Semana de 07 a 13 de junho de 2010
A semana foi marcada pela divulgação do resultado do PIB no primeiro trimestre e pelo novo aumento da taxa básica de juros (Selic). O tão falado “ritmo chinês de crescimento” foi confirmado. Neste trimestre, o crescimento do PIB brasileiro foi de 2,7% em comparação com o trimestre anterior. Também em relação ao trimestre anterior, a indústria, maior responsável pelo incremento, cresceu 4,2%; a agropecuária, 2,7%; e os serviços, 1,9%. O consumo das famílias aumentou 1,5%, as importações 13,1% e a taxa de investimento em percentagem do PIB foi de 7,4%.
Dentre os países que já divulgaram as contas nacionais trimestrais, só os Estados Unidos apresentaram crescimento maior do que o Brasil (3,2%). O Canadá (1,5%), a Suécia (1,4%), o Japão (1,2%) e Portugal (1%) registraram crescimentos inferiores ao brasileiro.
Diante deste cenário, a indústria projeta para 2010 um crescimento de 8%. A tendência de alta da atividade econômica é confirmada pelo Ministério da Fazenda, que elevou, para 6,5%, sua previsão de crescimento para 2010. Mas, segundo a Fazenda, a tendência é que, nos próximos meses, haja desaceleração da economia. Mesmo assim, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu, por unanimidade, aumentar a taxa de juros, de 9,5%, para 10,25%, “para assegurar a convergência da inflação à trajetória de metas”, segundo eles. Em ano de copa, o Copom continua a esforçar-se para manter o país como forte candidato ao título de campeão mundial de taxas de juros.
A alta da Selic, mais uma vez, desagrada o setor industrial. Segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o aumento dos preços aconteceu devido a ajustes pontuais e sazonais, como mensalidades escolares, passagens de ônibus, produtos in natura e álcool, que não são afetados pelas taxas de juros. Estes aumentos de preços não podem justificar a elevação da Selic.
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) também saiu em defesa do setor, dizendo que a pressão sobre os preços não está vindo da indústria, mas dos alimentos e dos serviços.
Por sua vez, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical fazem coro junto às associações industriais chamando de “insanidade” a decisão do Copom, já que esta medida trará como efeito o arrefecimento do crescimento.
Mas, o objetivo do Copom é exatamente este: travar o crescimento. Embora a crise tenha gerado capacidade ociosa e espaço para crescer, a teoria predominante é a de que a economia brasileira apresenta um limite para o crescimento: é o chamado PIB potencial. O hiato brasileiro (diferença entre o efetivo e o potencial) está cada vez menor, de forma que o “teto” para nós seria um crescimento anual entre 4,5% e 5%. Além disso, o hiato torna-se inflacionário e, para combater a inflação, juros nela!
Resta-nos ter paciência, pois, os adeptos desta teoria argumentam que, com o passar do tempo, a magnitude do PIB potencial tende a aumentar à medida que os investimentos se elevam. Mas, como diria o velho Keynes: “No longo prazo, estaremos todos mortos”.
Até o próprio presidente, que em campanha pregou o “espetáculo do crescimento”, está convencido de que os nossos “fundamentos” ainda não estão sólidos para crescermos sustentavelmente por “muitos anos”.
Por outro lado, a Fiesp chama a atenção para um dado interessante. Os números do PIB apontam para um crescimento dos investimentos, de aproximadamente 26% no acumulado dos últimos quatro trimestres, mostrando que os empresários estão sendo capazes de atender à pressão da demanda. Realmente, os números do primeiro trimestre reforçam este argumento, já que, enquanto o consumo cresceu 1,5%, a formação bruta de capital fixo aumentou 7,4%.
Apesar de desapontar o setor produtivo, o aumento da taxa de juros agradou o setor financeiro. O presidente do Itaú-Unibanco, muito apropriadamente, numa conferência internacional para banqueiros, declarou que a medida além de barrar a aceleração inflacionária, tranqüiliza os investidores em geral.
O fato é que o cenário internacional já não se apresenta tão favorável em virtude da crise européia, e os efeitos contracionistas provocados pela política econômica quando começarem a ser sentidos, poderão acarretar uma queda muito maior do que a esperada na atividade econômica brasileira.
Texto escrito por:
Rosângela Palhano Ramalho: Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
Email: progeb@ccsa.ufpb.br
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