quinta-feira, 14 de abril de 2011

Os consumidores pagam pelo estouro da meta

Semana de 04 a 10 de abril de 2011

Após finalmente jogarem a toalha e assumirem ser impossível cumprir a meta inflacionária para este ano, as autoridades monetárias brasileiras continuam na luta, mas agora para impedir que a inflação ultrapasse o teto, estipulado em 6,5%.

Para tanto, o alvo do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, são os contribuintes. Na última quinta-feira, foi assinado o aumento do Imposto sobre Operação Financeira (IOF) para o crédito a pessoas físicas, passando de 1,5% para 3%. Esta nova medida macroprudencial tem por objetivo desacelerar a forte onda de crescimento da oferta de crédito, hoje na casa dos 20%, para patamares mais “adequados”, na concepção do governo, que não ultrapassem 15%. No mesmo dia, o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, confessou que esta medida já afeta a carteira de pessoa física, mas “bateu o pé” ao afirmar que a instituição não pretende alterar a previsão de crescimento da carteira total de crédito para este ano, situada entre 17% e 20%, pois a expansão dos empréstimos para investimento deve compensar o impacto no crédito à pessoa física.

O Banco do Brasil tem motivos para acreditar nisso, já que as estimativas para os projetos de investimentos subiram, de R$60 bilhões, no começo do ano, para R$85 bilhões. Vale lembrar que grande parte desses investimentos, principalmente em infra-estrutura, é motivada pela Copa de 2014, pelas Olimpíadas de 2016, pelas obras do PAC e da exploração do pré-sal e dificilmente será desestimulada por medidas macroeconômicas.

Para alguns analistas, como o sócio da consultoria Global Financial Advisor Miguel Daoud, as últimas decisões das autoridades monetárias demonstram desespero ao observarem que a alta dos preços já está disseminada por todos os setores da economia. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) preocupa cada vez mais. No mês de março, ele atingiu novamente patamares elevados, fechando com alta de 0,79%, acima das expectativas do mercado e do governo, e acumulando 6,3% nos últimos doze meses, segundo o IBGE. Este índice reflete a contínua aceleração dos preços dos alimentos, das passagens aéreas, além dos vestuários. Esta estatística torna-se mais alarmante quando se observa a possibilidade, cada vez mais real, do IPCA romper o teto da meta da inflação (6,5%) ainda este mês. José Francisco Lima Gonçalves, economista chefe do Banco Fator, demonstrou sua insatisfação ao afirmar que: “O IPCA de março veio bastante ruim, você procura uma notícia boa, mas não acha!”.

O Índice de Preços ao Produtor (IPP), que mostra a variação dos preços na ‘porta da fábrica’ de 23 setores da indústria de transformação, apresentou elevação de 0,6% em fevereiro, acumulando variação de 1% no primeiro bimestre e de 6,21% em doze meses. O resultado é reflexo do impacto do aumento do preço do petróleo sobre os setores químico e de algodão, repercutindo nos segmentos têxteis e de vestuário.

De fato, a sociedade está longe de ficar livre dos efeitos dos elevados preços das commodities. A alta dos preços do plástico e do aço, por exemplo, está afetando a indústria de linha branca, já que eles representam cerca de 35% dos seus custos de produção. A situação se agrava com a redução das vendas após o fim da isenção do IPI. O caminho encontrado pelas indústrias deste segmento, que hoje são poucas após o processo de fusões e aquisições, é repassar este prejuízo para o consumidor. “Esta conta tem de ser repassada alguma hora. Estamos estudando o quanto será repassado” afirma um alto executivo de uma das maiores fabricantes do país.

Não serão apenas a restrição de crédito e o aumento dos preços da linha branca que afetarão o cotidiano dos consumidores, mas também o aumento da gasolina. A elevação do preço do álcool, que ficou 11% mais caro em março, em comparação com fevereiro, foi sentida pela Petrobras. Isto, aliado ao aumento do petróleo, levou José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras, a prenunciar a alta da gasolina.

Diante deste cenário nada promissor, principalmente para os consumidores, não se pode esquecer o endereço para mandar a conta com os prejuízos. O destinatário é o Sr. Guido Mantega, o ministro mais influente do Palácio do Planalto.

Texto escrito por:
Tatiana Losano de Abreu:
Economista, Professora substituta do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
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