sábado, 1 de novembro de 2025

NÃO HÁ FEITO ECONÔMICO QUE REMOVA O RANCOR SOCIAL ENRAIZADO

Semana de 20 de a 26 de outubro de 2025

    

Rosângela Palhano Ramalho[1]

 

Estimado leitor, em colunas anteriores já nos referimos ao uso do termo resiliência, utilizado frequentemente para evidenciar o crescimento do PIB brasileiro, apesar de todos os boicotes no âmbito da política partidária e da política econômica. A economia segue resiliente. Veja-se o exemplo do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central) que é uma prévia do PIB: o indicador registrou um crescimento de 0,4% em agosto, após o recuo de 0,5% em julho. A tal resiliência tem incomodado o Banco Central. O purgante dos juros não produziu os resultados esperados, pois o horizonte relevante, tempo de resposta das ações da política monetária sobre a atividade econômica, que é de seis meses, tem falhado sistematicamente desde setembro de 2024, quando se iniciou o ciclo de alta dos juros.

Ao invés de assumir a limitação do sistema de metas de inflação e promover sua revisão, já que é possível a coexistência de crescimento mais elevado com um pouco mais de inflação, o Banco Central se esforça em justificar o porquê de ainda estarmos com a inflação fora da meta. Segundo Gabriel Galípolo, a autoridade monetária está “bastante incomodada” com a inflação acima da meta, mas espera “um processo de desinflação bastante acentuado e rápido.” Para encerrar, o presidente do Banco Central declarou em tom lastimoso que o “consumo vem crescendo acima do crescimento do PIB” e, por fim, quase foi às lágrimas: “A gente está na mínima histórica do desemprego e na máxima histórica da renda.” Por incrível que pareça caro leitor, baixo emprego e alta renda são os grandes problemas da nossa economia hoje.

E, ao que tudo indica, estes “problemas” persistirão em 2025. As projeções dão conta que ainda haverá crescimento econômico em torno de 2,5% este ano, número um pouco abaixo dos 3,4% registrados em 2024. Busca-se o culpado! E ligeiramente, o encontram! Julgado, o presidente do Brasil é logo condenado por “atrapalhar” o rumo “certo” da economia ao gastar demais e adotar políticas expansionistas para o emprego e consumo. Contudo, os gringos não estão preocupados com esta questão. Reunidos entre os dias 13 e 18 de outubro de 2025, representantes do Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial avaliaram os cenários da economia mundial e de suas principais economias. As instituições não demonstraram preocupação com a situação fiscal do Brasil e projetaram crescimento interno de 2,4% e 2,2%, respectivamente. Em contrapartida, os nativos estavam ressabiados com o destino da política fiscal e ainda, com a evolução do cenário eleitoral do ano que vem.

Chegamos ao ponto, querido leitor! Não se trata de uma insatisfação com a situação fiscal. É apenas sobre rancor. A questão é essa: temos um presidente eleito e conhecido, que promove uma agenda econômica e social progressista. Por que deveríamos esperar outro plano de governo deste governo? Lula concorreu e foi eleito democraticamente pela maioria da população brasileira e tem o aval para implementar suas propostas, dentro das regras do jogo democrático. O fato é que, parte da elite brasileira não consegue domar o ranço e o ódio que alimentam suas entranhas raivosas. Esta parcela da sociedade com imenso poder político, não é capaz de suportar que o pobre seja contemplado no orçamento público. Além disso, ela é incapaz de eleger um candidato que a represente. Veja-se o caso de Henrique Meirelles em 2018. Concorreu à Presidência da República do Brasil pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e recebeu apenas 1,2% dos votos válidos. Diante do fracasso eleitoral retumbante, esta fração social apoiou o governo Bolsonaro, certa de que tinha debelado Lula e o Partido dos Trabalhadores da seara política brasileira.

Ledo engano.

Lula retornou e a nobreza econômica e financeira se viu novamente encurralada. Como o presidente dá pouco espaço para o desmantelamento estatal que ela tanto quer e chama pomposamente de reformas, o boicote à economia e a perseguição em âmbito social e político tornaram-se regra. Naquela reunião conjunta do FMI e Banco Mundial, o rancor dos representantes brasileiros foi exposto sem pudor. Querem um candidato de oposição que reduzam o déficit fiscal e adotem reformas liberais. A produtividade precisa aumentar para a economia crescer, disseram. Mas a economia está crescendo até mais do que o mundo desenvolvido! Isso não basta, pois, a agenda que defendem só tem coerência a partir da punição dos trabalhadores brasileiros considerados improdutivos, preguiçosos, dependentes e viciados em auxílios governamentais.

E voltando à resiliência, proponho que usemos o termo também para referir à resistência do presidente Lula. Nada o detém. Prestes a completar 80 anos de vida, o homem não se curvou às pressões de Trump, à oposição reacionária, nem aos grupos econômicos e financeiros que a todo custo tentam governar o país. Felizmente o Brasil tem um governante (e não um bufão). Os programas sociais foram restabelecidos. O câmbio está sob controle. A inflação está sob controle (embora digam que não). As contas públicas estão sob controle (embora afirmem que não). A economia cresce apesar do Banco Central. A renda aumentou. O consumo se elevou. O desemprego atingiu o menor nível já registrado. Pelo visto, nada disso importa. Não há feito econômico que remova o rancor social enraizado.


[1] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram: Antônio Queiroz, Jéssica Brito, Julia Bomfim, Nelson Rosas, Lara Souza e Camylla Martins.

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