Semana de 06 a 12 de outubro de 2025
Paola Teotônio Cavalcante de Arruda[i]
Depois de meses de tensão e pressão
econômica, o impensável aconteceu. Donald Trump, que havia declarado não haver “diálogo
possível com o Brasil”, ligou pessoalmente para o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. O gesto, mais do que diplomático, foi simbólico: marcou o
reconhecimento de que o Brasil resistiu às sanções, manteve sua autonomia e
mostrou capacidade de dialogar de igual para igual com a maior potência
econômica do planeta.
Tudo começou nos bastidores da Assembleia
Geral das Nações Unidas, em setembro. Trump e Lula se cruzaram nos corredores,
trocaram poucas palavras, mas o suficiente para reacender o canal diplomático.
O ex-presidente americano surpreendeu ao declarar, nesse curto intervalo de
tempo, ter sentido uma “boa química” com o líder brasileiro. Lula, com anos de
experiência política na lida com os mais diversos perfis de governantes
mundiais, aproveitou o gesto para reafirmar a disposição ao diálogo — sem
concessões que comprometessem o interesse nacional.
O resultado veio logo: um telefonema, uma
promessa de encontro em breve e uma “linha direta” entre os dois presidentes.
Segundo o governo brasileiro, os presidentes trocaram telefones, para falar sem
intermediações, e Trump designou o secretário de Estado, Marco Rubio, para
tratar das negociações com Geraldo Alckmin, Mauro Vieira e Fernando Haddad — um
reconhecimento tácito de que o Brasil voltou a ser ouvido.
Convém ressaltar ainda, caro leitor, que as
tarifas impostas por Washington ao Brasil e a outros parceiros comerciais
tiveram efeito mais brando que o esperado. O comércio global, longe de
desacelerar, cresceu 2,4% em 2025. A explicação é quase poética: enquanto os
Estados Unidos ergueram barreiras, o resto do mundo construiu novas pontes. E o
Brasil foi um desses países.
A ausência de retaliação em cadeia, os
investimentos bilionários em Inteligência Artificial e o fortalecimento das
trocas entre países emergentes amorteceram o impacto do choque tarifário. O
protecionismo americano soou alto, mas perdeu eco diante da vitalidade de uma
economia global cada vez mais multipolar.
O restante do planeta cresceu rápido o
bastante para compensar o isolamento americano. A inflação em queda e os
salários em alta nos países desenvolvidos impulsionaram a demanda, e os países
emergentes — com destaque para o Brasil — garantiram o fôlego do comércio
internacional. Ademais, o alvo central da ofensiva americana, a China, saiu
fortalecida. Suas exportações cresceram 12% no primeiro semestre. Mesmo após
retaliar os EUA, Pequim manteve o motor econômico funcionando, convertendo o
ataque em estímulo interno.
Enquanto os gigantes duelam, o Brasil
também colhe resultados positivos. A desigualdade caiu, o desemprego permanece
em baixa e o salário mínimo teve ganho real. Dados do Banco Mundial mostram que
o índice de Gini atingiu 0,516 em 2023 — o menor da série histórica. A taxa de
pobreza (renda inferior a US$ 30 por dia) caiu para 3,82% da população. A
inflação, antigo fantasma do mercado, se mostrou mais comportada do que as
previsões ortodoxas. O IPCA de setembro surpreendeu positivamente e pode
encerrar o ano próximo do teto da meta (4,5%). O cenário desmonta a narrativa
de que crescimento e estabilidade não podem coexistir.
Portanto, caro leitor, a ligação de Trump é
mais do que um gesto político: é um símbolo da virada brasileira no cenário
global. Depois de meses de sanções, pressões e tentativas de isolamento, o
Brasil mostrou maturidade e serenidade diplomática. Falou com firmeza, sem
hostilidade. Manteve a independência, sem se fechar. A diplomacia de Lula —
firme, paciente e pragmática — reafirmou a capacidade do país de construir
pontes, mesmo sob pressão. E, talvez, tenha demonstrado algo que o mundo
parecia ter esquecido: que poder não é só sobre quem impõe, mas sobre quem
permanece de pé.
[i]
Pesquisadora do PROGEB e Graduan



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