domingo, 2 de março de 2025

PESQUISAS DE OPINIÃO E CONJUNTURA ECONÔMICA: NOVOS DESAFIOS DO GOVERNO LULA

Semana de 17 a 23 de fevereiro de 2025

  

 Rosângela Palhano Ramalho[1]

  

Prezado leitor, como já frisado nesta coluna, os resultados econômicos de 2024, que ainda estão sendo apurados, foram satisfatórios. O PIB, segundo levantamento do Monitor da FGV, vai crescer 3,5%, impulsionado principalmente pelos investimentos. Já o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), estima a alta anual em 3,8%. O aquecimento econômico se difundiu entre os indicadores de consumo e de produção, apesar da política monetária restritiva. Segundo o IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), o maior alcance do Programa Bolsa Família favoreceu o consumo das classes de renda mais baixas, o que contribuiu para a expansão industrial do ano passado. Enquanto isso, a inflação, tida como a grande vilã de 2024, cresceu 4,83%. Segundo Haddad, ministro da Fazenda, como o índice vem crescendo em média entre 4% e 5% ao ano, desde que o Plano Real foi implantado, o resultado não preocupa. De fato, não há descontrole inflacionário. Já os bancos brasileiros não têm do que reclamar... Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil apresentaram, em 2024, um lucro conjunto de R$ 112,7 bilhões, alta de 16,4% quando comparada a 2023. A estes elementos, some-se o resgate de programas públicos como o Minha Casa, Minha Vida e Farmácia Popular, relegados ao lixo pelo governo anterior.

Apesar deste cenário, há um descolamento entre as pesquisas de opinião e a realidade econômica e social do país. A última pesquisa Datafolha divulgada no fim da semana passada alimentou os abutres que passaram a diagnosticar (de novo!) a morte do governo antes mesmo do fim do mandato que só ocorrerá em 2026. A consulta mostrou que, entre dezembro de 2024 e fevereiro deste ano, o percentual que considera o governo ruim ou péssimo subiu de 34% para 41%. Para 32%, o governo é regular. Antes eram 29%. A avaliação positiva caiu de 36% para 24%. Comparado aos dois primeiros mandatos, este é o pior resultado do governo Lula. O fato é que o governo tem sofrido uma gigantesca pressão exercida por variados setores da sociedade, que acontece desde antes de sua posse. São deploráveis as estratégias de desgaste utilizadas, a começar pela tentativa de golpe de Estado arquitetada desde meados de 2022, que culminou nos atos antidemocráticos de 08 de janeiro de 2023 e que resultou numa lista de 34 denunciados pela Procuradoria Geral da República, sendo, destes, 24 militares.

Antes de fugir para os Estados Unidos, Bolsonaro abandonou o governo assim que perdeu as eleições e Lula então teve que negociar a PEC da Transição para executar o orçamento sem que se ultrapassasse o limite do teto de gastos. Superada com habilidade a tentativa de golpe em 08 de janeiro de 2023, o presidente passou a gerir as mais variadas demandas da população e de aliados, bem como os ataques à sua pessoa e à sua gestão. O governo ainda lida com a aberração legislativa chamada de orçamento secreto... E, por meio das redes sociais,      tenta driblar as inverdades e cortes desconectados dos fatos que antes de serem desmentidos provocam imensos ruídos. Veja-se o burburinho gerado em torno da cirurgia a que ele teve que se submeter e o caso do Pix. Ainda hoje se especula sobre uma “Bidenização” de Lula, tentando associá-lo a uma possível senilidade que o impediria de governar no futuro, e prolifera-se o discurso da falsa taxação do Pix.

A situação atual é complexa. De um lado, há uma frustação, desde 2022, por parte da direita e do centro político em não ter emplacado um candidato competitivo às eleições presidenciais. Aí podemos listar Ciro Gomes, Sérgio Moro e seus órfãos, que pretendiam ser a alternativa à Lula/Bolsonaro, mas que patinaram em suas próprias soberbas. Ainda disputam a vaga vários “possíveis candidatos”. Estão nesta lista: Ronaldo Caiado, Romeu Zema, Eduardo Leite, Ratinho Jr., Pablo Marçal, Tarcísio de Freitas, os filhos, a mulher de Bolsonaro e (pasme!) Gusttavo Lima. Todos eles comem as migalhas que Bolsonaro deixa cair de vez em quando. O ex-presidente está inelegível e assim permanecerá até a sua prisão, mas continua a alimentar a “possibilidade” de sair candidato. Do outro lado do campo de disputa, há os interesses particulares do setor econômico, em especial, o financeiro. Amparado por uma teoria econômica que sufoca a atividade sob o pretexto de combater a inflação a partir da disciplina fiscal, o grupo, que se vê órfão de um candidato, tolera e se lambuza nas teses da extrema direita. Afinal, eles querem o pobre fora do orçamento. De uma só vez, protegeriam seus interesses e livrariam o país de um populista gastador, responsável pelo aumento da taxa de câmbio e do preço dos alimentos! Não por acaso, o “mercado”, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Quaest no final do ano passado, escolhe qualquer candidato, de preferência Tarcísio de Freitas (com 78% das intenções), em detrimento de Lula ou qualquer outro de centro ou da esquerda.

O governo ainda estuda como reagir às armadilhas que lhe são impostas. Usar da mesma munição, está fora de cogitação. Resta salientar que as pesquisas (confiáveis) mostram que o presidente Lula venceria as eleições de 2026. No início de fevereiro, levantamento da Genial/Quaest mostrou que o presidente se reelegeria em todos os 6 cenários de 2º turno que foram testados. Para desespero de muitos...


[1] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram: Victória Rodrigues, Caio Amaral, Bruno Lins, Ícaro Formiga e Mateus Eufrásio.

    



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