quinta-feira, 10 de julho de 2014

Desilusão no futebol e na economia

Semana de 30 de junho a 06 de julho


Nelson Rosas Ribeiro[i]

Fica muito difícil fazer considerações sobre a conjuntura diante do impacto dos 7x1 alemão. Só lembro a frase do David Luiz, na entrevista cheia de lágrimas, dada na televisão, depois do jogo: “Eu queria dar uma alegria ao povo, pelo menos no futebol”.
Pior que isso só se o Brasil fosse disputar o terceiro lugar com a Argentina e... perdesse. Mas os hermanos livraram os brasileiros disto vencendo a Holanda.
E o David Luiz tem razão: não temos muitos motivos para alegria no que diz respeito à situação econômica, o que pode ser verificado nas estatísticas e fatos.
Os ventos externos continuam a soprar do lado errado. A presidente do Federal Reserve (Fed, BC americano), Janet Yellen, em discurso no FMI, descartou o aumento de juros nos EUA, diante da debilidade da recuperação da economia e temendo as consequências para o desemprego. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mário Draghi, anunciou nova ação do banco para conter a estagnação na Europa. O BCE promete lançar um trilhão de euros em operações de financiamento de longo prazo, através dos bancos, com juros subsidiados. Os bancos são obrigados a orientar os empréstimos para a economia real. O BCE reafirmou seu compromisso de manter as taxas de juros baixas por “um período prolongado de tempo”.
Enquanto as economias se arrastam os órgãos reguladores nos EUA ainda caçam os Bancos que estiveram envolvidos nos trambiques da crise financeira iniciada em 2008. O banco francês BNP Paribas teve de pagar uma multa de US$ 9 bilhões para evitar sanções e o americano Goldman Sachs aceitou pagar US$ 800 milhões para encerrar uma investigação contra ele.
Este ambiente hostil, aliado à política econômica nacional, está tendo consequências desastrosas no Brasil. Ao nível do comércio internacional, a balança comercial apresenta um déficit acumulado de US$ 2,49 bilhões, no primeiro semestre, o pior resultado desde 2000. O agravante é que 50,8% do total das exportações correspondem a produtos primários (como minérios e soja), o que é o pior resultado em 35 anos. Estamos voltando a ser uma economia primário-exportadora.
E não é de admirar. A desaceleração da produção industrial é cada vez mais preocupante. De acordo com o IBGE, a produção industrial teve, em junho, a terceira queda consecutiva. Para a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as montadoras de automóveis têm o pior primeiro semestre em quatro anos. Até as vendas de máquinas agrícolas, em junho, tiveram queda de 32,34%, em relação ao mesmo mês de 2013. Já os tratores caíram 20,14%, na mesma comparação e 17,85%, em todo o primeiro semestre. Em relação à indústria química, a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) informa que o setor ficará estagnado em 2014. De janeiro a maio a redução da produção já foi de 7,07%.
Até os fabricantes de estruturas choram as suas mágoas. As esperanças de faturamento nas obras da Copa foram frustradas. De acordo com a Associação Brasileira de Construção Metálica (Abcem), no acumulado do ano, já foram demitidos 10% a 15% do pessoal ocupado, diante da queda de 20% no faturamento. Os empresários do setor lamentam a perda dos contratos para fornecedores estrangeiros favorecidos pela isenção de ICMS e das alíquotas de importação. Empresas de Portugal, Espanha e China ganharam os contratos para os estádios de Brasília, Salvador, Pernambuco, Manaus, Natal e Fortaleza, além da cobertura do Maracanã. No acumulado do ano, desde maio de 2013, o desempenho do setor foi negativo em 13,5%. Para 2014, as perspectivas são péssimas, pois até as encomendas de Petrobras e da Vale serão atendidas pela China, graças à isenção de impostos e ao financiamento do BNDES.
Mas, há um motivo de alegria: a Caixa Econômica Federal (CEF) já financiou R$ 6 bilhões para consumidores no programa “Minha Casa Melhor” do governo federal. Milhares de participantes do “Minha casa minha vida” compraram móveis e eletros para seus lares. Mas... não pagaram. A CEF está vendendo sua carteira de R$ 6 bilhões de títulos podres aos fundos abutres para efetuar uma “baixa contábil” do valor incobrável que será debitado dos seus lucros e, consequentemente, abatido do IRPJ, indo para a conta dos contribuintes, ou seja, nós todos.
Isto é o que se chama fazer caridade com o chapéu alheio.



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 2 de julho de 2014

Crise, inflação e distribuição de renda

Semana de 23 a 29 de junho de 2014

Rosângela Palhano Ramalho[i]

            Na situação atual tornou-se inevitável iniciar o texto desta análise de conjuntura com boas notícias. É incrível como esta crise mundial vem se arrastando ao longo dos últimos anos. Se um indício de recuperação é noticiado, logo vem acompanhado pelos adjetivos frágil, incerto, duvidoso, dúbio, impreciso, inconsistente... Estudo feito por economistas europeus que integram o Centre for Economic Policy Research, por exemplo, conclui que a recuperação europeia continua “frágil e desigual” e acompanhada de altas taxas de desemprego. Os analistas afirmam que não há consistência no fato de que a economia está saindo da recessão, afinal os números do primeiro trimestre foram sofríveis e o PIB da zona do euro cresceu apenas 0,2%. Se a base for a economia americana, o cenário piora. O PIB norte-americano caiu 2,9% no primeiro trimestre.
            O Brasil acompanha o baixo ritmo, como era de se esperar. No primeiro trimestre, a economia interna empatou com a europeia: cresceu apenas 0,2%. Esta semana, o Banco Central reduziu as estimativas de crescimento do PIB para 2014. Em seu Relatório Trimestral de Inflação, a instituição aponta que a atividade crescerá apenas 1,6%, contra os 2% estimados no documento anterior. O Boletim Focus, também do Banco Central (BACEN), que apura semanalmente as perspectivas de crescimento do PIB junto a economistas das principais instituições financeiras em atuação no país, é ainda mais pessimista. As estimativas para o crescimento do PIB caíram pela quarta semana consecutiva, de 1,24% para 1,16%. Considerando este período, a produção industrial, segundo o Focus, cairá de 0,51% para -0,14%.
            Como nosso leitor assíduo já sabe esta não é a principal preocupação do governo. Apesar da projeção de baixo crescimento, o indicador de inflação, segundo o relatório do BACEN, continua a subir e aumentou de 6,2% para 6,4%. A esperança da autoridade monetária está no arrefecimento do choque de oferta dos preços dos alimentos, na acomodação dos preços administrados e, principalmente, nos efeitos defasados da política monetária, que levarão a inflação ao centro da meta. Embora acredite que os juros permanecerão em 11% até o fim do ano, a maioria dos economistas defende insanamente a necessidade imediata de um choque de juros.
            Continuam os economistas a tentar entender o porquê dos juros altos não combaterem a inflação. Por que a inflação não cede? Por que será que a realidade econômica não se adequou ao que prevê a teoria? Será que a realidade está errada e a teoria está certa?
            Que sinuca de bico!
            Em meio às alianças que se formam para a próxima eleição, surge mais uma voz dissidente quanto aos rumos da política econômica. Desta vez, foi Ciro Gomes do PROS – Partido Republicano da Ordem Social, que oficializou o apoio ao governo Dilma, mas reclamou: “Está errada a política econômica, está errada a política monetária, está errada a política fiscal. Não tem política econômica que funcione no Brasil”.
            Soma-se a isto mais uma notícia ruim, desta vez sobre a desigualdade de renda no Brasil. Dados dos censos de 2000 e 2010 sobre a população economicamente ativa mostram que não se alterou a parcela da renda concentrada pelo 1% mais rico. Em 2000, esta parcela detinha 17,2% da renda nacional. Dez anos depois, a situação é a mesma. Houve uma melhora na parcela dos de menor renda, como por exemplo, entre os 60% mais pobres, que detinha 18,1% da renda em 2000 e em 2010, 21,5%. No entanto não houve mudanças significativas nos extremos das classes de renda. Pesquisadores do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) concluíram que, em média, os 60% mais pobres apresentaram um crescimento da renda de 155% entre 2000 e 2010. Mas para os 40% seguintes, o crescimento da renda média foi de 106%. Nelson Barbosa, que é ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, estima que os 10% mais ricos detêm cerca de 95% da riqueza do país.
            Tal comportamento da distribuição de renda justifica o sucesso de um mercado que não para de crescer no país. A Mercedes-Benz está ampliando sua rede de concessionárias especializadas na venda de carros de luxo. Este é o melhor ano, segundo a montadora, em termos de vendas de luxuosos. O setor anda na contramão da crise automobilística, que já amarga uma queda de 19,6% dos emplacamentos em junho comparados a junho do ano passado e de 5,4% em relação a maio.
            Este é o cenário ingrato do Brasil.



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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quarta-feira, 25 de junho de 2014

Enquanto a bola rola a economia patina

Semana de 16 a 22 de junho de 2014


Nelson Rosas Ribeiro[i]

A copa do mundo continua atraindo todas as atenções misturando a alegria dos vencedores com a frustração dos derrotados e não dando oportunidade para preocupações com a economia mundial, que continua a se arrastar sem maiores novidades.
A recuperação americana preocupa e o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu sua projeção de crescimento dos EUA, em 2014, de 2,8% para 2% e recomenda a manutenção das taxas de juros próximas à zero por um tempo mais prolongado. Christine Lagarde, diretora-gerente do Fundo, sugeriu uma elevação do salário mínimo do país, considerado por ela muito baixo, a fim de melhorar a distribuição de renda e estimular o consumo. Por seu lado, o Federal Reserve (Fed), banco central americano, preocupado com a possibilidade de fuga em massa dos investidores em fundos de títulos, pretende criar “tarifas de saída” para dificultar a retirada desordenada e súbita dos capitais.
A recuperação na União Europeia (UE), também continua em ritmo lento e as preocupações aumentam com o corte do fornecimento de gás à Ucrânia, pela Rússia, decorrente do conflito entre os dois países. A tensão não melhora e as preocupações da UE, quanto às fontes de energia, cresceram com o agravamento da situação no Iraque onde forças sunitas com o apoio do talibã avançam sobre a capital Bagdá e já controlam algumas regiões petrolíferas.
As complicações do mundo desenvolvido, aliadas ao afrouxamento monetário generalizado, encontrando taxas de juros elevadas pelos emergentes, como Turquia, Brasil, Índia, Indonésia e África do Sul serviram como estimulo a volta dos capitais especulativos a estes países. Os especuladores, que apenas em junho de 2013 haviam retirado de 30 países emergentes US$ 32,5 bilhões, segundo dados do Institute of International Finance Inc., nos últimos 11 meses injetaram US$ 221,7 bilhões nesses mesmos países, incluindo US$ 45 bilhões, só no mês de maio. O excesso de liquidez global faz aumentar o “apetite por risco” dos abutres financeiros internacionais, de acordo com o banco BofA Merrill Lynch.
Na América Latina a grande novidade é o contencioso entre a Justiça dos EUA e o governo da Argentina, após a Suprema Corte ter rejeitado a apelação do governo contra uma decisão que obrigava o país a pagar integralmente a dívida de um grupo de credores participantes de três fundos (NMI, Aurelius e Olifant). Estes fundos não aceitaram o acordo anteriormente assinado por 93% da totalidade dos credores, quando a Argentina, em 2001, declarou um “default” e negociou toda a sua dívida. Temem-se as consequências dessa decisão em outros acordos envolvendo pagamento de dívidas.
No Brasil, apesar de termos passado para as oitavas de final, mesmo com grandes sofrimentos, a situação não anda bem. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei), calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), continuou abaixo dos 50 pontos, considerado o segundo pior já calculado até agora. A maior queda verificou-se nas indústrias da construção, transformação e metalurgia.
As estimativas para o crescimento do PIB este ano, feitas pelo mercado, foram reduzidas de 1,44% para 1,24%. Segundo a CNI, a indústria continua acumulando estoques apesar de baixa produção, com especial destaque para o setor automotivo. Também apresentaram mal desempenho os setores de máquinas e materiais elétricos e couros.
Mas, enquanto alguns curtem suas dificuldades, outros continuam acumulando grandes fortunas. No Brasil, segundo o Boston Consulting Group (BCG), a riqueza privada cresceu 5,6%, em 2013, atingindo US$ 1,3 trilhão, pouco menos de 60% do PIB do país. Na América Latina esse crescimento foi de 11,1%, atingindo US$ 3,9 trilhões e no mundo foi de 14,6%, com um montante de US$ 152 trilhões. Segundo o BCG, o Brasil ficou em 24º lugar, com 70 mil famílias milionárias. Em primeiro lugar vem os EUA, com 7,1 milhões de famílias, seguidos pela comunista China, com 2.4 milhões.
E continuamos nós por aqui, pelo menos festejando o São João, curtindo a copa e torcendo pelo Brasil.



[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quinta-feira, 19 de junho de 2014

Tempos de copa, tempos de crise

Semana de 09 a 15 de junho de 2014

Rosângela Palhano Ramalho[i]

            Enquanto a população brasileira assiste, após 64 anos, uma Copa do Mundo de Futebol, sediada no Brasil, a equipe econômica do governo tenta driblar uma crise econômica que se arrasta sem sinais de recuperação. Tanto o ataque quanto a defesa sofrem com as intempéries geradas pelo fenômeno.
            A equipe de defesa já lançou vários antídotos contra a crise, mas nem todos barraram o ataque do adversário. A crise acabou ganhando um aliado: a inflação, que insiste em furar a defesa da política monetária e que se torna cada vez mais resistente, digo, “resiliente”. Há inúmeras explicações para esta resiliência inflacionária. O leitor fique à vontade para escolher uma delas.
            A presidente Dilma, por exemplo, defende que a inflação é cíclica. Segundo ela, há 15 anos a inflação se comporta da mesma forma: até fevereiro ela estaciona, nos meses seguintes cai, e em junho, julho, agosto, ela sobe. Outra visão que ganha corpo é a de que a inflação vai convergir “naturalmente” para o centro da meta, assim que o choque de preços administrados cessar. A partir daí, a inflação tornar-se-ia menos resiliente e o centro de 4,5% seria conquistado.
            É impressionante como todas as desculpas passam longe do diagnóstico dado à inflação. Dentre as citadas acima, a mais utilizada é a de defasagem da política monetária. Segundo a maioria dos analistas, o horizonte de efeito da política monetária é de dois anos, portanto, teríamos que esperar.
            Surpreendentemente, um aliado do governo, o PDT (Partido Democrático Trabalhista), resolveu questionar a estratégia de ataque à inflação. O partido, em uma carta que será dirigida ao governo, proporá novas formas de gerir a política monetária. O deputado Paulo Rubem Santiago, do PDT de Pernambuco, responsável pela elaboração do documento, faz críticas ao baixo crescimento do país e à política de combate à inflação. Segundo a proposta, o Banco Central deveria apenas executar a política monetária e as etapas que a antecedem, seriam da competência do Executivo e passariam pelo Congresso Nacional.
            Segundo o PDT, os adversários de Dilma, o PSDB e o PSB-Rede, estão se aproveitando do errado diagnóstico da causa da inflação, para atacar. O PDT concorda que o baixo dinamismo da economia brasileira, se deve à política de juros altos usada para combater a inflação. Numa visão contrária à da equipe econômica, a política de taxa de juros como forma de combater o consumo, deve ser abandonada, pois esta não atinge a elevação do preço de alimentos provocada por fenômenos climáticos, e tampouco os preços administrados.
            Esta visão é “inovadora” e embola o meio de campo, pois contraria toda a doutrina que embasa as decisões da política econômica, tanto no âmbito nacional quanto internacional. Até agora ninguém tinha tido coragem suficiente para se opor à visão dominante. A carta do PDT deve ser finalizada destacando que a mudança certamente provocará a insatisfação das elites financeiras, mas que a sociedade organizada deve ser convocada para defender uma política monetária que reconduza o país ao caminho do desenvolvimento, estabilidade e crescimento.
            A proposta será submetida à avaliação da presidente e como desagradará a muitos, será provavelmente descartada. O setor financeiro que já reclama da “excessiva intervenção” do governo na economia, vê na política de juros altos uma das principais formas de garantir altas remunerações. É o temor de que a política atual será mantida que leva o setor financeiro a reagir bem às quedas nas intenções de voto da atual presidente, nas pesquisas eleitorais.
            Segundo a última pesquisa do DataFolha todos os candidatos apresentaram queda das intenções de voto. As intenções para a presidente Dilma, por exemplo, recuaram de 37% para 34%. O Ibovespa, termômetro das negociações financeiras realizadas nos pregões da BM&FBovespa, vem apresentando quedas consecutivas. Em junho, por exemplo, comparado a maio, o indicador caiu 19%. Curiosamente, no dia em que a pesquisa foi divulgada o índice avançou 3,04%.
            Tal comportamento deixa muito claro quais os interesses que estão em jogo. E ai daquele que ousar contrariá-los. Neste jogo de interesses, há um único perdedor: a população brasileira.



[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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quarta-feira, 11 de junho de 2014

Taxa de juros e inflação (cá e lá)



Semana de 02 a 08 de junho de 2014

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Que relação existirá entre juros e inflação? Que segredos estão escondidos quando se estabelece esta relação?
A ideologia econômica oficial, ensinada nas universidades e praticada fanaticamente pelos economistas e analistas econômicos, concebeu esta espúria relação que passou a ser considerada como uma verdade eterna e imutável. Qualquer aprendiz de economia ou de jornalismo econômico sabe que, para controlar a inflação, manipula-se a taxa de juros. Quando a inflação se acelera deve-se elevar as taxas e quando a inflação desacelera, deve-se reduzi-las. Este mecanismo opera através da ação dos bancos centrais (BCs) de todos os países que estabelecem as chamadas taxas básicas. No caso do Brasil esta taxa é a Selic e quem a manipula é o Conselho de Política Monetária (Copom), órgão do BC.
Há cerca de duas semanas o Copom, em sua reunião ordinária resolveu manter a Selic em 11%. Lembremos que, em reuniões sucessivas, e durante quase um ano, o Copom subiu a Selic em 3,75 pontos até atingir os 11% atuais. A decisão do Copom significa uma pausa no chamado aperto monetário, que vinha sendo imposto ao país, a pretexto de combater a inflação. A ata da reunião divulgada esta semana dá as explicações para a interrupção: a desaceleração da inflação, a queda da produção industrial e da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o ambiente externo adverso, ou seja, a situação econômica está se agravando.
Mas, não era exatamente isto o que se pretendia? Então, por que a surpresa?
O BC e o governo deveriam estar festejando o sucesso de sua política: a desaceleração da economia e o aumento do desemprego. No entanto, às vésperas das eleições, ninguém se atreve a assumir a responsabilidade por estas consequências.
Qual é então o lixo debaixo do tapete?
Os acadêmicos fazem bonitos discursos sobre diferentes teorias explicativas da inflação, mas na política econômica, só conhecem uma: a lei da oferta e da procura. Os preços sobem porque a demanda é maior do que a oferta, logo, contra a elevação dos preços é necessário reprimir a demanda e para isto os juros são o único remédio na farmácia da teoria neoclássica. A elevação dos juros desestimula os financiamentos ao consumo e aos investimentos e com isso esfria-se a economia. É o que está ocorrendo.
O desesperador é que, apesar de estarem sendo praticadas as taxas de juros mais altas do mundo, a inflação apenas reduziu os seus ritmos, mas continua perto do teto da meta, ou seja, 6.5%.
Os arautos da ideologia econômica oficial estão desesperados. O emérito professor e ex-ministro Delfim Netto, depois de afirmar que a desaceleração da economia “não surpreendeu ninguém, nem ao governo”, admitiu “o que causa estranheza, no entanto, é a resistência da inflação”. A jornalista do Valor Econômico Claudia Safatle, depois de citar o ex-diretor do BC Luiz Fernando Figueiredo, que reconhece que “já estamos em recessão”, e admitir a estimativa para o crescimento do PIB do ano abaixo de 1%, afirma: “É difícil entender como a inflação resiste no patamar de 6% com uma economia tão fraca, assim como as expectativas de inflação para o futuro também não cedem”.
A teoria econômica oficial, fiel aos seus dogmas, está mais uma vez encurralada. E o pior é que tem a memória fraca. Ninguém se lembra do fenômeno da “estagflação” que atingiu o Brasil no início dos anos 60 e o resto do mundo nos anos 70.
Mas, se o sufoco, por aqui, é o dragão da inflação, no resto do mundo, é o ogro da deflação. Na União Europeia, o BCE, embora resistindo em lançar o seu Quantitative Easing (QE), adotou medidas para elevar a inflação para 2%. O novo pacote do BCE inclui emissão inicial de €400 bilhões, taxas de juros negativas e punição com taxa de 0,1% aos bancos que depositarem suas reservas no BCE, além de estímulos aos bancos que ampliarem seus financiamentos.
Mesmo sem qualquer resultado a teoria se mantém a mesma: cá, aumentam os juros para combater a inflação; lá os reduzem para aumentá-la.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
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quarta-feira, 4 de junho de 2014

O pibinho do primeiro trimestre


Semana de 26 de maio a 01 de junho de 2014


Rosângela Palhano Ramalho

            Caro leitor, a conjuntura econômica brasileira, como há algum tempo já estamos anunciando, continua em má situação. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, em sua reunião da quarta feira da semana passada, decidiu manter a taxa de juros em 11% ao ano. A decisão pela manutenção já era esperada no mercado financeiro, o maior interessado. Continuamos em primeiro lugar no ranking de maior taxa de juros real do mundo. A taxa, que em outubro de 2012 era de 7,25%, sofreu desde então, aumentos consecutivos. O ciclo de alta cessou, segundo o Banco Central, em virtude do fraco cenário macroeconômico e das perspectivas futuras para a inflação, que, embora continuem acima do centro da meta, mostraram arrefecimento.
            O objetivo do governo é derrubar a inflação e, para isso, usa o único instrumento de política monetária que parece conhecer. Os técnicos do governo acreditam que os altos juros altos podem reduzir o crédito e o dinheiro em circulação. As pessoas físicas e empresas tenderiam a diminuir o consumo de bens e serviços, e com isto os preços deveriam cair. É, portanto, objetivo deliberado do governo, diminuir o ritmo da atividade econômica. Segundo o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, o ciclo de alta dos juros ainda não surtiu em sua totalidade, o efeito desejado sobre inflação. Mas, como era de se esperar, o resultado já foi sentido pela atividade econômica. Juros altos, somados a uma crise mundial ainda não superada, presentearam-nos com 0,2% de crescimento do PIB, no primeiro trimestre do ano, quando comparado ao último trimestre do ano passado. Segundo o IBGE, o consumo das famílias caiu 0,1% e os investimentos, 2,1%. A taxa de poupança diminuiu de 13,7% para 12,7% e a produção industrial recuou 0,8%. Era tudo o que o governo queria! Mas, se isto já era esperado pelo governo, porque o resultado é tratado com desânimo e surpresa?
            O ministro da Fazenda, Guido Mantega, assumiu que o resultado ficou aquém do esperado, mas o governo pretende reverter o cenário apostando no consumo, já que a inflação vai cair e as pessoas voltarão a comprar. Comprar mais, segundo o próprio governo, não gera inflação? Como comprar mais se as famílias estão endividadas? Segundo o Banco Central, os juros dos empréstimos para pessoas físicas subiram em abril, pelo quarto mês consecutivo. Além disso, uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, concluiu que a parcela média da renda das famílias correspondente às dívidas foi de 30,9%, em maio. E 62,7% dos entrevistados afirmaram estar endividados, frente a 62,3% registrados em abril.
            Mas, estamos a sete dias da copa! Agora vai! Pelo menos é isto que Mantega espera. Mais uma vez, a expectativa será frustrada. O cenário que se desenha para a atividade econômica enquanto ocorrer o evento, é desanimador. As operadoras de cartão de crédito e as operadoras de telefonia, já anunciaram que os impactos produzidos pela Copa serão negativos, por causa dos feriados decretados. A Electrolux e a Whirpool, produtoras de eletrodomésticos, darão férias coletivas no período da Copa. O setor automobilístico certamente não se recuperará, pois a venda de veículos, em maio, não se recuperou e o setor registrou queda de 11%, quando comparado a abril. Além dos números do setor automotivo, todos os indicadores de atividade já divulgados para os meses que compõem o segundo trimestre, são piores do que aqueles apresentados no primeiro trimestre. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) detectou queda do nível de atividade industrial e o Cadastro Geral de Admitidos e Demitidos (Caged) também apurou números fracos para o mercado de trabalho, com queda na taxa de ocupação.
            Diante disso, as projeções de crescimento para 2014, continuam a cair e passaram a oscilar entre 1% e 1,5%. Mantega continua a se esquivar quanto à sua previsão. No início do ano, o ministro projetava um crescimento de 2,5% e agora está sendo pressionado a assumir a queda para 2,3%. Parece que não há saídas para a equipe econômica. Ou assume de fato, o seu pibinho ou reformula o cálculo do PIB como fez o Reino Unido. Por lá as atividades “produtivas” das prostitutas e dos traficantes de drogas, integrarão o novo sistema de contas. Espera-se um impulso de 10 bilhões de libras esterlinas, cifra que elevará o PIB em até 5%.
            Fica a sugestão ao ministro Mantega. Quem sabe assim a nossa riqueza cresce!


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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domingo, 1 de junho de 2014

Entrevista do professor Nelson Rosas Ribeiro, coordenador do PROGEB, ao JPB.

No Programa de 20/05/2014 do JPB, na TV Cabo Branco, o Prof. Dr. Nelson Rosas falou sobre o controle dos gastos das famílias na Paraíba. Confira a matéria, clique aqui.

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