Semana de 09 a 15 de setembro de 2024
Rosângela Palhano Ramalho [i]
Caro leitor, esta foi a semana das
surpresas! Após a divulgação do PIB trimestral de 1,4% no segundo trimestre do
ano, que cresceu acima do 0,9% esperado, novas informações reforçam o bom
momento econômico. O volume de vendas do varejo restrito, por exemplo, subiu
0,6% em julho quando comparado a junho. De novo, surpresa! A expectativa
mediana coletada pelo Jornal Valor Econômico era de aumento de 0,5%. E o varejo
ampliado, que inclui veículos, material de construção e atacarejo, cresceu
0,1%. Surpresa, de novo! A expectativa mediana para este indicador era de queda
de 0,4%. No que diz respeito aos serviços transacionados internamente, o volume
cresceu 1,2% em julho, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE.
Novamente, surpresa! Esperava-se pela mediana das estimativas, estabilidade e
não crescimento.
Para desespero de alguns e contrariando a
expectativa dos “mercados”, este aquecimento da economia não está gerando
“pressões” inflacionárias. O último dado sobre a inflação reforça a tendência
de o IPCA finalizar dentro dos parâmetros estabelecidos. Em agosto, foi
registrada pela primeira vez, em quase dois anos, uma deflação, ou seja,
redução generalizada dos preços internos. O IPCA caiu 0,02% e também este
resultado surpreendeu, tanto o mercado, que esperava uma alta de 0,01%, quanto
o Banco Central, que projetava alta de 0,07%! No acumulado do ano, a inflação
segue evoluindo no centro da meta e até agosto o índice acumulado é de 2,82%.
Em relação à inflação, o leitor assíduo de
nossa coluna deve ter notado que, ao longo deste ano, vários sinais de alerta
foram levantados. Associados, nem sempre pelos mesmos motivos, rentistas e
economistas ortodoxos, apresentaram os mais diversos cenários, sempre
alarmistas, nos quais eram listados os mais diversos riscos inflacionários. A
redefinição das metas fiscais, a aceleração pontual do câmbio, a tragédia do
Rio Grande do Sul, a “contaminação política” do Copom a corroer a credibilidade
do da autoridade monetária, a inflação dos serviços, o crescimento do PIB e do
emprego foram elencados como “riscos” para o aumento dos preços, em virtude da
desancoragem das expectativas inflacionárias... do mercado! Tal cenário
catastrófico gerou uma pressão sem precedentes para que o Banco Central volte a
adotar uma política monetária austera. O que se conseguiu até agora foi a
interrupção do ciclo de corte da taxa de juros em maio, que permanece em 10,5%
até hoje.
Mas, ao acessar as últimas manchetes
econômicas, percebe-se que a pressão pela alta continua. “Novos perigos” já
estão apresentados! Basta olhar como a deflação de agosto foi noticiada. Segue
alguns exemplos: “Deflação de 0,02% em agosto surpreende BC e mercado” (Jornal
do Brasil, 10/09/2024); “Deflação em agosto é pontual, e queda dos preços está
longe de trazer conforto para o Banco Central” (Estadão, 10/09/2024); “Deflação
é boa notícia em agosto, mas não deve durar ou impactar decisão do BC” (Globonews,
10/09/2024); “Com deflação, IPCA tem alívio pontual, mas seca já pressiona”
(Valor Econômico, 11/09/2024); “Brasil registra deflação em agosto, mas o
cenário ainda exige cautela” (Capital News, 14/09/2024). Surpresas, cautela,
riscos... O aumento do preço da energia elétrica e a seca que se abate sobre o
país são as novas desculpas para o aumento dos juros.
Enfim, a intervenção promovida pelo governo Lula tem produzido resultados, que não deveriam ser recebidos como surpresas já que em sua maioria, vêm seguindo uma tendência desde o final do ano passado. Já temos quase dois anos de gestão e não, o Brasil não se tornou uma Venezuela (na previsão de Paulo Guedes, seja lá o que isso for em sua cabeça sequelada de ideologia), nem a catástrofe inflacionária está a caminho. Entretanto, a alta da taxa de juros já está “contratada” pelo mercado. Nos dias 17 e 18 de setembro, o Copom volta a se reunir. E de novo, teremos a infelicidade de acompanhar a autoridade monetária curvando-se aos anseios do intangível ente, mesmo que isto custe ignorar os dados econômicos objetivos e eliminar as conquistas sociais derivadas do crescimento econômico. Neste ínterim, nenhuma surpresa!
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e
pesquisadora do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com;
rospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram: Lara Souza,
Guilherme de Paula, Ryann Félix e Gustavo Figueiredo.
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