Semana de 12 a 18 de agosto de 2024
Rosângela Palhano Ramalho [i]
Se o leitor está atento às notícias
econômicas da última semana, percebeu que, apesar das barreiras a superar,
tratadas em nossa última análise, a economia brasileira segue apresentando bons
resultados. O varejo continua a crescer. A Abrafarma, associação do comércio
farmacêutico, informou que o faturamento do setor ultrapassará R$ 100 bilhões
este ano. Já o setor de serviços, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços do
IBGE, continua virtuoso. O resultado mostrou avanço de 1,7% em junho comparado
a maio. O setor externo registra recordes. No primeiro semestre de 2024, a
balança comercial computou o segundo maior superávit da série histórica: o
saldo positivo foi de US$ 43,1 bilhões, puxado essencialmente, pela
comercialização do setor primário.
O presidente Lula, em entrevista, retratou
bem o cenário econômico atual: “O que está acontecendo no Brasil é o seguinte:
a inflação está controlada, o salário e a massa salarial estão crescendo, o
desemprego nós vamos chegar logo na menor taxa.” Mas, os resultados profícuos
da atividade econômica são, no momento, o principal motivo de preocupação do
Comitê de Política Monetária, responsável pela manutenção da taxa de juros em
10,5% na última reunião. Dois de seus membros, Roberto Campos Neto, presidente
do Banco Central, e o diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel
Galípolo, passaram a fazer declarações na imprensa, logo após a divulgação, em
06 de agosto, da ata que resumiu a decisão tomada. Segundo eles, os riscos
inflacionários são grandes, pois a economia está aquecida. Por esta razão, o
aumento da taxa de juros já “estaria na mesa” da próxima reunião do Copom, que
acontecerá entre os dias 17 e 18 de setembro. Os analistas dos principais meios
de comunicação do país informam euforicamente que tais declarações estão
recuperando a credibilidade do Banco Central. O substantivo teria sido perdido
ao longo dos últimos meses, e as expectativas quanto ao aumento da inflação
estariam piorando, já que a instituição não teria sinalizado de forma enfática
que tomaria a providência necessária para conter a inflação no presente.
Assim, “somos convencidos” de que uma
política monetária contracionista é inevitável, pois não suportaríamos o
retorno da “besta econômica”. Entretanto, como já afirmamos nesta coluna, não
há descontrole inflacionário. Embora o IPCA computado nos últimos 12 meses
finalizados em julho, segundo o IBGE, esteja alcançando o teto da meta de 4,5%,
a inflação computada no acumulado de 2024 até julho foi de 2,87% e certamente
fechará o ano abaixo do teto máximo da meta! Até o Relatório Focus, base de
apuração das expectativas dos “especuladores financeiros” e principais
interessados na alta dos juros, apurou expectativa anual de inflação de 4,2%,
também abaixo do teto. Mas, como as tais expectativas estão próximas do teto
definido pelo Banco Central, o “mercado” passou a pressionar o Copom para que
aumente os juros, pois só o aperto seria crível. A pressão alcança um tom de
ameaça: ou se “ancora” as expectativas ou a reputação da instituição continuará
a ser atacada.
A autoridade monetária já sinalizou que vai
fazer “o que o senhor mandou” na seguinte frase da sua ata: “O Comitê não se
furtará ao seu compromisso com o atingimento da meta de inflação e entende o
papel fundamental das expectativas na dinâmica da inflação.” E, afinal, quem
ousou despertar a “besta”? O Copom responde: ora, quem trabalha! Com a menor
taxa de desemprego em dez anos e aumento das rendas do trabalho e da massa de
rendimentos, o que o trabalhador faz? Compra e atrapalha tudo! Segue trecho da
ata em que o Copom demonstra sua indignação: “...o nível de ocupação, a taxa de
desocupação e a renda vêm sistematicamente surpreendendo...” Ou seja, por essa
não se esperava!
Mas não nos preocupemos. O Copom já informou: não será leniente! Não tolerará mais crescimento, nem mais emprego. A “...resiliência da atividade doméstica e sustentação do consumo ao longo do tempo...” citadas em sua ata serão duramente combatidas! Fomos avisados. O arrocho está na mesa...
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e
pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br,
rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Lara Souza, Maria
Fernanda Vieira, Raquel Lima e Brenda Tiburtino.
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