quarta-feira, 16 de outubro de 2024

A URGÊNCIA DE UMA INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA

Semana de 07 a 13 de outubro de 2024

 

Lucas Milanez de Lima Almeida[i] 

           

Hoje vale a pena voltar a falar sobre um dos principais problemas estruturais do Brasil. Se nossas análises fossem feitas por economistas vulgares, certamente o nosso leitor veria um chororô sobre o endividamento e risco fiscal. Porém, se o caro leitor veio até aqui, sabe que essa ladainha está longe de ser a questão central da nossa economia.

Desde o início do seu terceiro mandato, em 2023, Lula colocou na sua agenda econômica o debate sobre o baixo crescimento do país. As consequências vistas na última década são graves, tais como a baixa qualidade dos empregos, a renda reduzida, o aumento da desigualdade, etc. Dentre os problemas identificados, um deles se destaca e já foi deveras debatido por aqui: a perda de protagonismo da indústria na dinamização da economia brasileira. Esta é a característica central da chamada desindustrialização.

Não é de hoje que se sabe da importância da produção industrial na vida das pessoas. Na realidade, o que caracteriza o atual sistema econômico, o capitalismo, é o papel central da indústria na criação de riqueza e daquilo que precisamos para sobreviver. Certamente, muitas das coisas que necessitamos consumir não se resumem apenas a bens físicos, mas também há um conjunto cada vez mais amplo de serviços que nos atendem (saúde, beleza, etc.). Mas, antes que os economistas vulgares venham dizer que, por isso, os serviços reúnem as atividades mais importantes da modernidade, é preciso lembrar da necessidade da indústria para o desenvolvimento geral da economia.

Primeiro, e mais flagrante, é o fato de que todos os instrumentos utilizados pelos prestadores de quaisquer que sejam os serviços, são produzidos pela indústria. Isso é válido tanto para os mais complexos, como máquinas de ultrassonografia ou grandes processadores de dados, quanto para os mais simples, como um secador de cabelo ou uma lâmina de barbear. Ou seja, a indústria é o grande fornecedor dos meios materiais utilizados na produção de tudo. Porém, a indústria não apenas produz, mas também pesquisa e desenvolve novos produtos, os mesmos que inovarão os serviços. Além disso, a indústria ainda é a grande difusora de inovações relacionadas aos processos de gestão e organização da produção. Enfim, da indústria surge a constelação de elementos que aumentam a produtividade do trabalho em todos setores da economia.

O Brasil nunca foi um país que esteve na liderança do desenvolvimento industrial mundial. Devido ao nosso histórico colonial, somos aquilo que a literatura chama de economia atrasada e, por isso, periférica. Nós até conseguimos nos industrializar ao longo do século passado, mas através de uma industrialização tardia e que apenas alterou a forma da nossa dependência em relação aos países avançados. Até internalizamos uma estrutura produtiva ligada às tecnologias metálicas, mecânicas e petroquímicas. Até nos tornamos exportadores de produtos industriais. Contudo, isto só foi possível graças a uma integração subordinada às empresas multinacionais, sediadas nos países centrais, que se instalaram aqui para aproveitar as condições favoráveis à época. Se antes a dependência era de produtos importados, a partir de então predominou a dependência de dinheiro e de tecnologia estrangeiros.

Quando a humanidade passou pela sua última revolução técnico-científica, que colocou as tecnologias da informação e comunicação (TIC) no centro do processo de inovação, o Brasil também não acompanhou os países mais avançados. E tem dois agravantes. Primeiro, uma parte importante das empresas que atuam no país (em especial as multinacionais) passaram a utilizar as TIC em seus processos produtivos. Segundo, seja de forma tardia ou subordinada, sequer trouxemos a produção desses componentes para dentro do nosso território.

O resultado disto é que a nossas dependências comercial e tecnológica se agravaram. Não à toa o PIB do Brasil está crescendo em torno de 3%, ao longo de 2024, mas, no mesmo período, a quantidade de bens importados cresceu 14,5% para bens intermediários, 21,5% para bens de consumo e 22,1% para bens de capital.

Mais do que mostrar as fraquezas da nossa estrutura produtiva, esta realidade limita o crescimento econômico de melhor qualidade. Ao deixar de comprar no mercado nacional, a produção, os impostos, os empregos e muitas outras coisas deixam de ser criados por aqui. Menos pessoas têm acesso à fonte de renda, menor é o potencial de consumo interno, menores são as possibilidades de melhoria na vida da população. Enfim, estamos na urgência de uma industrialização brasileira.


[i] Professor (DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Raquel Lima, Brenda Tiburtino, Ryann Felix, Guilherme de Paula, Gustavo Figueiredo e Paola Arruda.

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