IMPORTANTE: Esta análise não foi disponibiizada no blog, na sua respectiva semana, por motivos técnicos. Pedimos-lhes desculpas e agradecemos a compreensão. Boa leitura.
A queda no PIB se deveu principalmente as contribuições negativas do investimento em capital fixo e no setor residencial, dos gastos do consumidor (queda de 1,2%), do estoque de investimentos e das exportações (queda de 7%). As importações também tiveram queda. Em contrapartida, os gastos do governo federal cresceram 10,9% no mesmo período, muito acima da queda de 4,3% no primeiro trimestre do ano. Os gastos com defesa aumentaram 13,3% e, fora do setor de defesa, o crescimento foi de 6%.
Para o presidente Obama, embora o PIB tenha registrado queda no segundo trimestre, o país “já saiu do precipício”. Ele destacou que a maioria dos economistas concorda que os Estados Unidos ainda estão desacelerando, mas em um ritmo mais lento.
Acompanhando o movimento do PIB norte-americano, o Reino Unido registrou retração de 0,8% no seu PIB no segundo trimestre do ano em relação ao primeiro. Na comparação anualizada, a queda foi de 5,6%, constituindo o pior resultado desde o início da compilação dos dados em 1955 e a quinta retração trimestral, o que representa um duplo golpe para os que esperavam ver a luz no fim do túnel na economia britânica.
E como o “sol nasce para poucos”, os bancos pequenos e médios dos Estados Unidos, voltados para as atividades convencionais de um banco, como por exemplo, concessão de crédito a empresas e indivíduos, amargaram perdas e correm risco de falência em massa. De acordo com dados da agência de seguro-depósito dos Estados Unidos – FDIC – projeta-se a falência de 500 bancos regionais nos Estados Unidos, adicionais aos 57 que já fecharam suas portas este ano. Conforme o Instituto de Finanças Internacionais – IIF – as perdas de bancos norte-americanos e europeus poderão alcançar US$ 683 bilhões em calotes de crédito no próximo ano. O Instituto chama a atenção para a divergência entre dados de empresas e de instituições financeiras, concluindo que os fortes ficaram mais fortes e os fracos mais fracos.
Outro indicador que denota o tamanho da tensão e da gravidade da crise em marcha diz respeito ao atraso no pagamento das dívidas pelas empresas norte-americanas. A taxa de atraso nos pagamentos passou de 2,4%, no ano passado, para 11% neste ano e, segundo a agência de análise de riscos Moody’s, poderá atingir o ponto máximo de 12,8% até o final do ano. O que mais preocupa os economistas, porém, é que a taxa poderá manter-se persistentemente elevada por um bom tempo.
Conforme a analista do CreditSights, Louise Purtle, a fase de dificuldades será prolongada e tenderá a se agravar: “esteja preparado para um período de elevadas taxas de atraso nos pagamentos”. Ela destaca ainda: “veremos picos um atrás do outro”. Acredita-se que, na atual crise, o padrão está sendo distinto do habitual, até mesmo quando comparado com recessões graves. Historicamente, a inadimplência de empresas dispara quando uma recessão começa a ceder. Então volta a níveis mais normais. Mas, desta vez, a recuperação poderá demorar mais. O que ocorre nesta crise é o fato das companhias não estarem promovendo um saneamento substancial em seus balanços patrimoniais e dos níveis atuais de endividamento serem insustentáveis, o que poderá levar, e certamente levará, à estagnação da economia por anos. Segundo a S&P, metade da dívida maturará em cinco anos.
O maior agravante nesta recessão encontra-se na dificuldade das empresas venderem ativos, para quitar dívidas, num ambiente desfavorável para negócios. Além disso, muitas empresas devem mais do que valem seus ativos básicos, situação esta que se assemelha com a dos proprietários de imóveis cujo financiamento remanescente é superior ao valor de mercado de suas casas. Por outro lado, e para completar todas as características típicas de uma crise, grandes bancos e outras empresas financeiras, abalados e impactados pela crise, não têm a vitalidade ou vontade de refinanciar todo esse endividamento.
Como conseqüência, neste ano, 128 companhias deram calote e a S&P acredita que outras 207 empresas estão vulneráveis à crise de inadimplência. Para tentar afastar o risco de calote, as empresas adotam estratégias diversas, dentre as quais: negociam revisões e extensões a fim de dilatar os prazos de pagamento. Outras companhias se utilizam de cláusulas de “sustação de execução”, incorporadas aos seus bônus. Contudo, essas iniciativas só dão alívio temporário, pois as medidas tomadas apenas adiam o inevitável. Em último caso, é a concordata que termina sendo a “solução”.
Mas os problemas não atingem só as empresas. As famílias norte-americanas, também vítimas do processo de socialização dos prejuízos, já perderam quase US$ 14 trilhões na fortuna líquida, e os ativos imobiliários caíram quase 40%.
Todas estas distorções fazem parte do processo natural de socialização das perdas e destruição de riqueza fictícia desencadeado pela crise. O que causa espanto é o Estado usar seus instrumentos para defender a riqueza de um ínfimo grupo de pessoas. Ou pelo menos, isto não deveria ser tratado como uma coisa normal.
Texto escrito por:
Águida Cristina Santos Almeida: Professora do Departamento de Economia e Finanças da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
Email: progeb@ccsa.ufpb.br.
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Semana de 27 de julho a 02 de agosto de 2009
Novamente, assiste-se ao retorno da euforia aos mercados financeiros, como se eles estivessemdefinitivamente descolados da esfera produtiva ou real da economia. Isto é o bastante para que muitos comecem a acreditar que a crise está superada. A explicação para este fenômeno, porém, tem um nome: dinheiro público.
Os governos do mundo inteiro vêm desenfreadamente e descaradamente jogando trilhões de dólares na economia, através das grandes companhias, a fim de salvá-las. Só o Governo norte-americano, desde que a crise se agravou, já gastou mais de US$ 12 trilhões em crédito direto e outras formas de transferência à meia dúzia de “premiados”, que de acordo com a interpretação de Thomas Malthus, na loteria da vida não tiraram um bilhete em branco.
Como se não bastasse a dinheirama concedida aos “donos” do mercado financeiro, o Governo dos Estados Unidos está agindo como “avalista” de um restrito grupo de gigantes, que está captando dinheiro a um custo bem inferior ao do mercado, simplesmente por que, em caso de calote, o governo garantiu o pagamento das dívidas.
Estima-se que, nos próximos três anos, estas empresas pouparão cerca de US$ 24 bilhões em custo de crédito, segundo o jornal Wall Street. Desde o segundo semestre de 2008, as empresas beneficiadas pelo programa de garantias chamado TLGP (Programa de Garantia de Liquidez a Termo) já emitiram US$ 339 bilhões em títulos com os mais variados vencimentos.
Uma análise comparativa do juro pago dentro do programa com o juro do mercado denota otamanho da benesse. Em 25 de novembro, o banco Goldman, um dos beneficiados, emitiu US$ 5 bilhões em títulos garantidos pelo Governo, com vencimento em junho de 2012 e juros de 3,25% ao ano. Neste mesmo dia, a dívida do Goldman a vencer em setembro de 2012 era negociada no mercado aberto com juros de 8,15%. Com base na diferença entre as duas taxas, o banco economizará cerca de US$ 754 milhões até o vencimento dos papéis garantidos. No total, o Goldman deve embolsar US$ 2,33 bilhões com a diferença entre juros pagos e juros recebidos, graças às garantias do governo.
No JP Morgan, a redução total dos custos de financiamento provavelmente ficará na casa dos US$ 3,1 bilhões ou US$ 246 milhões por trimestre. Para a GE Capital, que emitiu cerca de US$ 50 bilhões em títulos de médio prazo, sob a garantia do programa, a economia chegará a US$ 3,3 bilhões. O Citigroup economizou quase US$ 600 milhões, só no último trimestre de 2008, com os US$ 44,6 bilhões em títulos de médio prazo emitidos com a garantia do Governo.
Segundo Daniel Alperto, diretor-gerente do banco de investimentos Westwood Capital LLC, “não dá para ignorar o TLGP quando você analisa os resultados dos bancos (...) ele reduziu o custo definanciamento deles e garantiu que o mercado contasse exatamente com a liquidez de que necessitava”.
A concessão de garantia e liquidez por parte do Governo a um grupo restrito de companhias está resultando em novo fôlego para os mercados financeiros, que, à margem dos resultados da economia real (queda na produção, vendas, comércio exterior, aumento exorbitante no desemprego, etc.), vem comemorando resultados positivos, com a retomada do jogo da especulação nas commodities e bolsas de países subdesenvolvidos.
Apesar da euforia, no segundo trimestre, o PIB norte-americano continuou a registrar queda. Aretração foi de 1%, bem menor que a verificada no primeiro trimestre, quando o PIB se retraiu 6,4%. Mesmo sendo menor, o resultado negativo foi suficiente para marcar o período de recessão mais longo nos Estados Unidos desde que as informações começaram a ser contabilizadas pelo Governo em 1947. De acordo com o jornal Financial Times, é a primeira, vez, em 62 anos, que a economia norte-americana registra quatro trimestres de retração consecutivos.
Os governos do mundo inteiro vêm desenfreadamente e descaradamente jogando trilhões de dólares na economia, através das grandes companhias, a fim de salvá-las. Só o Governo norte-americano, desde que a crise se agravou, já gastou mais de US$ 12 trilhões em crédito direto e outras formas de transferência à meia dúzia de “premiados”, que de acordo com a interpretação de Thomas Malthus, na loteria da vida não tiraram um bilhete em branco.
Como se não bastasse a dinheirama concedida aos “donos” do mercado financeiro, o Governo dos Estados Unidos está agindo como “avalista” de um restrito grupo de gigantes, que está captando dinheiro a um custo bem inferior ao do mercado, simplesmente por que, em caso de calote, o governo garantiu o pagamento das dívidas.
Estima-se que, nos próximos três anos, estas empresas pouparão cerca de US$ 24 bilhões em custo de crédito, segundo o jornal Wall Street. Desde o segundo semestre de 2008, as empresas beneficiadas pelo programa de garantias chamado TLGP (Programa de Garantia de Liquidez a Termo) já emitiram US$ 339 bilhões em títulos com os mais variados vencimentos.
Uma análise comparativa do juro pago dentro do programa com o juro do mercado denota otamanho da benesse. Em 25 de novembro, o banco Goldman, um dos beneficiados, emitiu US$ 5 bilhões em títulos garantidos pelo Governo, com vencimento em junho de 2012 e juros de 3,25% ao ano. Neste mesmo dia, a dívida do Goldman a vencer em setembro de 2012 era negociada no mercado aberto com juros de 8,15%. Com base na diferença entre as duas taxas, o banco economizará cerca de US$ 754 milhões até o vencimento dos papéis garantidos. No total, o Goldman deve embolsar US$ 2,33 bilhões com a diferença entre juros pagos e juros recebidos, graças às garantias do governo.
No JP Morgan, a redução total dos custos de financiamento provavelmente ficará na casa dos US$ 3,1 bilhões ou US$ 246 milhões por trimestre. Para a GE Capital, que emitiu cerca de US$ 50 bilhões em títulos de médio prazo, sob a garantia do programa, a economia chegará a US$ 3,3 bilhões. O Citigroup economizou quase US$ 600 milhões, só no último trimestre de 2008, com os US$ 44,6 bilhões em títulos de médio prazo emitidos com a garantia do Governo.
Segundo Daniel Alperto, diretor-gerente do banco de investimentos Westwood Capital LLC, “não dá para ignorar o TLGP quando você analisa os resultados dos bancos (...) ele reduziu o custo definanciamento deles e garantiu que o mercado contasse exatamente com a liquidez de que necessitava”.
A concessão de garantia e liquidez por parte do Governo a um grupo restrito de companhias está resultando em novo fôlego para os mercados financeiros, que, à margem dos resultados da economia real (queda na produção, vendas, comércio exterior, aumento exorbitante no desemprego, etc.), vem comemorando resultados positivos, com a retomada do jogo da especulação nas commodities e bolsas de países subdesenvolvidos.
Apesar da euforia, no segundo trimestre, o PIB norte-americano continuou a registrar queda. Aretração foi de 1%, bem menor que a verificada no primeiro trimestre, quando o PIB se retraiu 6,4%. Mesmo sendo menor, o resultado negativo foi suficiente para marcar o período de recessão mais longo nos Estados Unidos desde que as informações começaram a ser contabilizadas pelo Governo em 1947. De acordo com o jornal Financial Times, é a primeira, vez, em 62 anos, que a economia norte-americana registra quatro trimestres de retração consecutivos.
Taxas trimestrais de crescimento do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos - 1º trimestre de 2007 ao 2º trimestre de 2009(*)
* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.
Fonte: Dados retirados do http://www.bea.gov/* Para melhor visualização do gráfico clique sobre a imagem.
A queda no PIB se deveu principalmente as contribuições negativas do investimento em capital fixo e no setor residencial, dos gastos do consumidor (queda de 1,2%), do estoque de investimentos e das exportações (queda de 7%). As importações também tiveram queda. Em contrapartida, os gastos do governo federal cresceram 10,9% no mesmo período, muito acima da queda de 4,3% no primeiro trimestre do ano. Os gastos com defesa aumentaram 13,3% e, fora do setor de defesa, o crescimento foi de 6%.
Para o presidente Obama, embora o PIB tenha registrado queda no segundo trimestre, o país “já saiu do precipício”. Ele destacou que a maioria dos economistas concorda que os Estados Unidos ainda estão desacelerando, mas em um ritmo mais lento.
Acompanhando o movimento do PIB norte-americano, o Reino Unido registrou retração de 0,8% no seu PIB no segundo trimestre do ano em relação ao primeiro. Na comparação anualizada, a queda foi de 5,6%, constituindo o pior resultado desde o início da compilação dos dados em 1955 e a quinta retração trimestral, o que representa um duplo golpe para os que esperavam ver a luz no fim do túnel na economia britânica.
E como o “sol nasce para poucos”, os bancos pequenos e médios dos Estados Unidos, voltados para as atividades convencionais de um banco, como por exemplo, concessão de crédito a empresas e indivíduos, amargaram perdas e correm risco de falência em massa. De acordo com dados da agência de seguro-depósito dos Estados Unidos – FDIC – projeta-se a falência de 500 bancos regionais nos Estados Unidos, adicionais aos 57 que já fecharam suas portas este ano. Conforme o Instituto de Finanças Internacionais – IIF – as perdas de bancos norte-americanos e europeus poderão alcançar US$ 683 bilhões em calotes de crédito no próximo ano. O Instituto chama a atenção para a divergência entre dados de empresas e de instituições financeiras, concluindo que os fortes ficaram mais fortes e os fracos mais fracos.
Outro indicador que denota o tamanho da tensão e da gravidade da crise em marcha diz respeito ao atraso no pagamento das dívidas pelas empresas norte-americanas. A taxa de atraso nos pagamentos passou de 2,4%, no ano passado, para 11% neste ano e, segundo a agência de análise de riscos Moody’s, poderá atingir o ponto máximo de 12,8% até o final do ano. O que mais preocupa os economistas, porém, é que a taxa poderá manter-se persistentemente elevada por um bom tempo.
Conforme a analista do CreditSights, Louise Purtle, a fase de dificuldades será prolongada e tenderá a se agravar: “esteja preparado para um período de elevadas taxas de atraso nos pagamentos”. Ela destaca ainda: “veremos picos um atrás do outro”. Acredita-se que, na atual crise, o padrão está sendo distinto do habitual, até mesmo quando comparado com recessões graves. Historicamente, a inadimplência de empresas dispara quando uma recessão começa a ceder. Então volta a níveis mais normais. Mas, desta vez, a recuperação poderá demorar mais. O que ocorre nesta crise é o fato das companhias não estarem promovendo um saneamento substancial em seus balanços patrimoniais e dos níveis atuais de endividamento serem insustentáveis, o que poderá levar, e certamente levará, à estagnação da economia por anos. Segundo a S&P, metade da dívida maturará em cinco anos.
O maior agravante nesta recessão encontra-se na dificuldade das empresas venderem ativos, para quitar dívidas, num ambiente desfavorável para negócios. Além disso, muitas empresas devem mais do que valem seus ativos básicos, situação esta que se assemelha com a dos proprietários de imóveis cujo financiamento remanescente é superior ao valor de mercado de suas casas. Por outro lado, e para completar todas as características típicas de uma crise, grandes bancos e outras empresas financeiras, abalados e impactados pela crise, não têm a vitalidade ou vontade de refinanciar todo esse endividamento.
Como conseqüência, neste ano, 128 companhias deram calote e a S&P acredita que outras 207 empresas estão vulneráveis à crise de inadimplência. Para tentar afastar o risco de calote, as empresas adotam estratégias diversas, dentre as quais: negociam revisões e extensões a fim de dilatar os prazos de pagamento. Outras companhias se utilizam de cláusulas de “sustação de execução”, incorporadas aos seus bônus. Contudo, essas iniciativas só dão alívio temporário, pois as medidas tomadas apenas adiam o inevitável. Em último caso, é a concordata que termina sendo a “solução”.
Mas os problemas não atingem só as empresas. As famílias norte-americanas, também vítimas do processo de socialização dos prejuízos, já perderam quase US$ 14 trilhões na fortuna líquida, e os ativos imobiliários caíram quase 40%.
Todas estas distorções fazem parte do processo natural de socialização das perdas e destruição de riqueza fictícia desencadeado pela crise. O que causa espanto é o Estado usar seus instrumentos para defender a riqueza de um ínfimo grupo de pessoas. Ou pelo menos, isto não deveria ser tratado como uma coisa normal.
Texto escrito por:
Águida Cristina Santos Almeida: Professora do Departamento de Economia e Finanças da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG e integrante do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
Email: progeb@ccsa.ufpb.br.
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