Semana de 28 de julho a 03 de agosto de 2008
Nos EUA, foi criado um critério para determinar quando uma economia entra em recessão. Segundo este critério, só se considera que há recessão quando há uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) por dois trimestres consecutivos. Baseado nessa definição, o NBER, organização privada de pesquisa, identifica o começo e o fim das recessões. Só na semana passada, eles divulgaram a conclusão de que a economia americana sofreu uma recessão na virada de 2007 para 2008. Finalmente descobriram o que nós, do Progeb, já havíamos previsto, desde o ano passado.
Mais atrasado ainda está Alan Greenspan. Para ele, a economia americana ainda esta “à beira” de uma recessão. Greenspan disse que, diante da atual situação financeira, ficará surpreso se a recessão não acontecer, e que, quanto aos preços residenciais, o mercado americano ainda está muito longe de atingir o fundo do poço. Acrescentou ainda que as instituições financeiras Fannie Mae e Freddie Mac eram “um desastre esperado para acontecer” e sugeriu que o governo deve nacionalizar as duas agências e reestruturá-las em cinco ou dez entidades, dando-lhes mais capital para depois devolvê-las ao mercado.
Este é mais um exemplo da utilização do Estado pelos grupos capitalistas. Na hora do prejuízo, socializem-se as perdas (com o dinheiro dos contribuintes), e na hora dos lucros, entreguem-nos novamente aos empresários privados.
Adiantado nas previsões está Paul Krugman, professor de economia da Universidade de Princeton, que já prevê uma próxima crise muito pior que a atual. Para ele, “é tarde demais para evitar esta dor. Porém, nós podemos procurar evitar que novas e maiores crises apareçam no futuro”.
Apesar da crise, e contrariando as expectativas, em julho, as empresas norte-americanas criaram cerca de nove mil novos empregos, o que não compensou os resultados dos seis primeiros meses do ano. Os dados do Departamento do Trabalho dos EUA mostram que, no semestre, em média, nas folhas de pagamento das empresas privadas, foram eliminados 94 mil postos de trabalho por mês.
Enquanto o FMI não avista, no horizonte, o fim da crise nos EUA, parece que, no Brasil, ela começa a dar as caras. Pelo menos é o que sugerem os dados do PIB. Segundo os economistas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a atividade industrial já apresenta os primeiros sinais de desaceleração, com o aumento dos estoques, o que é agravado pelos problemas de acesso ao crédito graças à elevação dos juros, patrocinada pelo governo. Essa também é a visão da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que, além disso, prevê, nos próximos trimestres, um crescimento dos preços na indústria de transformação, como conseqüência da elevação dos custos.
Os números do crescimento da economia, no primeiro semestre do ano, são positivos, mas, de acordo com uma sondagem da CNI, as previsões apontam para uma possível mudança de ritmo na economia, no segundo semestre.
Segundo Flavio Castelo Branco, gerente de política econômica da CNI, o que deve ocorrer, ao longo do ano, é “uma adequação do ritmo. Começamos com um ritmo forte, refletindo o final do ano passado. A duvida é se a acomodação será mais lenta ou forte”.
Não só a alta da taxa Selic é apontada como culpada, mas, para os próximos dois anos, o cenário externo volta a ter peso significativo. Cláudio Porto, diretor-presidente da Macroplan, aponta três elementos de preocupação: a crise dos Estados Unidos, que deve se agravar, a generalização da inflação mundial, causada pela alta acentuada dos preços dos alimentos e das commodities industriais, e a maior volatilidade das cotações do petróleo. Para o economista, atualmente há um efeito simultâneo entre pressão de demanda, por haver mais pessoas consumindo, e pressão de custos. Mesmo não estando em um céu de brigadeiro, Porto aposta que a economia brasileira ainda vai manter o crescimento, este ano, pelo efeito inercial: “este ano sentiremos um ajuste suave. O aperto mais forte virá em 2009”, quando a taxa de crescimento do produto deve cair para 3,5%.
Para piorar ainda mais a situação, as transações correntes, um dos principais indicadores das contas externas, apresentaram, no primeiro semestre, o pior resultado desde o início da série histórica do Banco Central do Brasil em 1947. Puxado pelas remessas de lucros e dividendos de empresas com sede no exterior, pela queda do superávit da balança comercial e pelo aumento dos gastos de brasileiros no exterior, o déficit atingiu, em junho, US$ 2,596 bilhões.
Já o superávit primário, economia feita pelo Governo Central, Estados e Municípios para o pagamento dos juros da dívida pública, somou R$ 86,1 bilhões, o maior desde o início da série histórica do BC em 1991. A cifra equivale a 6,19% do PIB e foi impulsionada pelo aumento da arrecadação tributária. Especialista em contas públicas, o economista Raul Velloso acredita que o Brasil “ainda não caminha” para zerar o déficit nominal por causa dos juros elevados, que aumentam automaticamente as despesas.
A dívida tem crescido em virtude da elevação da taxa básica de juros, Selic, que é justificada pelo BC, como meio de conter o aumento da inflação, que, na opinião de muitos analistas, já atingiu o seu pico e tende a diminuir agora.
O grau de investimento conferido ao Brasil por duas agências de classificação de risco acenava como uma dádiva caída do céu para a economia brasileira. Como não podia deixar de ser, o “upgrade” foi trombeteado pelo governo quase a exaustão. E o mercado de ações acompanhou a euforia. Quando os especuladores consideraram que as cotações já tinham alcançado o nível conveniente, decidiram vender e buscar novos nichos mais seguros para aplicar o dinheiro. Nesse momento, e por mera coincidência, o Banco Central, salvador dos capitais especulativos, tratou de aumentar a taxa Selic em 1,75% de abril para cá. O resultado foi a migração das aplicações, dos “investidores” estrangeiros, para os papéis de renda fixa.
Talvez a verdadeira intenção do BC seja mesmo garantir a remuneração dos capitais especulativos, o que, convenhamos, é menos indecente do que comprar instituições financeiras quebradas, como está sendo feito pelo governo americano.
Apesar da elevação da taxa Selic, das ameaças inflacionárias e dos aumentos da alíquota do Imposto sobre Movimentação Financeira (IOF) e da taxa de compulsório sobre as empresas de leasing, as operações do sistema financeiro mantiveram a fôlego. O Banco Central informou que, em junho, o estoque de recursos emprestado atingiu R$ 1,067 trilhões, o equivalente a 36,5% do Produto Interno Bruto (PIB). É a maior participação deste setor no PIB, desde janeiro de 1995, quando chegou a 36,8%. Mas, o Banco Central afirma que está acompanhando o crédito e pensa que o aumento da taxa de juros restringirá a demanda.
Mas, preocupado com a situação das empresas que atuam no comércio exterior e que estão visivelmente penalizadas por conta da valorização da moeda brasileira, que neste ano já acumula mais de 11,5%, o governo liberou R$ 3 bilhões em crédito dos recursos destinados à nova política industrial.
Outra medida para tentar proteger o setor foi a prorrogação, até 2010, da redução de 14%, para 2%, do Imposto de Importação, na compra de máquinas e equipamentos destinados ao setor produtivo sem similar nacional. O beneficio deveria terminar no primeiro dia de dezembro deste ano.
Outro fator que corrobora com as nossas previsões de que a economia brasileira estaria entrando em recessão são as informações sobre a criação de emprego. Os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), elaborada pela Fundação Seade e pelo Departamento Intersindical de Estatística e estudos Socioeconômicos (Dieese) referentes a junho, revelam uma leve queda na criação de empregos formais no setor privado, que apresentou redução de 0,3%, em junho, comparado a maio.
Há uma nuvem negra pairando sobre a economia brasileira, mas temos que esperar para ver se é apenas uma chuva ou se o Banco Central, aumentando ainda mais as taxas de juros, vai contribuir para transformá-la em uma tempestade.
Mais atrasado ainda está Alan Greenspan. Para ele, a economia americana ainda esta “à beira” de uma recessão. Greenspan disse que, diante da atual situação financeira, ficará surpreso se a recessão não acontecer, e que, quanto aos preços residenciais, o mercado americano ainda está muito longe de atingir o fundo do poço. Acrescentou ainda que as instituições financeiras Fannie Mae e Freddie Mac eram “um desastre esperado para acontecer” e sugeriu que o governo deve nacionalizar as duas agências e reestruturá-las em cinco ou dez entidades, dando-lhes mais capital para depois devolvê-las ao mercado.
Este é mais um exemplo da utilização do Estado pelos grupos capitalistas. Na hora do prejuízo, socializem-se as perdas (com o dinheiro dos contribuintes), e na hora dos lucros, entreguem-nos novamente aos empresários privados.
Adiantado nas previsões está Paul Krugman, professor de economia da Universidade de Princeton, que já prevê uma próxima crise muito pior que a atual. Para ele, “é tarde demais para evitar esta dor. Porém, nós podemos procurar evitar que novas e maiores crises apareçam no futuro”.
Apesar da crise, e contrariando as expectativas, em julho, as empresas norte-americanas criaram cerca de nove mil novos empregos, o que não compensou os resultados dos seis primeiros meses do ano. Os dados do Departamento do Trabalho dos EUA mostram que, no semestre, em média, nas folhas de pagamento das empresas privadas, foram eliminados 94 mil postos de trabalho por mês.
Enquanto o FMI não avista, no horizonte, o fim da crise nos EUA, parece que, no Brasil, ela começa a dar as caras. Pelo menos é o que sugerem os dados do PIB. Segundo os economistas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a atividade industrial já apresenta os primeiros sinais de desaceleração, com o aumento dos estoques, o que é agravado pelos problemas de acesso ao crédito graças à elevação dos juros, patrocinada pelo governo. Essa também é a visão da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que, além disso, prevê, nos próximos trimestres, um crescimento dos preços na indústria de transformação, como conseqüência da elevação dos custos.
Os números do crescimento da economia, no primeiro semestre do ano, são positivos, mas, de acordo com uma sondagem da CNI, as previsões apontam para uma possível mudança de ritmo na economia, no segundo semestre.
Segundo Flavio Castelo Branco, gerente de política econômica da CNI, o que deve ocorrer, ao longo do ano, é “uma adequação do ritmo. Começamos com um ritmo forte, refletindo o final do ano passado. A duvida é se a acomodação será mais lenta ou forte”.
Não só a alta da taxa Selic é apontada como culpada, mas, para os próximos dois anos, o cenário externo volta a ter peso significativo. Cláudio Porto, diretor-presidente da Macroplan, aponta três elementos de preocupação: a crise dos Estados Unidos, que deve se agravar, a generalização da inflação mundial, causada pela alta acentuada dos preços dos alimentos e das commodities industriais, e a maior volatilidade das cotações do petróleo. Para o economista, atualmente há um efeito simultâneo entre pressão de demanda, por haver mais pessoas consumindo, e pressão de custos. Mesmo não estando em um céu de brigadeiro, Porto aposta que a economia brasileira ainda vai manter o crescimento, este ano, pelo efeito inercial: “este ano sentiremos um ajuste suave. O aperto mais forte virá em 2009”, quando a taxa de crescimento do produto deve cair para 3,5%.
Para piorar ainda mais a situação, as transações correntes, um dos principais indicadores das contas externas, apresentaram, no primeiro semestre, o pior resultado desde o início da série histórica do Banco Central do Brasil em 1947. Puxado pelas remessas de lucros e dividendos de empresas com sede no exterior, pela queda do superávit da balança comercial e pelo aumento dos gastos de brasileiros no exterior, o déficit atingiu, em junho, US$ 2,596 bilhões.
Já o superávit primário, economia feita pelo Governo Central, Estados e Municípios para o pagamento dos juros da dívida pública, somou R$ 86,1 bilhões, o maior desde o início da série histórica do BC em 1991. A cifra equivale a 6,19% do PIB e foi impulsionada pelo aumento da arrecadação tributária. Especialista em contas públicas, o economista Raul Velloso acredita que o Brasil “ainda não caminha” para zerar o déficit nominal por causa dos juros elevados, que aumentam automaticamente as despesas.
A dívida tem crescido em virtude da elevação da taxa básica de juros, Selic, que é justificada pelo BC, como meio de conter o aumento da inflação, que, na opinião de muitos analistas, já atingiu o seu pico e tende a diminuir agora.
O grau de investimento conferido ao Brasil por duas agências de classificação de risco acenava como uma dádiva caída do céu para a economia brasileira. Como não podia deixar de ser, o “upgrade” foi trombeteado pelo governo quase a exaustão. E o mercado de ações acompanhou a euforia. Quando os especuladores consideraram que as cotações já tinham alcançado o nível conveniente, decidiram vender e buscar novos nichos mais seguros para aplicar o dinheiro. Nesse momento, e por mera coincidência, o Banco Central, salvador dos capitais especulativos, tratou de aumentar a taxa Selic em 1,75% de abril para cá. O resultado foi a migração das aplicações, dos “investidores” estrangeiros, para os papéis de renda fixa.
Talvez a verdadeira intenção do BC seja mesmo garantir a remuneração dos capitais especulativos, o que, convenhamos, é menos indecente do que comprar instituições financeiras quebradas, como está sendo feito pelo governo americano.
Apesar da elevação da taxa Selic, das ameaças inflacionárias e dos aumentos da alíquota do Imposto sobre Movimentação Financeira (IOF) e da taxa de compulsório sobre as empresas de leasing, as operações do sistema financeiro mantiveram a fôlego. O Banco Central informou que, em junho, o estoque de recursos emprestado atingiu R$ 1,067 trilhões, o equivalente a 36,5% do Produto Interno Bruto (PIB). É a maior participação deste setor no PIB, desde janeiro de 1995, quando chegou a 36,8%. Mas, o Banco Central afirma que está acompanhando o crédito e pensa que o aumento da taxa de juros restringirá a demanda.
Mas, preocupado com a situação das empresas que atuam no comércio exterior e que estão visivelmente penalizadas por conta da valorização da moeda brasileira, que neste ano já acumula mais de 11,5%, o governo liberou R$ 3 bilhões em crédito dos recursos destinados à nova política industrial.
Outra medida para tentar proteger o setor foi a prorrogação, até 2010, da redução de 14%, para 2%, do Imposto de Importação, na compra de máquinas e equipamentos destinados ao setor produtivo sem similar nacional. O beneficio deveria terminar no primeiro dia de dezembro deste ano.
Outro fator que corrobora com as nossas previsões de que a economia brasileira estaria entrando em recessão são as informações sobre a criação de emprego. Os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), elaborada pela Fundação Seade e pelo Departamento Intersindical de Estatística e estudos Socioeconômicos (Dieese) referentes a junho, revelam uma leve queda na criação de empregos formais no setor privado, que apresentou redução de 0,3%, em junho, comparado a maio.
Há uma nuvem negra pairando sobre a economia brasileira, mas temos que esperar para ver se é apenas uma chuva ou se o Banco Central, aumentando ainda mais as taxas de juros, vai contribuir para transformá-la em uma tempestade.
Texto escrito por:
Nayana Ruth Mangueira de Figueiredo: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (progeb@ccsa.ufpb.br)
Arquivo para download disponível em formato pdf.
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