quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Copom informa: desemprego baixo não será tolerado!

Semana de 12 a 18 de agosto de 2024

 

Rosângela Palhano Ramalho [i]

            

Se o leitor está atento às notícias econômicas da última semana, percebeu que, apesar das barreiras a superar, tratadas em nossa última análise, a economia brasileira segue apresentando bons resultados. O varejo continua a crescer. A Abrafarma, associação do comércio farmacêutico, informou que o faturamento do setor ultrapassará R$ 100 bilhões este ano. Já o setor de serviços, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE, continua virtuoso. O resultado mostrou avanço de 1,7% em junho comparado a maio. O setor externo registra recordes. No primeiro semestre de 2024, a balança comercial computou o segundo maior superávit da série histórica: o saldo positivo foi de US$ 43,1 bilhões, puxado essencialmente, pela comercialização do setor primário.

O presidente Lula, em entrevista, retratou bem o cenário econômico atual: “O que está acontecendo no Brasil é o seguinte: a inflação está controlada, o salário e a massa salarial estão crescendo, o desemprego nós vamos chegar logo na menor taxa.” Mas, os resultados profícuos da atividade econômica são, no momento, o principal motivo de preocupação do Comitê de Política Monetária, responsável pela manutenção da taxa de juros em 10,5% na última reunião. Dois de seus membros, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e o diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, passaram a fazer declarações na imprensa, logo após a divulgação, em 06 de agosto, da ata que resumiu a decisão tomada. Segundo eles, os riscos inflacionários são grandes, pois a economia está aquecida. Por esta razão, o aumento da taxa de juros já “estaria na mesa” da próxima reunião do Copom, que acontecerá entre os dias 17 e 18 de setembro. Os analistas dos principais meios de comunicação do país informam euforicamente que tais declarações estão recuperando a credibilidade do Banco Central. O substantivo teria sido perdido ao longo dos últimos meses, e as expectativas quanto ao aumento da inflação estariam piorando, já que a instituição não teria sinalizado de forma enfática que tomaria a providência necessária para conter a inflação no presente.

Assim, “somos convencidos” de que uma política monetária contracionista é inevitável, pois não suportaríamos o retorno da “besta econômica”. Entretanto, como já afirmamos nesta coluna, não há descontrole inflacionário. Embora o IPCA computado nos últimos 12 meses finalizados em julho, segundo o IBGE, esteja alcançando o teto da meta de 4,5%, a inflação computada no acumulado de 2024 até julho foi de 2,87% e certamente fechará o ano abaixo do teto máximo da meta! Até o Relatório Focus, base de apuração das expectativas dos “especuladores financeiros” e principais interessados na alta dos juros, apurou expectativa anual de inflação de 4,2%, também abaixo do teto. Mas, como as tais expectativas estão próximas do teto definido pelo Banco Central, o “mercado” passou a pressionar o Copom para que aumente os juros, pois só o aperto seria crível. A pressão alcança um tom de ameaça: ou se “ancora” as expectativas ou a reputação da instituição continuará a ser atacada.

A autoridade monetária já sinalizou que vai fazer “o que o senhor mandou” na seguinte frase da sua ata: “O Comitê não se furtará ao seu compromisso com o atingimento da meta de inflação e entende o papel fundamental das expectativas na dinâmica da inflação.” E, afinal, quem ousou despertar a “besta”? O Copom responde: ora, quem trabalha! Com a menor taxa de desemprego em dez anos e aumento das rendas do trabalho e da massa de rendimentos, o que o trabalhador faz? Compra e atrapalha tudo! Segue trecho da ata em que o Copom demonstra sua indignação: “...o nível de ocupação, a taxa de desocupação e a renda vêm sistematicamente surpreendendo...” Ou seja, por essa não se esperava!

Mas não nos preocupemos. O Copom já informou: não será leniente! Não tolerará mais crescimento, nem mais emprego. A “...resiliência da atividade doméstica e sustentação do consumo ao longo do tempo...” citadas em sua ata serão duramente combatidas! Fomos avisados. O arrocho está na mesa...


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Lara Souza, Maria Fernanda Vieira, Raquel Lima e Brenda Tiburtino.

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