sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Boca de forno... forno!

Semana de 11 a 17 de outubro de 2010

O diapasão para a procura do tom que moveas taxas de câmbio em qualquer parte do Planeta continua localizado no Federal Reserve Bank (Fed), que,nesse momento, preocupado em enfrentar a ameaça de deflaçãoque ronda os Estados Unidos há cerca de pelo menos um ano, optou pelo “afrouxamento quantitativo” através da compra de títulos. As dificuldades econômicas levaram a diretoria do banco a despejar centenas de bilhões de dólares nos T-bonds (títulos da dívida americana).

A repercursão na economia global, inicialmente na área financeira, não se fez esperar e, com certeza, alastrar-se-á por todas as outras. É de relembrar o fato de que o Capital Financeiro Internacional tem o comando, quase de forma absoluta, da economia mundial, as vezes sendo atropelado pela implacável imponderabilidade dos agentes econômicos. É relevante destacar aopinião do Diretor Gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, de cujo conteúdo não se pode discordar.Para ele, a coordenação de políticas econômicas dos governos perdeu ímpeto, e a busca de soluções domésticas para um problema que é globalapenas criará dificuldades ao retorno da economia mundial a um equilíbrio, ou seja,a saída da crise ou recuperação.

A batuta do FMI ordena que as famílias americanas e da Europa gastem menos, enquanto as famílias dos emergentes, particularmente da China, devem ampliar o seu consumo. Essas mudanças sãoum dos fatores relevantes para a materializaçãodo objetivo: a alteração relativa dos valores das moedas. Chegamos ao ponto central do problema que se quer aqui abordar:a manipulação da taxa de câmbio.

Como no jogo Boca de Forno, o trabalho de casa vem sendo feito direitinho pelo conjunto dos emergentes. O caso do Brasil tem sido exemplar e o daChina rebelde vem furando o esquema do jogo e, porisso mesmo, tem criado uma situação muito desfavorável àquele país na chamada guerra cambial.Há quem prognostique que o colosso chinês vai ficar em breve com “a corda no pescoço”.

Voltando ao Brasil, sendo a taxa de juro superior ao resto do mundo, apesar da fraca taxa de conversibilidade, o real internacionaliza-se evaloriza-se,observando-se uma maior rentabilidade nas operações de “bid-ask”, diferença existente no mercado entre o ask (melhor oferta) e o bid (melhor compra),através da prática do “carry trade”(compra de moeda com juros baixos e troca por moedas com juros altos).As únicas incertezas decorrem das possíveis mudanças da taxa de câmbio.

A taxa de câmbio torna-se assim a variável econômica mais estratégica para o crescimento econômico. Com isso, o Presidente do Banco Central (BACEN), esquecendo que “câmbio flutuante é para flutuar”,muda a tônicae passa a uma política mais agressiva, ao verificar que os ajustamentos no mercado cambial não se dão de forma imediata.A valorização do realestá a causar danos irreparáveis ao setor exportador da economia, ampliando os deficits em conta corrente e preparando a eclosão de uma crise cambial aguda. Paulo Francini, Diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), acredita que a forte valorização do câmbio vai provocar uma “ressaca” na indústria, através de muitos canais, liderados pelo canal da importação.

Na realidade, a desvalorização da moeda americana é boa para os americanos, para o capital financeiro internacional, para os importadores, para os grandes especuladores, mas não parece assim tão boa para a saúde da “economia tupiniquim”. O que fazer sem romper com os cânones da cartilha do FMI? Meirelles mantém a coerência e o respeitoàs regras do jogo, através da expansão fiscal e do acúmulo de reservas, ambos alvos de criticas na última reunião do FMI.

Deduz-se que continuamos no jogode onde nunca saimos, desde os tempos idos e sofridos, do qual o Governo Colorpode ser considerado um marco,e,juntamente com o resto do mundo, obedientes, repetimos:“faremos tudo que o mestre mandar”. Será que não poderemos tentar sair da brincadeira e aspirarpor moderninhos jogos, sem mestres, onde todos os parceiros interagem com relativa independência?


Texto escrito por:
Elivan Gonçalves Rosas Ribeiro: Professora do Departamento de Economia da UFPB e Pesquisadora do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. Email: progeb@ccsa.ufpb.br.
Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog