domingo, 13 de junho de 2010

Ameaça de recessão ronda a economia européia


Semana de 31 de maio a 6 de junho de 2010

No fim de 2007, falávamos que uma "Ameaça de recessão ronda a economia americana", dada a turbulência no mercado imobiliário. Atualmente não é só a economia americana que tem um fantasma à sua volta. Agora é a Europa que está no centro das atenções. Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (PIIGS) já foram condenadas pelo déficit dos seus governos. Agora países como Reino Unido e França acendem o alerta e iniciam programas de contenção do orçamento.
Não bastassem os porcos (PIGS) agora surge a Hungria como mais um país à beira da falência. O governo que assumiu o poder recentemente afirma que o anterior manipulou as contas públicas, tal como aconteceu na Grécia. Segundo a informação de um porta voz húngaro, "não é exagero afirmar que o país está à beira da falência". Isto causou grande preocupação entre os "investidores", levando as principais bolsas do mundo ao vermelho.
Esta opinião é compartilhada pelo economista Nouriel Roubini, o profeta da crise, que não está convencido de que a Europa esteja perto de melhorar. Pelo contrário. Seu temor é de que haja um novo mergulho na economia do continente. E não é só isso. Os EUA podem não ver sua recuperação deslanchar, dadas as proporções que toma o déficit do seu governo (cerca de US$ 1 trilhão por ano). O Japão segue o mesmo caminho, deficitário. Roubini afirma ainda que, somado a isso está a falta de empenho de alguns governos no que tange a regulamentação do sistema financeiro.
Quanto a este sistema, o Banco Central Europeu (BCE) divulgou uma estimativa de perda de aproximadamente US$ 237 bilhões para o bancos da Europa, em créditos podres. Desde 2007 as perdas chegam a US$ 1,7 trilhões. As intervenções na economia trouxeram déficits cada vez maiores, aos países europeus. A Grécia, por exemplo, apresenta um déficit orçamentário de 13,6% do PIB, só atrás da Islândia, com 14,3%. Com isso as dívidas, e a incapacidade de saldá-las, cresceram gradativamente. A expectativa é de que os bancos tenham, em 2010, um prejuízo maior do que o registrado em 2009.
A situação da Grécia é um exemplo do estado dramático. Os gregos têm em dívidas € 273,4 bilhões, o equivalente a 115,1% do PIB. O problema que se apresenta é o seguinte: como o país vai saldar suas dívidas? Através de empréstimos? Quem vai emprestar à Grécia neste momento? Por isso se diz que a moratória grega é cada vez mais inevitável. Uma das poucas instituições dispostas a enfrentar esse dilema é o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas, como nós brasileiros sabemos, esta instituição exige uma série de medidas que garantam o posterior pagamento do empréstimo, dentre as quais a elevação dos impostos e redução dos salários dos funcionários públicos.
Daí vem a insatisfação dos trabalhadores gregos, que se manifestam contra as medidas pois boa parte do dinheiro advindo do endividamento foi destinado ao salvamento de instituições que sofreram com a crise, mas quem vai pagar, no final das contas, é a classe trabalhadora. Além disso, o governo grego decretou um corte de 25% nos preços dos medicamentos comprados pelos setor público. Isso causou descontentamento por parte dos laboratórios, que começaram a recolher alguns produtos.
Isto é, com maior ou menor intensidade, o que está acontecendo na Europa e que serve para diminuir a confiança na economia da Zona do Euro. Em maio o índice que mede esta confiança ficou em 98,4 pontos, enquanto em abril estava em 100,6 pontos.
Dados os temores com as dívidas públicas, os governos deverão tomar (e estão tomando) medidas de austeridade fiscal. O corte nos gastos já está afetando o consumo na Europa e nos EUA. O consumo privado, que até agora não teve fôlego para sair do fundo do poço sozinho, está se reduzindo na medida em que os benefícios concedidos diminuem. Alemanha, EUA, Brasil, Grécia, Hungria e Letônia enfrentam este problema. Já no Reino Unido, a principal associação de indústrias do país afirma que 48% dos estabelecimentos varejistas registraram queda nas vendas. Isto revela um problema, pois 65% do PIB do país é composto pelo consumo.
Estes fatos mostram como a economia ainda não superou a necessidade de intervenção dos governos. Mas com tais déficits, como a economia agora será ajudada? Na verdade os fatos mostram que a crise não cumpriu o seu papel saneador e uma crise complementar vai se tornando cada vez mais necessária.

Texto escrito por:

Lucas Milanez de Lima Almeida: Professor Substituto do Departamento de Economia da UFPB, Mestrando em Economia pelo CME-UFPB e membro do Progeb.
Email: progeb@ccsa.ufpb.br
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