Semana de 30 de setembro a 05 de
outubro de 2024
Maria Fernanda Vieira Guimarãesi
Lucas Milanez de Lima Almeidaii
A dívida bruta brasileira vem crescendo há
14 meses consecutivos, também impulsionada pela alta taxa básica de juros
brasileira, a Selic. A alta dos juros aumenta diretamente o custo de
financiamento da dívida pública, pois encarece o custo com os títulos a ela
atrelados, e, consequentemente, o valor que o Estado deve pagar aos seus
credores. É deixar de gastar numa coisa (saúde, educação, infraestrutura), para
gastar em outra (juros). A estimativa é de que o aumento de 1% na Selic custa
R$ 40 bilhões ao orçamento por ano. Segundo dados do Banco Central, a dívida
atingiu 78,55% do PIB em agosto, com uma alta de 4,1 pontos percentuais apenas
no ano de 2024.
A taxa de juros brasileira, que em março de
2023 chegou a 13,75%, entrou em um ritmo de cortes, que se manteve até maio de
2024. Neste mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou pelo que chamou,
em ata, de “desaceleração” do ritmo de cortes. No entanto, os cortes não foram
retomados. Depois da última reunião do Copom, em 18 de setembro de 2024, foi
decidido o aumento da taxa básica de juros, a despeito da estimativa da
inflação de 4,12% (dentro da meta de 3%, que permite oscilação de 1,5% para mais
ou para menos). A decisão influencia, mais do que na inflação, na dívida
pública.
Para o mercado, no entanto, o aumento da
dívida bruta não está associado à acentuada taxa de juros brasileira, mas aos
gastos governamentais. Isto não encontra plena adesão aos fatos. No ano
passado, depois de corrigir o desastre deixado pela dupla Bolsonaro-Paulo
Guedes, o déficit fiscal foi de R$230,5 bilhões. Em 2024, a equipe econômica
fez o esforço (excessivo) de reduzir os gastos, aumentar a arrecadação
(resultado da melhora do PIB) e, consequentemente, reduzir o déficit, projetado
atualmente para R$68,8 bilhões (a proposta inicial era déficit zero, mas a
realidade se impôs e não foi possível atender esse capricho do Ministro
Fernando Haddad). Entre as medidas de ajuste adotadas pela equipe econômica
para aliviar o orçamento, está o congelamento de R$15 bilhões do orçamento nas
pastas de Saúde, Cidades e Educação. Além disso, desde o ano passado, o
Ministério do Planejamento e Orçamento, encabeçado por Simone Tebet, tem
passado um pente fino nas despesas do Governo Federal, sendo firme na redução
de benefícios sociais.
Por um lado, o governo tem conseguido
aumentar as receitas em 9,7%, graças ao crescimento econômico. Assim, recordes
sucessivos de arrecadação foram sendo batidos, com resultados melhores da
economia brasileira desde 2014. Por outro lado, o Brasil tem apresentado queda
no desemprego. Entretanto, o “mercado” parece insensível quanto às medidas que
visam melhorar a vida do brasileiro. A decisão do governo Lula de incluir o
programa auxílio-gás no orçamento gerou burburinho no mercado, bem como a
vinculação dos benefícios da previdência aos ganhos reais do salário mínimo.
Preterindo a qualidade de vida do brasileiro, o “mercado” demonstra uma
preferência clara: a rigidez fiscal e a redução do déficit, a fim de assegurar
o retorno esperado de seus investimentos. Claro, mesmo que isso signifique
sacrificar os benefícios sociais para a população.
Sob o jugo do mercado, a política de juros elevados, que representa restrição à capacidade de ação do governo, foi retomada e revela como a economia brasileira, na prática, vem sendo guiada pelos interesses daqueles que lucram com a dívida pública. Na prática, é o orçamento público em favor do benefício privado. Enquanto o governo se esforça para equilibrar o orçamento e atender às exigências do “mercado”, em função da sua capacidade de governar, a qualidade de vida dos brasileiros permanece em segundo plano, colocando a proposta de desenvolvimento do governo Lula em risco nesse complicado jogo de interesses.
i Pesquisadora
do PROGEB e graduanda em Relações Internacionais pela UFPB (mafe.vg.2007@gmail.com).
ii Professor
(DRI/UFPB; PPGCPRI/UFPB; PPGRI/UEPB) e Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Raquel Lima, Maria Vitória Freitas, Lara
Souza, Maria Fernanda Vieira, Brenda Tiburtino e Paola Arruda.
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