quinta-feira, 21 de maio de 2009

Corte na Taxa Básica de Juros e Queda do Superávit Primário

Semana de 27 de abril a 03 de maio de 2009

Em sua última reunião, realizada na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu reduzir em um ponto percentual a taxa básica de juros da economia, a Selic. Ela foi reduzida para 10,25% ao ano, o menor patamar da história. Com o corte, o juro real (a taxa nominal descontada a inflação) caiu para 5,88% ao ano. Com isto o Brasil perdeu a posição, que ocupou nos últimos anos, de líder mundial dos juros reais. Segundo o ranking elaborado pela consultoria UpTrend, agora é a China que se encontra no topo, com juros reais de 6,6% ao ano, seguida da Hungria que ocupa o segundo lugar, com 6,4% ao ano. O Brasil passou agora para a terceira posição.
Para as próximas cinco reuniões do Copom previstas até dezembro, o mercado espera novos cortes, principalmente diante da previsão de um crescimento negativo da economia para este ano. Grandes bancos como o Bradesco, Itaú, Unibanco, Santander e Banco do Brasil anunciaram que também irão reduzir as suas taxas. Para o governo, a redução de um ponto percentual na Selic permitirá uma economia de R$ 7,07 bilhões, de acordo com estimativa da agência Austin Rating.
E por falar em economia, o superávit primário (economia de recursos feita pelo governo central para o pagamento de juros da dívida), que em março totalizou R$ 6,5 bilhões, foi 38,6% inferior ao obtido no mesmo período do ano passado. Isto representou uma queda de 70,1%, no primeiro trimestre de 2009, comparativamente ao primeiro trimestre de 2008. Nos três primeiros meses do ano o superávit primário somou R$ 9,3 bilhões, bem abaixo dos R$ 31,2 bilhões atingidos em igual período do ano anterior.
A combinação destes dois fatos, corte na taxa de juros e redução do superávit primário, evidenciou a gravidade dos efeitos da crise econômica mundial sobre a economia brasileira. Há anos que a política econômica do governo Lula se mostrava extremamente conservadora, tanto no campo monetário, como no campo fiscal. Sempre houve uma grande relutância em reduzir a taxa de juros, sob a justificativa de “combate à inflação”, e com o objetivo de realizar um enorme esforço fiscal, para pagar os juros da dívida. A desculpa era a manutenção da “credibilidade” do país junto ao sistema financeiro. Somente as grandes proporções da crise atual foram capazes de mudar este quadro.
Esta alteração na situação fiscal do governo reflete a diminuição da arrecadação de tributos, com a redução do crescimento econômico e a isenção fiscal em algumas áreas que o governo pretende estimular, como o setor automotivo. Por outro lado, reflete o crescimento dos gastos, que entre 2008 e 2009 foi de 19,6%, com destaque para as despesas de custeio e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que aumentaram com o crescimento do desemprego.
De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a taxa de desemprego subiu pelo terceiro mês consecutivo. Nas regiões metropolitanas, atingiu 15,1% da população economicamente ativa, em março. Ainda conforme o Dieese foram eliminadas 143 mil vagas de trabalho, entre fevereiro e março. Mais pessoas passaram a engrossar o já numeroso contingente de desempregados, que gira em torno de 3,010 milhões de trabalhadores.


Nível de ocupação nas regiões metropolitanas (*)
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Não é por acaso que postos de trabalho estão sendo eliminados. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a produção industrial caiu para 36 pontos, o pior resultado desde 1999. Na pesquisa da CNI, índices abaixo de 50 sinalizam expectativas negativas dos empresários.


Indústria geral - Brasil(*)
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produção industrial por categoria de uso- Brasil(*)
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Os impactos da crise, portanto, continuam se propagando pela economia, sem data marcada para acabar, e, de tão preocupantes que são, começam a obrigar o governo a tomar medidas que contrariam a política econômica realizada durante os dois mandatos. O presidente Lula está sendo forçado a abandonar tal política a partir do momento em que a as conseqüências da crise para a economia começaram a abalar o seu prestígio e a comprometer suas pretensões políticas futuras.
No cenário internacional a tônica continuou sendo a mesma. Nos Estados Unidos, a economia registrou contração pelo terceiro trimestre consecutivo. Desta vez a redução no Produto Interno Bruto (PIB) foi de 6,1%, segundo dados divulgados pelo Departamento do Comércio. Com a queda de 6,3% no trimestre anterior, a maior economia do mundo teve o pior semestre dos últimos 50 anos. A General Motors (GM), uma das empresas mais afetadas pela crise, informou que vai demitir mais 21 mil funcionários, fechar 13 fábricas e reduzir sua vasta rede de 6,5 mil distribuidoras quase pela metade. Quando terminar de tomar todas as medidas anunciadas, a GM espera ter apenas 38 mil funcionários sindicalizados e 34 fábricas nos Estados Unidos, uma drástica redução em seu tamanho se compararmos a 1970, quando a empresa possuía 395 mil empregados e 150 fábricas. A montadora que já deve um total de US$ 15,4 bilhões ao governo declarou ainda que precisa tomar emprestado US$ 11,6 bilhões a mais.



Produto Interno Bruto - Estados Unidos (*)
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Na Grã-Bretanha, a recessão também se agravou. Nos três primeiros meses do ano, o PIB registrou uma contração de 1,9%, em relação ao trimestre anterior e 4,1%, em relação ao mesmo período do ano passado, conforme informações do instituto de estatísticas britânico. Este também é o terceiro trimestre consecutivo de contração observado no PIB britânico. O resultado é pior do que o esperado pela maioria dos analistas. Já o governo japonês prevê uma contração de 3,3% para a economia até 2010. A expectativa é que a produção industrial do país recue 23,4% e as exportações caiam 27,6%.
Observa-se, assim, que os efeitos da crise continuam atingindo as principais economias do mundo, mas tais efeitos começam a ter maiores repercussões políticas. Isso é particularmente evidente no caso do Brasil, onde o governo Lula vem tentando executar diversas medidas de política econômica bastante divergentes daquelas que ele vinha praticando e que levaram muitos a classificá-lo como mais um governo de direita, limitado a dar continuidade à política econômica conservadora do governo Fernando Henrique Cardoso.

Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
progeb@ccsa.ufpb.br

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