sábado, 18 de outubro de 2025

TIRIRIM TIRIRIM TIRIRIM, ALGUÉM LIGOU PRA MIM

Semana de 06 a 12 de outubro de 2025

   

Paola Teotônio Cavalcante de Arruda[i]

 

Depois de meses de tensão e pressão econômica, o impensável aconteceu. Donald Trump, que havia declarado não haver “diálogo possível com o Brasil”, ligou pessoalmente para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O gesto, mais do que diplomático, foi simbólico: marcou o reconhecimento de que o Brasil resistiu às sanções, manteve sua autonomia e mostrou capacidade de dialogar de igual para igual com a maior potência econômica do planeta.

Tudo começou nos bastidores da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro. Trump e Lula se cruzaram nos corredores, trocaram poucas palavras, mas o suficiente para reacender o canal diplomático. O ex-presidente americano surpreendeu ao declarar, nesse curto intervalo de tempo, ter sentido uma “boa química” com o líder brasileiro. Lula, com anos de experiência política na lida com os mais diversos perfis de governantes mundiais, aproveitou o gesto para reafirmar a disposição ao diálogo — sem concessões que comprometessem o interesse nacional.

O resultado veio logo: um telefonema, uma promessa de encontro em breve e uma “linha direta” entre os dois presidentes. Segundo o governo brasileiro, os presidentes trocaram telefones, para falar sem intermediações, e Trump designou o secretário de Estado, Marco Rubio, para tratar das negociações com Geraldo Alckmin, Mauro Vieira e Fernando Haddad — um reconhecimento tácito de que o Brasil voltou a ser ouvido.

Convém ressaltar ainda, caro leitor, que as tarifas impostas por Washington ao Brasil e a outros parceiros comerciais tiveram efeito mais brando que o esperado. O comércio global, longe de desacelerar, cresceu 2,4% em 2025. A explicação é quase poética: enquanto os Estados Unidos ergueram barreiras, o resto do mundo construiu novas pontes. E o Brasil foi um desses países.

A ausência de retaliação em cadeia, os investimentos bilionários em Inteligência Artificial e o fortalecimento das trocas entre países emergentes amorteceram o impacto do choque tarifário. O protecionismo americano soou alto, mas perdeu eco diante da vitalidade de uma economia global cada vez mais multipolar.

O restante do planeta cresceu rápido o bastante para compensar o isolamento americano. A inflação em queda e os salários em alta nos países desenvolvidos impulsionaram a demanda, e os países emergentes — com destaque para o Brasil — garantiram o fôlego do comércio internacional. Ademais, o alvo central da ofensiva americana, a China, saiu fortalecida. Suas exportações cresceram 12% no primeiro semestre. Mesmo após retaliar os EUA, Pequim manteve o motor econômico funcionando, convertendo o ataque em estímulo interno.

Enquanto os gigantes duelam, o Brasil também colhe resultados positivos. A desigualdade caiu, o desemprego permanece em baixa e o salário mínimo teve ganho real. Dados do Banco Mundial mostram que o índice de Gini atingiu 0,516 em 2023 — o menor da série histórica. A taxa de pobreza (renda inferior a US$ 30 por dia) caiu para 3,82% da população. A inflação, antigo fantasma do mercado, se mostrou mais comportada do que as previsões ortodoxas. O IPCA de setembro surpreendeu positivamente e pode encerrar o ano próximo do teto da meta (4,5%). O cenário desmonta a narrativa de que crescimento e estabilidade não podem coexistir.

Portanto, caro leitor, a ligação de Trump é mais do que um gesto político: é um símbolo da virada brasileira no cenário global. Depois de meses de sanções, pressões e tentativas de isolamento, o Brasil mostrou maturidade e serenidade diplomática. Falou com firmeza, sem hostilidade. Manteve a independência, sem se fechar. A diplomacia de Lula — firme, paciente e pragmática — reafirmou a capacidade do país de construir pontes, mesmo sob pressão. E, talvez, tenha demonstrado algo que o mundo parecia ter esquecido: que poder não é só sobre quem impõe, mas sobre quem permanece de pé.


[i] Pesquisadora do PROGEB e Graduanda em Relações Internacionais (UFPB). (paolatc.arruda@gmail.com). Colaboraram: Antonio Fontes, Camylla Martins, Julia Bomfim, Lara Souza, Maria Julia Alencar, Nelson Rosas.

  

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