quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Tensões políticas e econômicas: o panorama atual do Brasil

Semana de 26 de agosto a 01 de setembro de 2024

 

Paola Teotônio Cavalcanti de Arruda[i] 

           

O avanço de Pablo Marçal (PRTB) na corrida pela Prefeitura de São Paulo reflete um fenômeno que vai além de Jair Bolsonaro: o fortalecimento do "bolsonarismo" como movimento político. Com a inelegibilidade de Bolsonaro, muitos aliados temiam que esse movimento, baseado em uma agenda conservadora, antipetista e populista, ganhasse vida própria. Como demonstrado pela ascensão de Marçal nas pesquisas, esse cenário se tornou uma realidade, evidenciando que o "bolsonarismo" se estabeleceu com um piso de 20% do eleitorado, que não deve ser subestimado.

Embora inicialmente visto como um oponente e atacado pela família Bolsonaro, Marçal capitalizou o bolsonarismo em São Paulo, adotando uma estratégia “antissistema” similar à de Bolsonaro. O embate entre Marçal e a família Bolsonaro ilustra a tensão interna e a disputa por espaço dentro desse segmento político, revelando que o bolsonarismo, como força política, pode continuar a influenciar as eleições, mesmo sem a presença direta de seu criador. O bolsonarismo se configura, portanto, não como um fenômeno isolado, mas como um sintoma maior da crise da crise político-democrática brasileira, da deslegitimação das instituições e do descrédito popular nos processos políticos.

Mas não é apenas na disputa entre Pablo Marçal e a família Bolsonaro que se estabelecem tensões e disputas por poder. A discussão do COPOM, sobre o aumento da taxa de juros no país, evidencia outro embate político nacional, que tem ganhado destaque nas manchetes dos jornais nos últimos meses. A recente indicação de Galípolo para a Presidência do Banco Central intensificou o debate sobre a necessidade de que ele se mantenha no campo técnico ao tomar decisões monetárias.

No entanto, há uma contradição nesse discurso, que revela embates por influência: as decisões do Banco Central são consideradas técnicas apenas quando coincidem com o interesse do mercado financeiro. Se as deliberações forem contrárias a esses interesses, como é o caso da redução da taxa de juros, são imediatamente classificadas como "políticas" e, portanto, vistas como menos válidas. Essa lógica revela um viés que questiona a imparcialidade atribuída ao campo técnico, expondo a influência dos interesses do mercado financeiro sobre o que é considerado uma decisão legítima.

Como já trazido em outras análises, a justificativa para a manutenção de uma Selic elevada está na suposição de o Brasil sofrer com elevado risco inflacionário do país. Todavia, dados divulgados pelo IBGE revelam que, desde maio, tem ocorrido um processo de desinflação, com queda no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15). De 0,44%, em maio, o IPCA-15 caiu para 0,39% em junho, seguindo para 0,30% em julho e findando em 0,19% no mês de agosto. Nesse sentido, o argumento para o aumento da taxa de juros não se mantém, pois os dados sustentam o contrário. O que está em jogo, na verdade, é o interesse do mercado financeiro em reter as taxas elevadas, visto que isso significa maior retorno sobre investimentos em títulos de dívida a investidores e instituições financeiras.

Paralelamente, a manutenção de uma Selic elevada faz com que o custo do crédito suba, desincentivando o consumo e o investimento. Essa estratégia pode gerar efeitos colaterais significativos, visto que uma alta nos juros tende a fazer com que empresas e consumidores reduzam seus gastos. A retração da atividade econômica dificulta a geração de empregos e facilita a diminuição da renda disponível, afetando a demanda. Esses fatores, por sua vez, podem alimentar um ciclo de estagnação, dificultando a recuperação econômica no médio e longo prazo.

Assim, o avanço de Pablo Marçal na corrida pela Prefeitura de São Paulo e a persistente manutenção de uma Selic elevada ilustram como as disputas políticas e econômicas estão interligadas no Brasil. Infelizmente, a ascensão de Marçal demonstra que o bolsonarismo é maior que o próprio Bolsonaro, graças a uma parte da população brasileira que facilmente aderiu a seus discursos vazios e truculentos. Simultaneamente, a decisão do Banco Central de manter taxas de juros altas, sob pressão do mercado financeiro, destaca o impacto de interesses econômicos na formulação de políticas públicas. Essa dinâmica revela como interesses políticos e financeiros moldam o país, frequentemente em prejuízo da recuperação econômica e do desenvolvimento sustentável.


[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduanda em Relações Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram: Lara Souza, Ryan Félix, Guilherme de Paula e Gustavo.

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