quinta-feira, 8 de agosto de 2024

A Guerra Invisível da Economia Brasileira

Semana de 29 de julho a 04 de agosto de 2024

 

Paola Teotônio Cavalcanti de Arruda[i]

           

Mais uma semana se inicia e, junto com ela, há uma enxurrada de notícias sobre a importância do cumprimento do arcabouço fiscal e da contenção de gastos. Todos os impasses econômicos do país, de acordo com os grandes veículos de informação, são provenientes dos problemas anteriores ou de seus adjacentes. Assim, se a indústria brasileira vai mal, a responsabilidade é dos custos trabalhistas, dos gastos com a previdência e da despesa pública, que roubam a produtividade nacional. Forjam-se dados e projeções evidentemente falhos, para que se possa reproduzir um discurso conservador, costumeiramente acompanhado de ataques a medidas anticíclicas empreendidas pelo governo.

Fato é que, sem uma leitura crítica do que é divulgado nos jornais, é muito difícil identificar o que realmente corresponde à realidade. Veja bem, caro leitor, nas últimas semanas muito se tem falado sobre a definição da Selic, por parte do Copom. Ainda que, a contragosto da elite monetária, a queda na taxa de juros do país tenha acontecido, continua a haver disparate argumentativo pelo retorno do seu aumento. Não importa o quanto se argumente a favor da redução dos juros no país, demonstrando que isso seria benéfico para a indústria, o emprego, a renda e o consumo. Sempre haverá um modelo econômico limitado, tentando reproduzir para o futuro o que acreditam ter revelado o passado.

Talvez esse seja o maior embate teórico da economia. A ciência econômica sempre atuou para legitimar medidas governamentais que beneficiam interesses específicos, mascarando essas decisões como meras questões técnicas. Com uma linguagem acessível a apenas um círculo restrito de especialistas, o discurso econômico também atua como uma barreira que exclui a população geral da discussão sobre a apropriação da riqueza. Por exemplo, os defensores da manutenção da Selic em 10,5% justificam essa escolha com base na recente alta do dólar, que subiu de R$ 5,15 para mais de R$ 5,60 em dois meses, e no aumento da expectativa de inflação para 2024, de 3,7% para 4,1%. No entanto, essa argumentação é contraditória, pois a margem permitida de inflação para 2024 é de 4,5%, o que indica que o aumento de 0,4 ponto percentual ainda está dentro do limite aceitável. Esse acréscimo, portanto, não é suficiente, nem para justificar a manutenção de uma taxa de juros tão alta, nem um aumento desta taxa, visto que não evidencia risco significativo de descontrole inflacionário.

Ainda que nos passe despercebido, a ciência é uma arena de luta de classes. Não é coincidência que a teoria econômica por trás das decisões do Banco Central esteja em concordância com os interesses do mercado financeiro. Por mais “neutro” e “técnico” que possa parecer um campo de conhecimento, uma teoria ou um método analítico, existe uma corrente teórica, com viés ideológico, orientando a construção e a condução dos modelos do pensamento preponderantes.

A partir desse entendimento, fica mais fácil compreender de onde emanam as ideias de que uma nova Reforma da Previdência, com cada vez menos garantias, é necessária; ou de que serão justamente os benefícios sociais os responsáveis por quebrar a economia do país. É necessário que o povo acredite que trabalhar cada vez mais e receber cada vez menos é um custo essencial a se pagar, em troca da relativa “sustentabilidade” de um sistema previdenciário ou de um sistema econômico. Desmistificar esse discurso é essencial, nesse contexto. E é isso que tentamos fazer aqui, caro leitor, para que não sejamos aprisionados na caverna na ignorância e da manipulação.


[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduanda em Relações Internacionais (UFPB) (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Brenda Tiburtino, Raquel Lima e Paulo Victor.

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