Semana de 02 a 08 de setembro de 2024
Lucas Milanez de Lima Almeida[i]
Ainda em 2022, nós, redatores desta coluna,
previmos que, em 2023, o Brasil sairia do atoleiro que entrou no longínquo ano
de 2014. Não foi bola de cristal, mas a teoria que embasa nossas análises.
Detalhe, ela vem dos ensinamentos de Karl Marx...
O contexto das nossas previsões era
bastante tenebroso, sobretudo porque os “analistas do mercado” anunciavam uma
catástrofe causada pela terceira eleição de Lula. Recentemente, virou meme a
fala de Paulo Guedes ao (des)influenciador digital conhecido como “Primo Rico”.
O Brasil viraria uma Argentina e, depois, logo seria uma Venezuela. Hoje
risível, esta frase retrata muito bem o espírito (de porco) do “mercado” à
época. Contudo, quem estuda de forma séria um fenômeno conhecido como ciclo
econômico sabe que esse mal agouro só aconteceria se uma catástrofe se abatesse
sobre o país.
É da natureza do capitalismo oscilar entre
momentos de maior e menor intensidade do crescimento econômico. Além disso,
esse movimento é periódico e regular, por isso chamamos de movimento cíclico.
Por fim, não adianta tentar acabar com as crises que o capitalismo produz, o
máximo que se consegue é adiá-la ou mesmo prolongá-la.
Em 2014, o Brasil entrou numa fase de
desaceleração cíclica. Contudo, desde o Golpe de 2016, ainda sem termos
iniciado nossa recuperação, as políticas adotadas por Temer e Bolsonaro puxaram
o freio de mão da nossa economia. A austeridade fiscal imperou, enquanto partes
importantes da nossa sociedade (e não apenas da economia) ficaram à míngua. Por
isso, até a pandemia de covid-19, o crescimento do PIB sequer chegou a 2%. No
contexto da pandemia, a economia até cresceu, mas como resultado das medidas
emergenciais de redução de danos. Em 2020, a queda foi de 3,3%, seguido de um
crescimento de 4,8%, em 2021. Em 2022, devido ao desespero para se reeleger e,
por isso, abrir alopradamente os cofres do governo, Bolsonaro conseguiu
“produzir” um crescimento de quase 3%.
Porém, os dados de 2023 e, principalmente,
do primeiro semestre de 2024 têm mostrado que a economia entrou em uma
recuperação cíclica consistente (na medida do possível). As informações
referentes aos meses entre abril e junho de 2024 mostram que foram os
componentes domésticos que puxaram o crescimento de 1,4% em relação aos meses
de janeiro a março, quando já crescemos 1%. Dentre os componentes domésticos
que melhoraram, o destaque vai para os investimentos (aumento de 2,1%), gastos
do governo (1,3%) e consumo das famílias (1,3%). Por sua vez, os componentes
externos não puxaram nosso crescimento, pelo contrário, se dependesse deles, o
PIB teria caído. As exportações cresceram 1,4%, mas as importações se elevaram
em 7,6%.
Essa pressão externa “contra” o PIB é
melhor entendida quando olhamos os setores da economia. A agropecuária, nossa
grande exportadora, recuou 2,3% no segundo trimestre de 2024. Por sua vez,
mesmo a indústria crescendo 1,8% neste mesmo período, isso está longe de
atender às necessidades brasileiras de produtos manufaturados. Como já tratamos
anteriormente, dada a nossa desindustrialização, uma parte importante dos bens
mais elaborados que usamos chega via importações.
Com isso, podemos ver que os bons ventos
que geraram nosso crescimento, via demanda doméstica, também geraram parte das
pressões externas para conter esse mesmo crescimento. E a grande causa do
problema está na nossa própria economia. Se passaram mais de 10 anos desde os
últimos projetos de desenvolvimento da estrutura produtiva brasileira. Ou seja,
de lá pra cá foram inúmeras políticas restritivas e (quase) nenhuma em prol da
melhoria efetiva das condições de oferta.
E é aí que repito o que já foi dito em nossas primeiras previsões: sabendo aproveitar o movimento cíclico, a adoção de políticas econômicas que visam melhorar as condições de produção serão o combustível do nosso crescimento. O que é preciso, porém, é mudar o motor. Atualmente, estamos subindo uma ladeira íngreme com um carro 1.0, movido a gás natural. Ou os projetos do PAC e da Nova Indústria Brasil saem do papel ou outra previsão nossa se realizará: se nada mudar, essa decolagem da economia brasileira tem tudo para ser mais um curto voo de galinha.
[i] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e
Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com;
@almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram: Raquel Lima, Maria Vitória Freitas, Lara Souza, Maria Fernanda
Vieira, Brenda Tiburtino e Paola Arruda.
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