Semana de 04 a 10 de maio de 2009
A economia americana, na perspectiva de Bem Bernanke, presidente do FED – Banco Central dos Estados Unidos, registrará ainda esse ano uma recuperação, embora ela aconteça de forma gradual, mantendo elevada a taxa de desemprego e com alguma inflação. Nas suas palavra, “Os dados recentes pressagiam que o ritmo da contração pode estar se desacelerando e que a demanda final, especialmente a das famílias, pode estar se estabilizando”.
Em que pese o otimismo do presidente de uma das maiores instituições financeiras do planeta, as notícias que nos chegam da América não testemunham a favor da sua ideia. A Microsoft confirma, para breve, um corte de 3 mil funcionários; a GM pressiona os sindicatos para reduzir os gastos; a Chrysler estende as ofertas de indenizações; os preços dos imóveis continuam a cair e prossegue forte o desemprego, que avançou para 8,5%, sendo a taxa mais alta em 25 anos. Desde novembro do ano passado, nos Estados Unidos, desapareceram mais de 3 milhões de postos de trabalho.
Mas, os EUA não estão sozinhos naquilo que se pode considerar uma “travessia do deserto”. Na Europa, prevê-se que a pior fase da crise ainda está por vir, quando se espera, para 2010, uma contração do PIB de 4% e uma taxa de desemprego da ordem de 11,5%. Esta está sendo considerada a pior recessão desde 1945, o que se traduzirá na perda de 8,5 milhões de empregos. Prosseguem as fusões, que são típicas dos tempos de recessão. A Porsche e a Volkswagen discutem a fusão; a FIAT, depois de ter-se fundido com a Chrysler norte-americana, procura uma união pan-europeia adquirindo a unidade europeia da General Motors e incluindo a sueca Saab Automobile. A Opel encontra-se em negociação.
O lucro do grupo petrolífero francês Total, nos três primeiros meses de 2009, sofreu uma queda de 14,8% quando comparado com igual período do ano passado.
A Rússia não fugiu à regra pois, contrariando o otimismo que se tinha criado com as previsões anteriores, também o PIB caiu.
A recessão na América Latina, segundo previsão do FMI, será mais breve e mais suave. O Fundo diz que a região terá contração de 1,5% em 2009, crescendo para 1,6% em 2010.
Nas relações do Brasil com o resto mundo, destacou-se nessa semana a crescente parceria com a China que, em abril, passou a ter a maior ligação comercial com o Brasil, ocupando o lugar dos Estados Unidos (EUA). A corrente do comércio com o país asiático atingiu US$ 3,2 bilhões em abril, enquanto que com os Estados Unidos a cifra foi de US$ 2,8 bilhões. Por conta da crise, o Brasil reverteu o superávit que tinha com os Estados Unidos e o déficit com a China na Balança Comercial. As exportações para a China somaram US$ 5,627 bilhões entre janeiro e abril, sendo que as importações chinesas para o Brasil foram de US$ 4,616 bilhões no mesmo período, gerando superávit de US$ 1 bilhão para os brasileiros. Ao mesmo tempo, as vendas para os Estados Unidos somaram US$ 4,925 bilhões e as importações brasileiras, com origem naquele país, foram de US$ 6,841 bilhões, gerando um déficit de US$ 1,9 bilhões.
Destaca-se também o crescimento das vendas do Brasil aos países árabes, tendo as exportações brasileiras para aqueles países somado US$ 1,873 bilhão no primeiro trimestre deste ano, o que representa um aumento de 4,1% frente a igual intervalo do ano passado. O saldo da balança comercial no trimestre ficou favorável ao Brasil em US$ 1,1 bilhão. Dentre os países daquela região, o Egito é dos que mais se
destaca no crescimento das compras ao Brasil.
Aqui, o sinal mais preocupante sobre o desenrolar da crise foi o recuo na produção de bens de capital. A queda foi de 14,7%, de janeiro a março deste ano, com relação a igual período de 2008 e, no acumulado de setembro a março, o recuo foi de 16,7%. É de sublinhar que os bens de capital são os que representam a parcela mais importante da formação bruta de capital fixo. Além do recuo na produção, observa-se que houve também um recuo nas importações desse tipo de bens, correspondente a 5,7% em abril, com relação ao mesmo período do ano passado. A queda no consumo aparente de meios de produção atesta a paralisação dos investimentos sem os quais a recuperação da economia não se torna possível. Caiu também o consumo brasileiro de energia elétrica, em 2,9%, em abril, comparando-se com igual período do ano passado, influenciado pelo recuo do setor industrial. Ao mesmo tempo, cresceu a confiança da indústria brasileira pelo quarto mês consecutivo, em 8,75% no mês de abril sobre março, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O índice passou para 84,6 pontos nesse mês, com ajuste sazonal, ante 77,8 pontos no anterior.
Os tempos estão difíceis. O superávit primário recuou para 3,29% do PIB, em março.A queda da Selic, a redução do IPI, o financiamento da casa própria, esses mecanismos foram e estão sendo utilizados na tentativa de superar as dificuldades pelas quais passa a economia brasileira. Mas, em que pese esses apoios e alavancas para a recuperação, lamentavelmente, o fraco desempenho da produção industrial, registrada no primeiro trimestre do ano, dá sinais de que a saída da crise ainda vai longe.
Os lucros da Caixa Econômica Federal cairam 48,22% sendo apontada como causa a cobrança de juros menores. Os do Itaú Unibanco também recuaram 27,7% no trimestre, reduzindo-se para R$ 2 bilhões. O Bank of America (BofA), que se tornou acionista do Itaú Unibanco desde 2006, está proibido de vender as ações que detém deste último.
O ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, acredita que o cenário de recuperação não está assegurado e diz que o governo “não pode usar a crise para aumentar desnecessariamente a máquina pública”. Ele afirmou ainda que “ As perspectivas para o PIB deste ano não são boas, pois com a paralisação de investimentos, a economia deve sofrer, entretanto, o varejo pode ser o responsável por amenizar esse efeito”. Quanto à Selic, comentou Guido Mantega, “O crédito está melhorando, não ainda o desejado. Estamos lentamente recuperando o crédito. A taxa de juros está caindo, mas ainda não o necessário. Deverá cair mais pra que o crédito seja alcançado por aqueles que precisam disso”.
Quanto ao IPI, o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Miguel Jorge afirmou que ele não deve sofrer mais reduções a partir de junho.
A lucratividade das empresas vive período de grande vulnerabilidade. A Comgás, Companhia de Gás Natural de São Paulo, anunciou a queda de 20,1%, em seu lucro líquido do primeiro trimestre desse ano na comparação com os mesmos meses de 2008, totalizando R$ 95,8 milhões. O fabricante de filmes flexíveis Vitopel também registrou uma queda de 11% no primeiro trimestre de 2009.
Em Corumbá, a MMX retomou as suas atividades de mineração, mantendo no entanto paralisada a unidade de metálicos que produz ferro-guza.
São Paulo concentrou a criação de empregos formais em março. A Renault, por sua vez, reintegrou 70% do pessoal. Mas os resultados positivos desse mês ainda não foram suficientes para cobrir as perdas de postos no ano. No primeiro trimestre, o estado de São Paulo acumulou um saldo negativo de 4540 vagas.
Enquanto isso tudo acontece, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está atrasado e o Presidente Lula justifica o atraso responsabilizando o que ele chama de “máquina de fiscalização”. Nas suas palavras, “o país passou anos e anos sem fazer investimentos e fomos criando uma poderosa máquina de fiscalização que agora é superior a de produção”.
Para nossa infelicidade, porém, este gigantismo não consegue deter a corrupção generalizada que continua a corroer as entranhas da nação.
Texto escrito por:
Elivan Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
progeb@ccsa.ufpb.br
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Em que pese o otimismo do presidente de uma das maiores instituições financeiras do planeta, as notícias que nos chegam da América não testemunham a favor da sua ideia. A Microsoft confirma, para breve, um corte de 3 mil funcionários; a GM pressiona os sindicatos para reduzir os gastos; a Chrysler estende as ofertas de indenizações; os preços dos imóveis continuam a cair e prossegue forte o desemprego, que avançou para 8,5%, sendo a taxa mais alta em 25 anos. Desde novembro do ano passado, nos Estados Unidos, desapareceram mais de 3 milhões de postos de trabalho.
Mas, os EUA não estão sozinhos naquilo que se pode considerar uma “travessia do deserto”. Na Europa, prevê-se que a pior fase da crise ainda está por vir, quando se espera, para 2010, uma contração do PIB de 4% e uma taxa de desemprego da ordem de 11,5%. Esta está sendo considerada a pior recessão desde 1945, o que se traduzirá na perda de 8,5 milhões de empregos. Prosseguem as fusões, que são típicas dos tempos de recessão. A Porsche e a Volkswagen discutem a fusão; a FIAT, depois de ter-se fundido com a Chrysler norte-americana, procura uma união pan-europeia adquirindo a unidade europeia da General Motors e incluindo a sueca Saab Automobile. A Opel encontra-se em negociação.
O lucro do grupo petrolífero francês Total, nos três primeiros meses de 2009, sofreu uma queda de 14,8% quando comparado com igual período do ano passado.
A Rússia não fugiu à regra pois, contrariando o otimismo que se tinha criado com as previsões anteriores, também o PIB caiu.
A recessão na América Latina, segundo previsão do FMI, será mais breve e mais suave. O Fundo diz que a região terá contração de 1,5% em 2009, crescendo para 1,6% em 2010.
Nas relações do Brasil com o resto mundo, destacou-se nessa semana a crescente parceria com a China que, em abril, passou a ter a maior ligação comercial com o Brasil, ocupando o lugar dos Estados Unidos (EUA). A corrente do comércio com o país asiático atingiu US$ 3,2 bilhões em abril, enquanto que com os Estados Unidos a cifra foi de US$ 2,8 bilhões. Por conta da crise, o Brasil reverteu o superávit que tinha com os Estados Unidos e o déficit com a China na Balança Comercial. As exportações para a China somaram US$ 5,627 bilhões entre janeiro e abril, sendo que as importações chinesas para o Brasil foram de US$ 4,616 bilhões no mesmo período, gerando superávit de US$ 1 bilhão para os brasileiros. Ao mesmo tempo, as vendas para os Estados Unidos somaram US$ 4,925 bilhões e as importações brasileiras, com origem naquele país, foram de US$ 6,841 bilhões, gerando um déficit de US$ 1,9 bilhões.
Destaca-se também o crescimento das vendas do Brasil aos países árabes, tendo as exportações brasileiras para aqueles países somado US$ 1,873 bilhão no primeiro trimestre deste ano, o que representa um aumento de 4,1% frente a igual intervalo do ano passado. O saldo da balança comercial no trimestre ficou favorável ao Brasil em US$ 1,1 bilhão. Dentre os países daquela região, o Egito é dos que mais se
destaca no crescimento das compras ao Brasil.
Aqui, o sinal mais preocupante sobre o desenrolar da crise foi o recuo na produção de bens de capital. A queda foi de 14,7%, de janeiro a março deste ano, com relação a igual período de 2008 e, no acumulado de setembro a março, o recuo foi de 16,7%. É de sublinhar que os bens de capital são os que representam a parcela mais importante da formação bruta de capital fixo. Além do recuo na produção, observa-se que houve também um recuo nas importações desse tipo de bens, correspondente a 5,7% em abril, com relação ao mesmo período do ano passado. A queda no consumo aparente de meios de produção atesta a paralisação dos investimentos sem os quais a recuperação da economia não se torna possível. Caiu também o consumo brasileiro de energia elétrica, em 2,9%, em abril, comparando-se com igual período do ano passado, influenciado pelo recuo do setor industrial. Ao mesmo tempo, cresceu a confiança da indústria brasileira pelo quarto mês consecutivo, em 8,75% no mês de abril sobre março, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O índice passou para 84,6 pontos nesse mês, com ajuste sazonal, ante 77,8 pontos no anterior.
Os tempos estão difíceis. O superávit primário recuou para 3,29% do PIB, em março.A queda da Selic, a redução do IPI, o financiamento da casa própria, esses mecanismos foram e estão sendo utilizados na tentativa de superar as dificuldades pelas quais passa a economia brasileira. Mas, em que pese esses apoios e alavancas para a recuperação, lamentavelmente, o fraco desempenho da produção industrial, registrada no primeiro trimestre do ano, dá sinais de que a saída da crise ainda vai longe.
Os lucros da Caixa Econômica Federal cairam 48,22% sendo apontada como causa a cobrança de juros menores. Os do Itaú Unibanco também recuaram 27,7% no trimestre, reduzindo-se para R$ 2 bilhões. O Bank of America (BofA), que se tornou acionista do Itaú Unibanco desde 2006, está proibido de vender as ações que detém deste último.
O ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, acredita que o cenário de recuperação não está assegurado e diz que o governo “não pode usar a crise para aumentar desnecessariamente a máquina pública”. Ele afirmou ainda que “ As perspectivas para o PIB deste ano não são boas, pois com a paralisação de investimentos, a economia deve sofrer, entretanto, o varejo pode ser o responsável por amenizar esse efeito”. Quanto à Selic, comentou Guido Mantega, “O crédito está melhorando, não ainda o desejado. Estamos lentamente recuperando o crédito. A taxa de juros está caindo, mas ainda não o necessário. Deverá cair mais pra que o crédito seja alcançado por aqueles que precisam disso”.
Quanto ao IPI, o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Miguel Jorge afirmou que ele não deve sofrer mais reduções a partir de junho.
A lucratividade das empresas vive período de grande vulnerabilidade. A Comgás, Companhia de Gás Natural de São Paulo, anunciou a queda de 20,1%, em seu lucro líquido do primeiro trimestre desse ano na comparação com os mesmos meses de 2008, totalizando R$ 95,8 milhões. O fabricante de filmes flexíveis Vitopel também registrou uma queda de 11% no primeiro trimestre de 2009.
Em Corumbá, a MMX retomou as suas atividades de mineração, mantendo no entanto paralisada a unidade de metálicos que produz ferro-guza.
São Paulo concentrou a criação de empregos formais em março. A Renault, por sua vez, reintegrou 70% do pessoal. Mas os resultados positivos desse mês ainda não foram suficientes para cobrir as perdas de postos no ano. No primeiro trimestre, o estado de São Paulo acumulou um saldo negativo de 4540 vagas.
Enquanto isso tudo acontece, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está atrasado e o Presidente Lula justifica o atraso responsabilizando o que ele chama de “máquina de fiscalização”. Nas suas palavras, “o país passou anos e anos sem fazer investimentos e fomos criando uma poderosa máquina de fiscalização que agora é superior a de produção”.
Para nossa infelicidade, porém, este gigantismo não consegue deter a corrupção generalizada que continua a corroer as entranhas da nação.
Texto escrito por:
Elivan Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
progeb@ccsa.ufpb.br
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