Semana de 05 a 11 de agosto de 2024
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Caro
leitor, a semana que passou trouxe algumas informações relevantes sobre a
conjuntura brasileira. Há fortes indicativos de que a Economia está se
recuperando de forma consistente. Porém, alguns problemas estruturais estão
limitando este crescimento.
As
primeiras informações que indicam a recuperação da economia são relativas à
produção industrial, que apresentou crescimento de 4,1% entre junho e maio de
2024. No primeiro semestre deste ano, o crescimento acumulado é de 2,6%. A
produção industrial atual já está 2,8% acima do nível pré-pandemia (fevereiro
de 2020). Contudo, ainda está 14,3% abaixo do nível de maio de 2011, quando a
produção atingiu seu valor recorde.
Associando
estes dados a outros, vemos que nossa recuperação poderia ser ainda melhor.
Para compreender o motivo, é preciso resgatar um tema de que já falamos em
outros momentos: a desindustrialização. Resumidamente, o Brasil perdeu
importantes elos da sua cadeia produtiva dos anos 1990 para cá. Dentre os
principais elos perdidos está a indústria que produz máquinas e equipamentos, a
chamada indústria de bens de capital. Além disso, também perdemos um pouco a
mão no setor de bens de consumo e insumos.
Assim,
para a nossa economia funcionar, passamos a depender da importação de muitos
desses produtos. Como mostram os gráficos no fim do texto, a quantidade
produzida de bens industriais cresceu muito pouco entre janeiro de 2023 e junho
de 2024: entre esses dois meses, a produção de bens de capital caiu 1,1%;
enquanto isso, a produção de bens de consumo e a de bens intermediários subiu
1,7% e 4,0%, respectivamente. Enquanto isso, as importações cresceram
intensamente no mesmo período. Entre janeiro de 2023 e junho de 2024, pelo
índice de quantum, as compras de bens de capital cresceram 33,6%, de bens de
consumo, 24,6%, e de bens intermediários, 27,5%.
O
resultado prático disto é a redução daquilo que os economistas chamam de efeito
multiplicador da produção. Para entender esse termo, vamos admitir que um bem
de consumo seja produzido no Brasil. Para isto acontecer, será preciso consumir
energia elétrica, água, matérias-primas, equipamentos e um conjunto de outros
meios de produção no nosso território. Se esses meios de produção vêm de fora,
quase nada acontece no país. Mas, se eles são produzidos aqui no Brasil, sua
produção vai precisar de energia elétrica, água, matérias-primas, equipamentos
e um conjunto de outros meios de produção. Isso vai se multiplicando entre os
diversos elos que compõem a estrutura produtiva brasileira. Somado a isso,
serão contratados inúmeros trabalhadores, serão gerados empregos, salários,
lucros, impostos, etc. Com essa renda criada aqui, haverá circulação de
dinheiro e mais demanda, para botar a roda da economia para girar. Isso
estimula novamente a produção e dá novo impulso ao crescimento econômico.
O
problema é que, entre o impeachment de 2016 e o último ano do governo
Bolsonaro, predominaram políticas econômicas que travaram a roda da economia.
As medidas adotadas, ao invés de estimularem a produção no Brasil a crescer,
passaram a desestimular o crescimento da demanda. Desde então, a economia do
país cresceu mal e muito pouco. A mudança só veio no terceiro mandato de Lula,
que anunciou (ainda insuficientes) programas de promoção da indústria nacional.
Porém, estas ainda estão acontecendo em ritmo lento.
O
grande problema dessa demora não é apenas político. De fato, o Congresso
Nacional é um grande empecilho para a implementação das propostas do Executivo.
Contudo, vem do Banco Central (BC) e de seus representados, o setor
bancário-financeiro, a grande resistência econômica. Desde os primeiros meses
de mandato, Roberto Campos Neto vem atuando para manter uma política econômica
contrária à de Lula. Isto pode ser visto tanto na manutenção da alta taxa de
juros, quanto nas declarações que tem feito nos últimos tempos. A situação
ficou tão explícita que o próprio BC passou a ameaçar o governo por meios
oficiais, como as atas do Copom. Na última, o Comitê foi claro, ao opinar sobre
o déficit do orçamento federal (que não está sob ameaça real).
Naturalmente,
essa disputa entre “alas” do poder estatal não é mero capricho entre extrema
direita (Congresso e BC) e centro-esquerda (Executivo). O que estamos vendo é
uma disputa de poder político, para ver quem será o maior beneficiário
econômico de uma soma vultosa de dinheiro: o orçamento público. Infelizmente,
como sempre acontece, quem termina perdendo é a classe trabalhadora. Nós, meros
mortais, não podemos desfrutar do potencial econômico do país com um mínimo de
dignidade.
Figura 1
- Índices da produção e de quantum das importações de produtos industriais:
janeiro de 2023 a junho de 2024 (jan/23 = 100)
Fonte: PIM-PF/IBGE e COMEXSTAT/MDIC
[i] Professor do DRI/UFPB, do PPGCPRI/UFPB e do PPGRI/UEPB;
Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Raquel Lima, Maria Vitória Freitas, Lara
Souza, Guilherme de Paula e Paola Arruda.
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