Semana de 22 a 27 de
julho de 2024
Nelson Rosas Ribeiro[i]
As eleições na Venezuela continuam a
preencher todo o noticiário. É um prato cheio para a cambada bolsomínia e está
emparedando o nosso governo. A situação é bastante complexa e o governo Maduro
encontra-se em posição delicada para explicar as dúvidas, que se espalham pela
comunidade mundial, desejosa de esmagar a experiência “bolivariana”. Chovem as críticas ao processo eleitoral cuja
imparcialidade é posta em dúvida, fato agravado pelas indecisões do governo em
divulgar documentos que comprovam sua validade. São igualmente contestadas as
resoluções e declarações dos tribunais eleitorais que atestam a vitória do
atual presidente Nicolás Maduro. Afirma-se que estes tribunais foram
“aparelhados” pelo próprio Maduro e são, portanto, suspeitos. Os críticos assumem-se
como donos da verdade incontestável, embora não tenham ido à Venezuela nem
tenham feito estudos profundos sobre a realidade do país. A direita furiosa
esquece-se que, por cá, eles tentaram impedir as eleições e depois,
insatisfeitos com os resultados divulgados, procuraram impedir a posse dos
eleitos. Reconhecemos que a situação na Venezuela é bastante complexa, mas não
podemos nos comprometer com os possíveis erros que por lá tenham sido
cometidos. Esperamos que os documentos e provas, que estão sendo exigidos pela
comunidade internacional, sejam fornecidos, a fim de podermos fazer um melhor
juízo sobre o caso.
Os acontecimentos na Venezuela são tão
importantes que, até o massacre que continua em ocorrer em Gaza, estendendo-se
para o Líbano e agora para o Irã, e a luta na Ucrânia, ficaram em segundo
plano. O governo de Israel continua a rasgar todas as resoluções da ONU e dos
tribunais internacionais e a promover ataques dentro do Líbano e Teerã para
executar possíveis dirigentes do Hamas, mesmo que para isto morram dezenas de
civis, que nada tem a ver com a situação. Por seu lado, a situação na Ucrânia
também tende a se agravar, com o envio de novas armas pelos países ocidentais e
os ataques, cada vez mais frequentes, ao território da Rússia. Nada disto tem
importância diante da cruzada contra Maduro e a Venezuela.
Internamente, os crimes contra a economia
continuam a ser cometidos. O pânico atingiu o Banco Central (BC) após a
divulgação do crescimento de 1% da produção industrial, no primeiro trimestre,
em relação ao trimestre anterior. Outra notícia que os preocupou, foi a queda
do desemprego, que atingiu a taxa de 6,9%, a menor taxa desde 2014. Claro, que
com estas desagradáveis notícias o bravo presidente do BC, Roberto Campos Neto,
liderou a reunião do Copom mantendo os juros de referência Selic no mesmo patamar,
10,5%, obedecendo aos ditames do “mercado”, para alegria dos especuladores.
Toquem os clarins: é preciso deter a inflação (eis o pretexto alegado).
Bravamente o vice-presidente Alckmin, no
evento States of the Future, realizado no Rio no âmbito do encontro do G-20,
defendia a redução dos juros, afirmando que os juros altos, praticados no país,
prejudicam a industrialização.
Já
afirmamos várias vezes, nesta coluna, que o papel do BC tem sido de sabotador
do crescimento da economia. O que eles fazem não é por pura maldade, mas por
pura ideologia. Eles professem a fé na teoria neoclássica, teoria econômica que
afirma que a inflação é o resultado do desequilíbrio entre oferta e procura.
Aumentando os juros reprime-se a demanda, ao dificultar os empréstimos e o
financiamento das atividades econômicas, quer sejam do comércio, indústria, serviços
ou agricultura. Dificulta-se igualmente o consumo, o que reduz as encomendas
aos setores produtivos. Para combater a inflação o preço é a miséria, a fome, o
desemprego, a falência das empresas, a redução dos salários. Este é o resultado
que eles não revelam pois seria vergonhoso demais.
Importante pronunciamento do
Vice-presidente quando, no encontro citado, comparou os juros, que os
empresários aqui dentro são obrigados a pagar (8%), com os jutos pagos nos
financiamentos feitos lá fora (0 ou 1%) e indagou: “… como é que eu vou
competir?”.
Não vamos, a não ser que haja uma vassourada nos fanáticos ou corruptos dirigentes do BC, sabotadores do crescimento da economia do país.
[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do
Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira;
nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
Colaboraram os pesquisadores: Ryan Felix, Raquel Lima, Valentine Moura, Lara Souza
e Gustavo Figueiredo
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