Semana de 14 a 20 de junho de 2010
A tensão na União Européia (EU) continua a aumentar. Pressionados pelos enormes déficits públicos, os governos propõem medidas de restrição aos gastos e redução das garantias sociais e trabalhistas: diminuição do número de empregados e dos salários, elevação da idade para as aposentadorias, redução dos gastos com saúde e educação, etc. Aqui e ali, surge uma tímida proposta para taxar os ricos, como na França, ou cobrar impostos dos bancos, como no Reino Unido, onde o montante obtido dos bancos americanos ronda os US$ 2 bilhões, no segundo trimestre do ano.
Ao nível das empresas privadas a situação não é diferente. O desemprego continua generalizado, as empresas demitem e intensificam os ritmos de trabalho. No famoso Vale do Silício, nos EUA, por exemplo, as empresas cortaram 90 mil empregos, durante a crise, mas o lucro por trabalhador aumentou. Os trabalhadores tiveram de trabalhar “mais e melhor”. Segundo Tracey Grose, vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento da empresa de consultoria Collaborative Economics, da Califórnia, “É possível colocar as pessoas para trabalhar mais duro por um período prolongado, mas a questão é: Será que isso é sustentável?” No entanto, as notícias dos jornais e agências continuam a chamar de aumento de produtividade a este aumento da intensidade do trabalho.
No que se refere aos benefícios concedidos para superar a crise, a coisa é diferente. As grandes empresas e em particular os bancos e financeiras são os maiores privilegiados. Isto é reconhecido por organizações como a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Conferência das Nações Unidas para o Comercio e o Desenvolvimento (UNCTAD) em relatórios preparados para a reunião do G-20, que será realizada no final deste mês, em Toronto (Canadá). Estas organizações estimam em US$ 1 trilhão o volume de ajudas concedidas como capital, empréstimos e garantias, a maior parte dos quais corresponde ao programa americano de ajuda aos bancos. Estimam-se em 20.000 o número de empresas financeiras e bancos beneficiados.
Como em toda situação de crise, onde impera a aversão ao risco, estes recursos não se dirigem para o setor produtivo, retornam ao setor financeiro em busca de novas atividades especulativas. Desta vez foram os títulos públicos que se tornaram a melhor alternativa. Segundo as estimativas do Banco de Compensações Internacionais (BIS), dois terços dos compromissos dos países mais endividados da União Européia (UE), Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, estão nas mãos de bancos sediados na zona do Euro, particularmente Alemanha e França. A conseqüência é o crescimento do estresse no setor financeiro diante da incerteza da qualidade dos ativos que podem estar comprometidos com hipotecas tóxicas e títulos podres de dívidas soberanas impagáveis. Não é outra a razão da negativa dos políticos europeus de divulgarem os testes de estresse que têm sido realizados em seus países, apesar de toda a pressão do Banco Central Europeu (BCE).
A situação na Europa tem repercussões na Ásia. De acordo com o Banco DBS de Singapura, a Ásia precisa da Europa como cliente, pois é para lá que se dirigem 13% das exportações das 10 maiores economias asiáticas. Os EUA absorvem outros 11% destas exportações. Os cortes nos orçamentos e nas despesas dos países europeus podem ter conseqüências desastrosas para os asiáticos. Segundo o Banco da Coréia do Sul já há sinais que “os problemas da zona do euro estão se espalhando para a economia mundial”.
Nos EUA, a situação também não é satisfatória. Os analistas já revisam as suas estimativas de crescimento, no segundo semestre, de 3%, para 2,5%. Mesmo o gigante chinês, através do Comitê de Regulação Bancária da China (CRBC), alerta para a possibilidade de explosão de uma bolha imobiliária nos moldes da ocorrida nos EUA. A situação complica-se ainda mais diante da forte agitação sindical e operária que tem se desenvolvido com paralisações e greves por aumento de salários e que afetam empresas como a Mercedes-Benz, a Honda Motor Co, a Honda Lock, a Empresa Brasileira de Aeronáutica SA, a Compal Electronics Inc., etc. todas instaladas no país.A situação interna do Brasil contrasta com este quadro adverso internacional. O temor de contágio existe e não é por outro motivo que a equipe do Ministro Guido Mantega insiste em manter os estímulos à produção adotados e os juros em níveis baixos.
Texto escrito por:
Nelson Rosas Ribeiro: Professor do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
Email: progeb@ccsa.ufpb.br
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