 29 de julho a 04 de agosto
de 2024
Paola Teotônio Cavalcanti de Arruda[i]
Mais uma semana se inicia e, junto com ela,
há uma enxurrada de notícias sobre a importância do cumprimento do arcabouço
fiscal e da contenção de gastos. Todos os impasses econômicos do país, de
acordo com os grandes veículos de informação, são provenientes dos problemas
anteriores ou de seus adjacentes. Assim, se a indústria brasileira vai mal, a
responsabilidade é dos custos trabalhistas, dos gastos com a previdência e da
despesa pública, que roubam a produtividade nacional. Forjam-se dados e
projeções evidentemente falhos, para que se possa reproduzir um discurso
conservador, costumeiramente acompanhado de ataques a medidas anticíclicas
empreendidas pelo governo.
Fato é que, sem uma leitura crítica do que
é divulgado nos jornais, é muito difícil identificar o que realmente
corresponde à realidade. Veja bem, caro leitor, nas últimas semanas muito se
tem falado sobre a definição da Selic, por parte do Copom. Ainda que, a
contragosto da elite monetária, a queda na taxa de juros do país tenha
acontecido, continua a haver disparate argumentativo pelo retorno do seu
aumento. Não importa o quanto se argumente a favor da redução dos juros no
país, demonstrando que isso seria benéfico para a indústria, o emprego, a renda
e o consumo. Sempre haverá um modelo econômico limitado, tentando reproduzir
para o futuro o que acreditam ter revelado o passado.
Talvez esse seja o maior embate teórico da
economia. A ciência econômica sempre atuou para legitimar medidas
governamentais que beneficiam interesses específicos, mascarando essas decisões
como meras questões técnicas. Com uma linguagem acessível a apenas um círculo
restrito de especialistas, o discurso econômico também atua como uma barreira
que exclui a população geral da discussão sobre a apropriação da riqueza. Por
exemplo, os defensores da manutenção da Selic em 10,5% justificam essa escolha
com base na recente alta do dólar, que subiu de R$ 5,15 para mais de R$ 5,60 em
dois meses, e no aumento da expectativa de inflação para 2024, de 3,7% para
4,1%. No entanto, essa argumentação é contraditória, pois a margem permitida de
inflação para 2024 é de 4,5%, o que indica que o aumento de 0,4 ponto
percentual ainda está dentro do limite aceitável. Esse acréscimo, portanto, não
é suficiente, nem para justificar a manutenção de uma taxa de juros tão alta,
nem um aumento desta taxa, visto que não evidencia risco significativo de
descontrole inflacionário.
Ainda que nos passe despercebido, a ciência
é uma arena de luta de classes. Não é coincidência que a teoria econômica por
trás das decisões do Banco Central esteja em concordância com os interesses do
mercado financeiro. Por mais “neutro” e “técnico” que possa parecer um campo de
conhecimento, uma teoria ou um método analítico, existe uma corrente teórica,
com viés ideológico, orientando a construção e a condução dos modelos do
pensamento preponderantes.
A partir desse entendimento, fica mais fácil compreender de onde emanam as ideias de que uma nova Reforma da Previdência, com cada vez menos garantias, é necessária; ou de que serão justamente os benefícios sociais os responsáveis por quebrar a economia do país. É necessário que o povo acredite que trabalhar cada vez mais e receber cada vez menos é um custo essencial a se pagar, em troca da relativa “sustentabilidade” de um sistema previdenciário ou de um sistema econômico. Desmistificar esse discurso é essencial, nesse contexto. E é isso que tentamos fazer aqui, caro leitor, para que não sejamos aprisionados na caverna na ignorância e da manipulação.
[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduanda em Relações
Internacionais (UFPB) (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Brenda
Tiburtino, Raquel Lima e Paulo Victor.
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