sábado, 3 de agosto de 2024

Entre a Venezuela e o Copom

Semana de 22 a 27 de julho de 2024

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

As eleições na Venezuela continuam a preencher todo o noticiário. É um prato cheio para a cambada bolsomínia e está emparedando o nosso governo. A situação é bastante complexa e o governo Maduro encontra-se em posição delicada para explicar as dúvidas, que se espalham pela comunidade mundial, desejosa de esmagar a experiência “bolivariana”.  Chovem as críticas ao processo eleitoral cuja imparcialidade é posta em dúvida, fato agravado pelas indecisões do governo em divulgar documentos que comprovam sua validade. São igualmente contestadas as resoluções e declarações dos tribunais eleitorais que atestam a vitória do atual presidente Nicolás Maduro. Afirma-se que estes tribunais foram “aparelhados” pelo próprio Maduro e são, portanto, suspeitos. Os críticos assumem-se como donos da verdade incontestável, embora não tenham ido à Venezuela nem tenham feito estudos profundos sobre a realidade do país. A direita furiosa esquece-se que, por cá, eles tentaram impedir as eleições e depois, insatisfeitos com os resultados divulgados, procuraram impedir a posse dos eleitos. Reconhecemos que a situação na Venezuela é bastante complexa, mas não podemos nos comprometer com os possíveis erros que por lá tenham sido cometidos. Esperamos que os documentos e provas, que estão sendo exigidos pela comunidade internacional, sejam fornecidos, a fim de podermos fazer um melhor juízo sobre o caso.

Os acontecimentos na Venezuela são tão importantes que, até o massacre que continua em ocorrer em Gaza, estendendo-se para o Líbano e agora para o Irã, e a luta na Ucrânia, ficaram em segundo plano. O governo de Israel continua a rasgar todas as resoluções da ONU e dos tribunais internacionais e a promover ataques dentro do Líbano e Teerã para executar possíveis dirigentes do Hamas, mesmo que para isto morram dezenas de civis, que nada tem a ver com a situação. Por seu lado, a situação na Ucrânia também tende a se agravar, com o envio de novas armas pelos países ocidentais e os ataques, cada vez mais frequentes, ao território da Rússia. Nada disto tem importância diante da cruzada contra Maduro e a Venezuela.

Internamente, os crimes contra a economia continuam a ser cometidos. O pânico atingiu o Banco Central (BC) após a divulgação do crescimento de 1% da produção industrial, no primeiro trimestre, em relação ao trimestre anterior. Outra notícia que os preocupou, foi a queda do desemprego, que atingiu a taxa de 6,9%, a menor taxa desde 2014. Claro, que com estas desagradáveis notícias o bravo presidente do BC, Roberto Campos Neto, liderou a reunião do Copom mantendo os juros de referência Selic no mesmo patamar, 10,5%, obedecendo aos ditames do “mercado”, para alegria dos especuladores. Toquem os clarins: é preciso deter a inflação (eis o pretexto alegado).

Bravamente o vice-presidente Alckmin, no evento States of the Future, realizado no Rio no âmbito do encontro do G-20, defendia a redução dos juros, afirmando que os juros altos, praticados no país, prejudicam a industrialização.

 Já afirmamos várias vezes, nesta coluna, que o papel do BC tem sido de sabotador do crescimento da economia. O que eles fazem não é por pura maldade, mas por pura ideologia. Eles professem a fé na teoria neoclássica, teoria econômica que afirma que a inflação é o resultado do desequilíbrio entre oferta e procura. Aumentando os juros reprime-se a demanda, ao dificultar os empréstimos e o financiamento das atividades econômicas, quer sejam do comércio, indústria, serviços ou agricultura. Dificulta-se igualmente o consumo, o que reduz as encomendas aos setores produtivos. Para combater a inflação o preço é a miséria, a fome, o desemprego, a falência das empresas, a redução dos salários. Este é o resultado que eles não revelam pois seria vergonhoso demais.

Importante pronunciamento do Vice-presidente quando, no encontro citado, comparou os juros, que os empresários aqui dentro são obrigados a pagar (8%), com os jutos pagos nos financiamentos feitos lá fora (0 ou 1%) e indagou: “… como é que eu vou competir?”.

Não vamos, a não ser que haja uma vassourada nos fanáticos ou corruptos dirigentes do BC, sabotadores do crescimento da economia do país.


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ryan Felix, Raquel Lima, Valentine Moura, Lara Souza e Gustavo Figueiredo

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog