Semana de 24 a 30 de maio de 2010
Os próximos meses serão um importante e potencialmente perigoso período para a economia mundial. A adoção de medidas de austeridade econômica, que incluem redução dos salários dos funcionários públicos e aumento da idade mínima para aposentadoria, fez crescer as tensões sociais na União Européia. Nos Estados Unidos, a morosidade da recuperação econômica obrigou o presidente Barack Obama a formular um novo pacote de estímulo à economia.
A Europa tornou-se o epicentro da nova crise financeira global. Em decisão conjunta, os ministros das finanças da União Européia aprovaram um pacote de socorro de € 750 bilhões, aproximadamente R$ 1,2 trilhão. Deste modo, países como Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda ganham mais tempo para a adoção de medidas que reduzam seus déficits orçamentários. O efeito das primeiras que foram adotadas foi imediato: na Espanha, o pacote do governo prevê cortes de € 15 bilhões no orçamento, o que gerou a irritação dos sindicatos, que preparam uma greve geral para o dia 8 de junho; na Grécia, os sindicatos já patrocinaram cinco greves gerais desde fevereiro; na Irlanda, a adoção de uma série de medidas para diminuir o déficit governamental levou mais de 100 mil pessoas às ruas de Dublin, capital do país. Diante dos fatos, John Monks, secretário geral da Confederação Europeia Sindical, disse que “os cortes que estão sendo aplicados são pró-cíclicos, deflacionários e vão aumentar o desemprego. As conquistas sociais estão sendo minadas à medida que os cortes começam a atingir os salários, as aposentadorias, os gastos públicos e as condições trabalhistas”.
A incerteza que paira sobre a Europa levou os bancos e administradores de recursos dos EUA a diminuírem suas aplicações no continente. Alguns importantes bancos americanos reduziram seus empréstimos de curto prazo para os bancos europeus, que estão cada vez mais temerosos de conceder este tipo de empréstimos a outros bancos. O resultado é que os principais bancos da Europa preferem depositar seus recursos no Banco Central Europeu, BCE, optando por uma aplicação com um retorno menor, mas isenta de riscos, ao invés de emprestar aos concorrentes, o que lhes daria um retorno maior.
Ora, de que adianta injetar dinheiro nos bancos, se estes não emprestam a ninguém? Os governos, além de nacionalizarem a dívida que era do setor privado, através da compra de títulos podres que os bancos detinham, decidem conceder mais dinheiro para um setor que não sabe onde aplicá-lo. Fica claro que unir taxa de juros baixa e maior liquidez não constitui condição suficiente para a recuperação econômica.
A retomada nos Estados Unidos, como dito, também preocupa. A economia, no primeiro trimestre deste ano, cresceu menos do que o esperado. Obteve-se uma taxa anualizada de 3%, no primeiro trimestre, quando os analistas projetavam uma expansão de 3,2%. Julia Coronado, economista do BNP Paribas, em Nova York, afirma que “estamos em um ponto de inflexão muito frágil. A economia ainda enfrenta muito vento contra”. O presidente dos EUA pediu ao Congresso que aprove um novo pacote de estímulo que pode chegar a US$ 200 bilhões. A iniciativa surge no momento em que várias medidas de incentivo tomadas anteriormente começam a expirar. De acordo com Lawrence Summers, assessor econômico de Obama, “a observação de que a economia está novamente crescendo não significa que já saímos de um vale muito profundo”.
No Brasil, já há o temor de que a crise européia afete o país. Segundo Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, a crise européia afetará a economia brasileira principalmente pelo lado das exportações. As exportações para a Europa representam quase um terço do comércio exterior do país. Dessa forma, não surpreende o fato de sobrar crédito para a exportação. Isto porque, mesmo com os bancos brasileiros tendo condições de suprir a lacuna deixada pelos bancos americanos e europeus, os exportadores não têm para quem vender.
A economia mundial parece andar no fio da navalha. Os governos, ao mesmo tempo em que aplicam medidas restritivas para conter o déficit público, provocando uma crescente insatisfação social, inundam os bancos com dinheiro. Estes últimos, contudo, preferem reter seus recursos nos bancos centrais.
Texto escrito por:
Kaio Glauber Vital da Costa: Economista, pesquisador do Progeb-Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira.
Email: progeb@ccsa.ufpb.br
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