Finalmente a autoridade monetária brasileira assumiu: será impossível cumprir a meta inflacionária de 4,5% este ano. A comunicação veio com um ajuste da projeção do IPCA de 4,8% para 5,6%, adiando, para 2012, a busca pela convergência para o centro da meta. Segundo o Banco Central (BC), a inflação ficará longe deste número devido aos preços das commodities. Considerando a inflação como sendo causada por um choque de oferta, a instituição resolveu jogar a toalha, porque o combate intenso a este choque poderia levar a economia brasileira à recessão. Desaceleração da atividade econômica sim, mas recessão não, como diz a presidente Dilma.
Há algumas semanas, a imagem do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, vinha se deteriorando. Como em seus discursos continuasse afirmando o seu compromisso com a estabilidade dos preços, as projeções para os juros de longo prazo não pararam de crescer. A aplicação das benditas medidas macroprudenciais (e a intensificação delas, se necessário) somada à afirmação de que o ciclo de alta da taxa de juros poderia cessar a partir de abril, aumentou os burburinhos sobre a falta de credibilidade do Banco Central. O mercado financeiro continua apreensivo, pois não consegue prognosticar as atitudes da autoridade monetária quanto à política de juros e, para piorar, segundo Octávio de Barros, diretor do departamento econômico do Bradesco, há ainda outro agravante: os analistas também não conseguem inserir em seus modelos econométricos variáveis que representem as ações macroprudenciais do Banco Central, a fim de poder calcular os efeitos que elas podem provocar.
E por falar nelas, aparentemente as medidas surtiram efeito nos primeiros meses do ano, em relação à oferta de crédito, mas o Banco do Brasil e a Caixa Econômica já projetam medidas para fazê-la crescer novamente. Para o BB, a alta estará entre 17% e 20% e, para a Caixa, em 30%. Para o Banco Central, no entanto, o ideal é que o crescimento do crédito feche em, no máximo, 15%.
Enquanto isso, as intervenções do Banco Central no mercado cambial continuam. As compras somaram até 25 de março US$ 8,0 bilhões e as nossas reservas não param de crescer. Até 29 de março, chegaram a atingir o montante de US$ 316,05 bilhões. Para tentar conter o endividamento do setor privado, que aumentou US$ 16,4 bilhões em janeiro e fevereiro, o governo resolveu taxar os empréstimos externos de bancos e empresas com uma alíquota de 6% de Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF). Viajar para o exterior também ficou mais caro. Em fevereiro, turistas brasileiros gastaram US$ 1,33 bilhão e, além disso, o governo decidiu aumentar a alíquota do IOF sobre as compras no exterior com cartão de crédito, de 2,38%, para 6,38%.
O controle do governo sobre a entrada de capitais e a acumulação de reservas, segundo Pedro C. Ferreira e Renato F. Cardoso, economistas da Fundação Getúlio Vargas, são instrumentos ineficientes, pois combatem um problema de longo prazo com uma política de curto prazo. A solução só poderia ser encontrada se a investigação descobrisse a real causa da valorização da moeda nacional. Segundo os economistas citados, o processo de valorização vem acontecendo devido a três fatores: o aumento da confiança dos investidores estrangeiros, a valorização das commodities exportadas pelo país e a política monetária expansionista dos países desenvolvidos. Por isto, defendem a tese de que, nestas circunstâncias, o câmbio valorizado veio para ficar. Então, como combater uma situação que perdurará no longo prazo com choques de curto prazo, como a compra de divisas e a imposição de alíquotas maiores do imposto sobre o capital?
Se o diagnóstico da inflação, como uma inflação de demanda, está errado (até a presidenta Dilma pensa assim) e os instrumentos de controle de uma hipotética inflação de demanda mesmo assim continuam a ser utilizados, não é de se surpreender que o Banco Central seja obrigado a continuar insistindo nos instrumentos que tem utilizado para reverter o câmbio, apesar de, a todo o momento, eles se mostrarem ineficazes.
Os fatos têm demonstrado que, por esta via de ação, a “inflação de demanda” não pôde ser domada e sua taxa conduzida para o centro da meta. Em relação a isto, a autoridade monetária jogou a toalha. Quanto tempo ela levará para chegar à mesma conclusão em relação à valorização do câmbio?
Rosângela Palhano Ramalho: Professora de Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB - Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com)
0 comentários:
Postar um comentário