quarta-feira, 4 de junho de 2014

O pibinho do primeiro trimestre


Semana de 26 de maio a 01 de junho de 2014


Rosângela Palhano Ramalho

            Caro leitor, a conjuntura econômica brasileira, como há algum tempo já estamos anunciando, continua em má situação. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, em sua reunião da quarta feira da semana passada, decidiu manter a taxa de juros em 11% ao ano. A decisão pela manutenção já era esperada no mercado financeiro, o maior interessado. Continuamos em primeiro lugar no ranking de maior taxa de juros real do mundo. A taxa, que em outubro de 2012 era de 7,25%, sofreu desde então, aumentos consecutivos. O ciclo de alta cessou, segundo o Banco Central, em virtude do fraco cenário macroeconômico e das perspectivas futuras para a inflação, que, embora continuem acima do centro da meta, mostraram arrefecimento.
            O objetivo do governo é derrubar a inflação e, para isso, usa o único instrumento de política monetária que parece conhecer. Os técnicos do governo acreditam que os altos juros altos podem reduzir o crédito e o dinheiro em circulação. As pessoas físicas e empresas tenderiam a diminuir o consumo de bens e serviços, e com isto os preços deveriam cair. É, portanto, objetivo deliberado do governo, diminuir o ritmo da atividade econômica. Segundo o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, o ciclo de alta dos juros ainda não surtiu em sua totalidade, o efeito desejado sobre inflação. Mas, como era de se esperar, o resultado já foi sentido pela atividade econômica. Juros altos, somados a uma crise mundial ainda não superada, presentearam-nos com 0,2% de crescimento do PIB, no primeiro trimestre do ano, quando comparado ao último trimestre do ano passado. Segundo o IBGE, o consumo das famílias caiu 0,1% e os investimentos, 2,1%. A taxa de poupança diminuiu de 13,7% para 12,7% e a produção industrial recuou 0,8%. Era tudo o que o governo queria! Mas, se isto já era esperado pelo governo, porque o resultado é tratado com desânimo e surpresa?
            O ministro da Fazenda, Guido Mantega, assumiu que o resultado ficou aquém do esperado, mas o governo pretende reverter o cenário apostando no consumo, já que a inflação vai cair e as pessoas voltarão a comprar. Comprar mais, segundo o próprio governo, não gera inflação? Como comprar mais se as famílias estão endividadas? Segundo o Banco Central, os juros dos empréstimos para pessoas físicas subiram em abril, pelo quarto mês consecutivo. Além disso, uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, concluiu que a parcela média da renda das famílias correspondente às dívidas foi de 30,9%, em maio. E 62,7% dos entrevistados afirmaram estar endividados, frente a 62,3% registrados em abril.
            Mas, estamos a sete dias da copa! Agora vai! Pelo menos é isto que Mantega espera. Mais uma vez, a expectativa será frustrada. O cenário que se desenha para a atividade econômica enquanto ocorrer o evento, é desanimador. As operadoras de cartão de crédito e as operadoras de telefonia, já anunciaram que os impactos produzidos pela Copa serão negativos, por causa dos feriados decretados. A Electrolux e a Whirpool, produtoras de eletrodomésticos, darão férias coletivas no período da Copa. O setor automobilístico certamente não se recuperará, pois a venda de veículos, em maio, não se recuperou e o setor registrou queda de 11%, quando comparado a abril. Além dos números do setor automotivo, todos os indicadores de atividade já divulgados para os meses que compõem o segundo trimestre, são piores do que aqueles apresentados no primeiro trimestre. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) detectou queda do nível de atividade industrial e o Cadastro Geral de Admitidos e Demitidos (Caged) também apurou números fracos para o mercado de trabalho, com queda na taxa de ocupação.
            Diante disso, as projeções de crescimento para 2014, continuam a cair e passaram a oscilar entre 1% e 1,5%. Mantega continua a se esquivar quanto à sua previsão. No início do ano, o ministro projetava um crescimento de 2,5% e agora está sendo pressionado a assumir a queda para 2,3%. Parece que não há saídas para a equipe econômica. Ou assume de fato, o seu pibinho ou reformula o cálculo do PIB como fez o Reino Unido. Por lá as atividades “produtivas” das prostitutas e dos traficantes de drogas, integrarão o novo sistema de contas. Espera-se um impulso de 10 bilhões de libras esterlinas, cifra que elevará o PIB em até 5%.
            Fica a sugestão ao ministro Mantega. Quem sabe assim a nossa riqueza cresce!


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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