sábado, 5 de julho de 2025

O QUE ESTÁ EM JOGO NO BRASIL ATUAL

Semana de 23 a 29 de junho de 2025

  

Rosângela Palhano Ramalho[1]

 

Caro leitor, todas as semanas esta coluna atualiza as informações da conjuntura nacional e fica cada vez mais claro que, se assumíssemos a realidade econômica como aquela retratada pelo jornalismo econômico, já havíamos, como muitos, decretado o fim do governo e do Brasil. Com interesses diversos, a sabotagem ao governo e aos bons resultados da economia continua. A oposição política segue em desespero por um candidato competitivo à presidência da República em 2026, na esteira de um zumbi chamado Jair Bolsonaro. Enquanto isso, a elite econômica, órfã também de candidato, alimenta o tradicional ranço contra os governos alinhados à esquerda política e desvia o olhar do grande volume de desonerações e benefícios recebidos da máquina pública, para o ajuste fiscal.

            A política de juros altos, encabeçada pelo Banco Central, segue voraz na tentativa de conter a economia. A taxa aumentou de 14,75% para 15% na última reunião do Copom, quando a inflação registra queda de 0,36% para 0,26% entre maio e junho, segundo o IBGE. Uma semana antes, foi divulgado o monitor do PIB calculado pela FGV, que apresentou queda de 0,4% em abril comparada a março, quando cresceu 1,3%. Outro indicador, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) apresentou alta de apenas 0,16% em abril, quando em março havia crescido 0,71%. Portanto, está em curso não só a desaceleração da inflação, mas também um arrefecimento da atividade econômica. Mesmo assim, o incômodo continua, afinal, a economia insiste em crescer. Por isso, o Copom já avisou em sua ata, que o arrocho monetário ainda não foi suficiente, e que está disposto a manter o aperto pelo tempo que for necessário.

Infelizmente, querido leitor, inverteu-se a interpretação da conjuntura econômica. Enquanto o jornalismo festeja o aumento dos juros, os bons resultados vêm acompanhados sempre de muitos “ses”. Pois, ao que parece, nada deve ser considerado como positivo a não ser uma baixa inflação acompanhada de um severo ajuste fiscal. Nesta frente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad encabeça as negociações para manter a execução das políticas públicas. Suas idas ao Congresso Nacional, viraram quase um pedido de licença para que o governo exerça a função de governar. Cobrando, e sem direcionar onde cortar gastos, os parlamentares tentam, por motivações políticas e econômicas, encurralar o governo, que, por sua vez, busca cumprir o arcabouço fiscal por meio da alta na arrecadação. O instrumento de disputa da vez é o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para algumas operações que passariam a ser taxadas e outras que têm previsão de aumento de alíquotas.

Ainda sem acordos no que diz respeito à questão fiscal, percebe-se que o conteúdo passou a integrar 99% dos artigos de opinião e editoriais dos maiores dos noticiários do país, enquanto os dados conjunturais da economia brasileira e os consequentes avanços sociais são sistematicamente omitidos. Instituições externas palpitam e aconselham o Brasil sobre a necessária disciplina fiscal. Richard Gnodde, vice-presidente do Goldman Sachs, opinou que para manter sua atratividade, o país precisa “promover reformas estruturais certas” para “crescer e superar o desafio fiscal”. Já o Banco Mundial informa que o Brasil precisa fazer ajuste fiscal de 3%, incluindo, na pauta, novas reformas previdenciária e administrativa. Que falta de pudor. Por que não estamos surpresos? O ajuste “certo” só o é se punir os pobres.

Enfim, aqueles que alimentam o cenário melancólico de liquidação deste governo, 1 ano e meio antes das eleições de 2026, parecem estar vivendo como Bobby. Personagem principal da série infantil O Fantástico Mundo de Bobby, veiculada na década de 1990, Bobby vivencia sua vida cotidiana de forma fantasiosa e fantástica, a partir da sua mente imaginosa. Mas, o limite entre a fantasia e a realidade é perfeitamente claro quando o episódio aventuresco termina. Por aqui é diferente. Enquanto novos episódios de disputa são criados, oposição política e analistas econômicos tentam encurralar a sociedade brasileira em sua realidade imaginada.


[1] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram: Rubens Gabriel, Antônio Queiroz, Mateus Eufrásio, Nelson Rosas, Júlia Bomfim e Julia Dayane.

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