Semana de 09 a 15 de junho de 2014
Rosângela Palhano Ramalho[i]
Enquanto a população brasileira assiste, após 64 anos, uma Copa do Mundo de Futebol, sediada no Brasil, a equipe econômica do governo tenta driblar uma crise econômica que se arrasta sem sinais de recuperação. Tanto o ataque quanto a defesa sofrem com as intempéries geradas pelo fenômeno.
A equipe de defesa já lançou vários antídotos contra a crise, mas nem todos barraram o ataque do adversário. A crise acabou ganhando um aliado: a inflação, que insiste em furar a defesa da política monetária e que se torna cada vez mais resistente, digo, “resiliente”. Há inúmeras explicações para esta resiliência inflacionária. O leitor fique à vontade para escolher uma delas.
A presidente Dilma, por exemplo, defende que a inflação é cíclica. Segundo ela, há 15 anos a inflação se comporta da mesma forma: até fevereiro ela estaciona, nos meses seguintes cai, e em junho, julho, agosto, ela sobe. Outra visão que ganha corpo é a de que a inflação vai convergir “naturalmente” para o centro da meta, assim que o choque de preços administrados cessar. A partir daí, a inflação tornar-se-ia menos resiliente e o centro de 4,5% seria conquistado.
É impressionante como todas as desculpas passam longe do diagnóstico dado à inflação. Dentre as citadas acima, a mais utilizada é a de defasagem da política monetária. Segundo a maioria dos analistas, o horizonte de efeito da política monetária é de dois anos, portanto, teríamos que esperar.
Surpreendentemente, um aliado do governo, o PDT (Partido Democrático Trabalhista), resolveu questionar a estratégia de ataque à inflação. O partido, em uma carta que será dirigida ao governo, proporá novas formas de gerir a política monetária. O deputado Paulo Rubem Santiago, do PDT de Pernambuco, responsável pela elaboração do documento, faz críticas ao baixo crescimento do país e à política de combate à inflação. Segundo a proposta, o Banco Central deveria apenas executar a política monetária e as etapas que a antecedem, seriam da competência do Executivo e passariam pelo Congresso Nacional.
Segundo o PDT, os adversários de Dilma, o PSDB e o PSB-Rede, estão se aproveitando do errado diagnóstico da causa da inflação, para atacar. O PDT concorda que o baixo dinamismo da economia brasileira, se deve à política de juros altos usada para combater a inflação. Numa visão contrária à da equipe econômica, a política de taxa de juros como forma de combater o consumo, deve ser abandonada, pois esta não atinge a elevação do preço de alimentos provocada por fenômenos climáticos, e tampouco os preços administrados.
Esta visão é “inovadora” e embola o meio de campo, pois contraria toda a doutrina que embasa as decisões da política econômica, tanto no âmbito nacional quanto internacional. Até agora ninguém tinha tido coragem suficiente para se opor à visão dominante. A carta do PDT deve ser finalizada destacando que a mudança certamente provocará a insatisfação das elites financeiras, mas que a sociedade organizada deve ser convocada para defender uma política monetária que reconduza o país ao caminho do desenvolvimento, estabilidade e crescimento.
A proposta será submetida à avaliação da presidente e como desagradará a muitos, será provavelmente descartada. O setor financeiro que já reclama da “excessiva intervenção” do governo na economia, vê na política de juros altos uma das principais formas de garantir altas remunerações. É o temor de que a política atual será mantida que leva o setor financeiro a reagir bem às quedas nas intenções de voto da atual presidente, nas pesquisas eleitorais.
Segundo a última pesquisa do DataFolha todos os candidatos apresentaram queda das intenções de voto. As intenções para a presidente Dilma, por exemplo, recuaram de 37% para 34%. O Ibovespa, termômetro das negociações financeiras realizadas nos pregões da BM&FBovespa, vem apresentando quedas consecutivas. Em junho, por exemplo, comparado a maio, o indicador caiu 19%. Curiosamente, no dia em que a pesquisa foi divulgada o índice avançou 3,04%.
Tal comportamento deixa muito claro quais os interesses que estão em jogo. E ai daquele que ousar contrariá-los. Neste jogo de interesses, há um único perdedor: a população brasileira.
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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