quarta-feira, 11 de junho de 2014

Taxa de juros e inflação (cá e lá)



Semana de 02 a 08 de junho de 2014

Nelson Rosas Ribeiro[i]

Que relação existirá entre juros e inflação? Que segredos estão escondidos quando se estabelece esta relação?
A ideologia econômica oficial, ensinada nas universidades e praticada fanaticamente pelos economistas e analistas econômicos, concebeu esta espúria relação que passou a ser considerada como uma verdade eterna e imutável. Qualquer aprendiz de economia ou de jornalismo econômico sabe que, para controlar a inflação, manipula-se a taxa de juros. Quando a inflação se acelera deve-se elevar as taxas e quando a inflação desacelera, deve-se reduzi-las. Este mecanismo opera através da ação dos bancos centrais (BCs) de todos os países que estabelecem as chamadas taxas básicas. No caso do Brasil esta taxa é a Selic e quem a manipula é o Conselho de Política Monetária (Copom), órgão do BC.
Há cerca de duas semanas o Copom, em sua reunião ordinária resolveu manter a Selic em 11%. Lembremos que, em reuniões sucessivas, e durante quase um ano, o Copom subiu a Selic em 3,75 pontos até atingir os 11% atuais. A decisão do Copom significa uma pausa no chamado aperto monetário, que vinha sendo imposto ao país, a pretexto de combater a inflação. A ata da reunião divulgada esta semana dá as explicações para a interrupção: a desaceleração da inflação, a queda da produção industrial e da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o ambiente externo adverso, ou seja, a situação econômica está se agravando.
Mas, não era exatamente isto o que se pretendia? Então, por que a surpresa?
O BC e o governo deveriam estar festejando o sucesso de sua política: a desaceleração da economia e o aumento do desemprego. No entanto, às vésperas das eleições, ninguém se atreve a assumir a responsabilidade por estas consequências.
Qual é então o lixo debaixo do tapete?
Os acadêmicos fazem bonitos discursos sobre diferentes teorias explicativas da inflação, mas na política econômica, só conhecem uma: a lei da oferta e da procura. Os preços sobem porque a demanda é maior do que a oferta, logo, contra a elevação dos preços é necessário reprimir a demanda e para isto os juros são o único remédio na farmácia da teoria neoclássica. A elevação dos juros desestimula os financiamentos ao consumo e aos investimentos e com isso esfria-se a economia. É o que está ocorrendo.
O desesperador é que, apesar de estarem sendo praticadas as taxas de juros mais altas do mundo, a inflação apenas reduziu os seus ritmos, mas continua perto do teto da meta, ou seja, 6.5%.
Os arautos da ideologia econômica oficial estão desesperados. O emérito professor e ex-ministro Delfim Netto, depois de afirmar que a desaceleração da economia “não surpreendeu ninguém, nem ao governo”, admitiu “o que causa estranheza, no entanto, é a resistência da inflação”. A jornalista do Valor Econômico Claudia Safatle, depois de citar o ex-diretor do BC Luiz Fernando Figueiredo, que reconhece que “já estamos em recessão”, e admitir a estimativa para o crescimento do PIB do ano abaixo de 1%, afirma: “É difícil entender como a inflação resiste no patamar de 6% com uma economia tão fraca, assim como as expectativas de inflação para o futuro também não cedem”.
A teoria econômica oficial, fiel aos seus dogmas, está mais uma vez encurralada. E o pior é que tem a memória fraca. Ninguém se lembra do fenômeno da “estagflação” que atingiu o Brasil no início dos anos 60 e o resto do mundo nos anos 70.
Mas, se o sufoco, por aqui, é o dragão da inflação, no resto do mundo, é o ogro da deflação. Na União Europeia, o BCE, embora resistindo em lançar o seu Quantitative Easing (QE), adotou medidas para elevar a inflação para 2%. O novo pacote do BCE inclui emissão inicial de €400 bilhões, taxas de juros negativas e punição com taxa de 0,1% aos bancos que depositarem suas reservas no BCE, além de estímulos aos bancos que ampliarem seus financiamentos.
Mesmo sem qualquer resultado a teoria se mantém a mesma: cá, aumentam os juros para combater a inflação; lá os reduzem para aumentá-la.


[i] Professor Emérito da UFPB e Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira progeb@ccsa.ufpb.br); (www.progeb.blogspot.com).
Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog