Semana de 27 de abril a 03 de maio de 2009
Em sua última reunião, realizada na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu reduzir em um ponto percentual a taxa básica de juros da economia, a Selic. Ela foi reduzida para 10,25% ao ano, o menor patamar da história. Com o corte, o juro real (a taxa nominal descontada a inflação) caiu para 5,88% ao ano. Com isto o Brasil perdeu a posição, que ocupou nos últimos anos, de líder mundial dos juros reais. Segundo o ranking elaborado pela consultoria UpTrend, agora é a China que se encontra no topo, com juros reais de 6,6% ao ano, seguida da Hungria que ocupa o segundo lugar, com 6,4% ao ano. O Brasil passou agora para a terceira posição.
Para as próximas cinco reuniões do Copom previstas até dezembro, o mercado espera novos cortes, principalmente diante da previsão de um crescimento negativo da economia para este ano. Grandes bancos como o Bradesco, Itaú, Unibanco, Santander e Banco do Brasil anunciaram que também irão reduzir as suas taxas. Para o governo, a redução de um ponto percentual na Selic permitirá uma economia de R$ 7,07 bilhões, de acordo com estimativa da agência Austin Rating.
E por falar em economia, o superávit primário (economia de recursos feita pelo governo central para o pagamento de juros da dívida), que em março totalizou R$ 6,5 bilhões, foi 38,6% inferior ao obtido no mesmo período do ano passado. Isto representou uma queda de 70,1%, no primeiro trimestre de 2009, comparativamente ao primeiro trimestre de 2008. Nos três primeiros meses do ano o superávit primário somou R$ 9,3 bilhões, bem abaixo dos R$ 31,2 bilhões atingidos em igual período do ano anterior.
A combinação destes dois fatos, corte na taxa de juros e redução do superávit primário, evidenciou a gravidade dos efeitos da crise econômica mundial sobre a economia brasileira. Há anos que a política econômica do governo Lula se mostrava extremamente conservadora, tanto no campo monetário, como no campo fiscal. Sempre houve uma grande relutância em reduzir a taxa de juros, sob a justificativa de “combate à inflação”, e com o objetivo de realizar um enorme esforço fiscal, para pagar os juros da dívida. A desculpa era a manutenção da “credibilidade” do país junto ao sistema financeiro. Somente as grandes proporções da crise atual foram capazes de mudar este quadro.
Esta alteração na situação fiscal do governo reflete a diminuição da arrecadação de tributos, com a redução do crescimento econômico e a isenção fiscal em algumas áreas que o governo pretende estimular, como o setor automotivo. Por outro lado, reflete o crescimento dos gastos, que entre 2008 e 2009 foi de 19,6%, com destaque para as despesas de custeio e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que aumentaram com o crescimento do desemprego.
De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a taxa de desemprego subiu pelo terceiro mês consecutivo. Nas regiões metropolitanas, atingiu 15,1% da população economicamente ativa, em março. Ainda conforme o Dieese foram eliminadas 143 mil vagas de trabalho, entre fevereiro e março. Mais pessoas passaram a engrossar o já numeroso contingente de desempregados, que gira em torno de 3,010 milhões de trabalhadores.
Não é por acaso que postos de trabalho estão sendo eliminados. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a produção industrial caiu para 36 pontos, o pior resultado desde 1999. Na pesquisa da CNI, índices abaixo de 50 sinalizam expectativas negativas dos empresários.
Os impactos da crise, portanto, continuam se propagando pela economia, sem data marcada para acabar, e, de tão preocupantes que são, começam a obrigar o governo a tomar medidas que contrariam a política econômica realizada durante os dois mandatos. O presidente Lula está sendo forçado a abandonar tal política a partir do momento em que a as conseqüências da crise para a economia começaram a abalar o seu prestígio e a comprometer suas pretensões políticas futuras.
No cenário internacional a tônica continuou sendo a mesma. Nos Estados Unidos, a economia registrou contração pelo terceiro trimestre consecutivo. Desta vez a redução no Produto Interno Bruto (PIB) foi de 6,1%, segundo dados divulgados pelo Departamento do Comércio. Com a queda de 6,3% no trimestre anterior, a maior economia do mundo teve o pior semestre dos últimos 50 anos. A General Motors (GM), uma das empresas mais afetadas pela crise, informou que vai demitir mais 21 mil funcionários, fechar 13 fábricas e reduzir sua vasta rede de 6,5 mil distribuidoras quase pela metade. Quando terminar de tomar todas as medidas anunciadas, a GM espera ter apenas 38 mil funcionários sindicalizados e 34 fábricas nos Estados Unidos, uma drástica redução em seu tamanho se compararmos a 1970, quando a empresa possuía 395 mil empregados e 150 fábricas. A montadora que já deve um total de US$ 15,4 bilhões ao governo declarou ainda que precisa tomar emprestado US$ 11,6 bilhões a mais.
Na Grã-Bretanha, a recessão também se agravou. Nos três primeiros meses do ano, o PIB registrou uma contração de 1,9%, em relação ao trimestre anterior e 4,1%, em relação ao mesmo período do ano passado, conforme informações do instituto de estatísticas britânico. Este também é o terceiro trimestre consecutivo de contração observado no PIB britânico. O resultado é pior do que o esperado pela maioria dos analistas. Já o governo japonês prevê uma contração de 3,3% para a economia até 2010. A expectativa é que a produção industrial do país recue 23,4% e as exportações caiam 27,6%.
Observa-se, assim, que os efeitos da crise continuam atingindo as principais economias do mundo, mas tais efeitos começam a ter maiores repercussões políticas. Isso é particularmente evidente no caso do Brasil, onde o governo Lula vem tentando executar diversas medidas de política econômica bastante divergentes daquelas que ele vinha praticando e que levaram muitos a classificá-lo como mais um governo de direita, limitado a dar continuidade à política econômica conservadora do governo Fernando Henrique Cardoso.
Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
progeb@ccsa.ufpb.br
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Para as próximas cinco reuniões do Copom previstas até dezembro, o mercado espera novos cortes, principalmente diante da previsão de um crescimento negativo da economia para este ano. Grandes bancos como o Bradesco, Itaú, Unibanco, Santander e Banco do Brasil anunciaram que também irão reduzir as suas taxas. Para o governo, a redução de um ponto percentual na Selic permitirá uma economia de R$ 7,07 bilhões, de acordo com estimativa da agência Austin Rating.
E por falar em economia, o superávit primário (economia de recursos feita pelo governo central para o pagamento de juros da dívida), que em março totalizou R$ 6,5 bilhões, foi 38,6% inferior ao obtido no mesmo período do ano passado. Isto representou uma queda de 70,1%, no primeiro trimestre de 2009, comparativamente ao primeiro trimestre de 2008. Nos três primeiros meses do ano o superávit primário somou R$ 9,3 bilhões, bem abaixo dos R$ 31,2 bilhões atingidos em igual período do ano anterior.
A combinação destes dois fatos, corte na taxa de juros e redução do superávit primário, evidenciou a gravidade dos efeitos da crise econômica mundial sobre a economia brasileira. Há anos que a política econômica do governo Lula se mostrava extremamente conservadora, tanto no campo monetário, como no campo fiscal. Sempre houve uma grande relutância em reduzir a taxa de juros, sob a justificativa de “combate à inflação”, e com o objetivo de realizar um enorme esforço fiscal, para pagar os juros da dívida. A desculpa era a manutenção da “credibilidade” do país junto ao sistema financeiro. Somente as grandes proporções da crise atual foram capazes de mudar este quadro.
Esta alteração na situação fiscal do governo reflete a diminuição da arrecadação de tributos, com a redução do crescimento econômico e a isenção fiscal em algumas áreas que o governo pretende estimular, como o setor automotivo. Por outro lado, reflete o crescimento dos gastos, que entre 2008 e 2009 foi de 19,6%, com destaque para as despesas de custeio e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que aumentaram com o crescimento do desemprego.
De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a taxa de desemprego subiu pelo terceiro mês consecutivo. Nas regiões metropolitanas, atingiu 15,1% da população economicamente ativa, em março. Ainda conforme o Dieese foram eliminadas 143 mil vagas de trabalho, entre fevereiro e março. Mais pessoas passaram a engrossar o já numeroso contingente de desempregados, que gira em torno de 3,010 milhões de trabalhadores.
Nível de ocupação nas regiões metropolitanas (*)
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Não é por acaso que postos de trabalho estão sendo eliminados. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a produção industrial caiu para 36 pontos, o pior resultado desde 1999. Na pesquisa da CNI, índices abaixo de 50 sinalizam expectativas negativas dos empresários.
Indústria geral - Brasil(*)
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produção industrial por categoria de uso- Brasil(*)
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produção industrial por categoria de uso- Brasil(*)
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Os impactos da crise, portanto, continuam se propagando pela economia, sem data marcada para acabar, e, de tão preocupantes que são, começam a obrigar o governo a tomar medidas que contrariam a política econômica realizada durante os dois mandatos. O presidente Lula está sendo forçado a abandonar tal política a partir do momento em que a as conseqüências da crise para a economia começaram a abalar o seu prestígio e a comprometer suas pretensões políticas futuras.
No cenário internacional a tônica continuou sendo a mesma. Nos Estados Unidos, a economia registrou contração pelo terceiro trimestre consecutivo. Desta vez a redução no Produto Interno Bruto (PIB) foi de 6,1%, segundo dados divulgados pelo Departamento do Comércio. Com a queda de 6,3% no trimestre anterior, a maior economia do mundo teve o pior semestre dos últimos 50 anos. A General Motors (GM), uma das empresas mais afetadas pela crise, informou que vai demitir mais 21 mil funcionários, fechar 13 fábricas e reduzir sua vasta rede de 6,5 mil distribuidoras quase pela metade. Quando terminar de tomar todas as medidas anunciadas, a GM espera ter apenas 38 mil funcionários sindicalizados e 34 fábricas nos Estados Unidos, uma drástica redução em seu tamanho se compararmos a 1970, quando a empresa possuía 395 mil empregados e 150 fábricas. A montadora que já deve um total de US$ 15,4 bilhões ao governo declarou ainda que precisa tomar emprestado US$ 11,6 bilhões a mais.
Produto Interno Bruto - Estados Unidos (*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.
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Na Grã-Bretanha, a recessão também se agravou. Nos três primeiros meses do ano, o PIB registrou uma contração de 1,9%, em relação ao trimestre anterior e 4,1%, em relação ao mesmo período do ano passado, conforme informações do instituto de estatísticas britânico. Este também é o terceiro trimestre consecutivo de contração observado no PIB britânico. O resultado é pior do que o esperado pela maioria dos analistas. Já o governo japonês prevê uma contração de 3,3% para a economia até 2010. A expectativa é que a produção industrial do país recue 23,4% e as exportações caiam 27,6%.
Observa-se, assim, que os efeitos da crise continuam atingindo as principais economias do mundo, mas tais efeitos começam a ter maiores repercussões políticas. Isso é particularmente evidente no caso do Brasil, onde o governo Lula vem tentando executar diversas medidas de política econômica bastante divergentes daquelas que ele vinha praticando e que levaram muitos a classificá-lo como mais um governo de direita, limitado a dar continuidade à política econômica conservadora do governo Fernando Henrique Cardoso.
Texto escrito por:
Diego Mendes Lyra: Mestrando em economia, Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB e pesquisador do Progeb – Projeto globalização e crise na economia brasileira
progeb@ccsa.ufpb.br
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