sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

O ANO COMEÇA, E AS PREVISÕES SEGUEM AO ENCONTRO DO ERRO

 Semana de 20 a 26 de janeiro de 2025

    

Rosângela Palhano Ramalho [i]

        

Caro leitor, enquanto o mundo digere a retórica truculenta de Donald Trump e em torpor, aguarda pela possibilidade de suas ameaças se tornarem reais, o governo brasileiro segue tentando dirimir questões internas, que a oposição e os analistas fazem parecer maiores do que efetivamente são. Tornaram-se comuns as deturpações relativas às questões cotidianas e, principalmente dos dados econômicos, que vêm sempre acompanhados de “é um número bom”, mas, contudo, todavia...

Os resultados econômicos de 2024 estão sendo apurados. O PIB deve crescer em torno de 3%, o desemprego apresentará queda e nem a inflação, nem o dólar, como sugeriram, fecharão em descontrole. Nossa balança comercial apresentará superávit superior a US$ 77 bilhões, segundo os últimos números que foram verificados. Enfim, apesar do Banco Central, tivemos bons resultados econômicos.

O governo foi abertamente pressionado a adotar uma política monetária contracionista para promover uma desaceleração da economia. E o fez. Ainda não se sabe qual será o impacto do aumento da taxa de juros, mas, os mesmos analistas que “exigiram” medidas contundentes contra o inexistente monstro inflacionário, agora lamentam o efeito antes tão desejado. Representantes do setor financeiro (bancos, consultorias e gestoras de fundos) em suas cartas e relatórios tradicionais de início de ano, projetam uma recessão técnica, representada por dois trimestres seguidos de queda do PIB. O resultado fatídico viria nos últimos trimestres deste ano e, a economia cresceria em torno de 2,5%.

O curioso é que, mesmo com o governo atendendo ao clamor de uma rígida política monetária, os documentos levantam “preocupações”. Temem que a reação do governo à desaceleração econômica seja a de gastar mais. A afirmação flerta com a ideia de que os gastos governamentais provocam apenas uma consequência: mais inflação, que tem que ser combatida com mais juros! Pela visão míope que tem da economia, o setor financeiro não concebe que os gastos impulsionam as variáveis econômicas reais, por meio do efeito de arrastamento sobre a renda e investimentos nacionais. Por outro lado, dizem os levantamentos, a desaceleração econômica piorará a avaliação do governo e este reagirá gastando mais. Estaremos todos perdidos! Mais um caos para chamarem de seu!

Enfim, os fantasmas criados em 2024 foram tragados pela realidade, mas outros estão sendo concebidos para assombrar 2025. Para felicidade nossa, o mercado erra e erra muito. Uma verificação feita pela plataforma digital UOL (Universo On Line), mostrou que economistas, especialistas e analistas de mercado, erraram em 95% das previsões dos últimos quatro anos. Tomando como base o primeiro boletim Focus do Banco Central de cada ano e a primeira edição da pesquisa “LatAm Fund Manager Survey”, feita pelo Bank Of America, os erros incidem sobre as projeções do PIB, inflação, taxa de juros, Ibovespa e dólar. E, se levarmos em conta apenas as previsões e fechamentos anuais do PIB, inflação e juros, realizadas pelo Focus, os erros foram de 100%, conforme apresentado na tabela a seguir!

Do poderio econômico e financeiro não se cobra credibilidade. Do governo, sim.

O primeiro boletim Focus de 2025 projeta crescimento do PIB de 2,02%, juros de 15% e inflação de 4,99%. Esperamos veementemente que o mercado mantenha o padrão e erre! De novo!


[1] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram: Brenda Tiburtino, Maria Júlia Alencar, Guilherme de Paula, Nelson Rosas, Lara Souza e Gustavo Figueiredo.

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog